E
tudo passa...
Algumas
vezes, passamos por momentos que parecem insuperáveis, que nos deixam sem chão
e perdidos. Sem rumo na vida.
Ninguém está livre disso. Todo mundo
tem o seu quinhão. E sabe bem do que estou falando.
De repente, os caminhos se fecham e a
escuridão toma conta de tudo, deixando-nos sem opção. E a única e verdadeira
companhia nessas horas é o desespero, a impotência. E só quem está passando por
isso é capaz de avaliar a dor que enche a alma, que parece sufocar.
É um filho querido que partiu, cheio de
vida, carregando todos os sonhos dos pais que o criaram tão forte, tão belo para
ser um vencedor...
É um bebê que, tão pequenino nasceu só
para pelejar contra as adversidades e o céu o arrebatou...
É um pai, que acalentava tantos desejos
para o futuro dos filhos, e pelejou tanto, que o coração não aguentou...
A doce mãe, tão valente, tão generosa,
que sucumbiu.
Se, ao nascermos conhecêssemos o plano
traçado para cada um de nós, talvez nossas ações tivessem um rumo diferente. Se
soubéssemos que o nosso tempo é de apenas tantos anos, talvez fôssemos mais
cuidadosos e não deixássemos escoar os minutos em vão.
Mas, não! A gente tem ânsia de viver e
não se preocupa muito com o depois. É o momento presente que importa, é preciso
usufruir o máximo, curtir o melhor e viver na plenitude...
Entretanto, o tempo passa e os
problemas surgem. Do nada! Inicialmente, são pequenas dores, aborrecimentos
esporádicos, alguns desentendimentos com os familiares, vizinhos e colegas de
trabalho. Mas, como é preciso viver cada dia, a gente vai deixando tudo isso para
resolver depois, para mais tarde repensar. Enquanto isso, a vida dá tantas
voltas e um dia, aquele probleminha volta já transformado em doença incurável,
em relação deteriorada para sempre, em inimizade total. E aí, é tarde demais.
E nessa hora de desespero, de tristeza
máxima a gente pensa que poderia ter sido diferente, se tivesse parado e
analisado os pequenos sinais denunciadores... É tarde demais, porém.
Sei de gente que está com problemas
sérios de saúde, mas não sei por que razão, não procura ajuda de especialistas.
Prioriza o trabalho, o bem estar dos filhos, a aquisição de um carro novo, a
reforma da casa, a tranquilidade do esposo e vai levando. Capengando, sofrendo,
carregando dores e dizendo a si mesma que, um dia vai procurar ajuda. Quando
esse dia chegar será tarde demais. E aí, o bem estar dos filhos vai acabar de
vez, não haverá dinheiro para resolver o problema e, seu marido deixará de estar
tranquilo para ficar desesperado. Talvez, para sempre...
A gente não sabe viver. Não sabe
planejar. Não sabe priorizar o que de
fato é importante. Porque viver é um duro combate, que todos os dias exige
decisões acertadas.
E quando se nos deparam momentos
cruéis, que parecem o fim do mundo, o medo do futuro toma-nos de assalto e nos
deixa perdidos um bocado de tempo. Não há perspectiva de porvir. É um túnel sem
luz, sem saída. Nessa hora nada nos consola.
Qual um tornado que arrasa tudo que
acha pela frente, esses duros momentos também vão destruindo a nossa fé, a
esperança, o desejo de vencer... Tudo que, a gente construiu em termos de essência
humana, parece perdido para sempre.
O tempo, porém passa e acomoda tudo.
Assim como o que foi destruído é reconstruído, o homem vai se recompondo devagarzinho,
colocando um remendo aqui, aplicando uma atadura ali, engolindo a saudade, a
dor da ausência e retoma a vida. É verdade que nada será como antes. A dor será
a companheira inseparável de todas as horas. E a consciência da transitoriedade
das coisas estará sempre presente.
Não tem como fugir desse destino cruel,
porque o homem é apenas humano. Mesmo tendo herdado de Deus o espírito, ele age
como uma formiguinha frágil, carente de sabedoria e pronta para errar, errar e
aprender. E muitas vezes, errar de novo sem aprender nada.
Se visitarmos as campas onde repousam
as almas queridas, veremos tanta gente formosa, poderosa e sábia que teve o
mesmo fim. E todas elas também amargaram um bocado seus problemas e suas dores,
antes de cumprirem o ato final de partir.
O sofrimento parece ser o quinhão de
juros que, Deus reservou para todos que foram abençoados pela ventura de
nascer. Não há como fugir dele. E ninguém está isento dele. Cedo ou tarde, a
dor vem e demora para ir embora.
Mas, tudo passa. Assim, como a alegria rara de
momentos compartilhados com amigos acaba passando, os momentos mais dolorosos
também passam. Muitas vezes deixam-nos tão devastados, sem força para retomar a
vida. Sem vontade até de viver.
Mas, o sol volta a brilhar, a luz
obriga a enxergar em volta, os amigos dão um abraço aqui, um sorriso ali, uma
palavra amiga de fortaleza e pouco a pouco, a dor vai diminuindo. A dor não vai
embora, fica meio camuflada, e volta a latejar quando se está sozinho e as
lembranças buscam o passado. E nesse sofrimento de repassar pelas dores
antigas, parece haver um consolo porque não deixa esquecer. Quem tem saudades é
porque já viveu bons momentos, que não quer esquecer.
A vida é dura?
Sim! Já dizia o poeta Gonçalves Dias na
Canção do Tamoio:
“A vida é combate,
que aos fracos abate,
que aos fortes, aos bravos
Só pode exaltar.”
Então, vamos viver com coragem,
enfrentando as dores de cada dia, sem reclamar, porque todos têm a sua parcela,
é o ônus de ter nascido. E não existe ventura maior que viver.
E assim, como a chuva mansa, como a
tempestade arrasadora, como o manso regato, tudo passa. Passam os momentos
felizes, as alegrias inesperadas, os intermináveis aborrecimentos, os choros,
os gritos, as manifestações de felicidade.
Tudo passa, essa é a inexorável
verdade.
E nós passaremos também.
Então, viver é preciso!
Carpe diem!
Mirandópolis, setembro de 2013.
Kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/