Yes! Nós temos uma
Colecionadora!
Todos nós em alguma fase da vida
adquirimos a mania de colecionador. De selos, de moedas, de cédulas, de livros,
de CDs, de canecas, de tantas outras quinquilharias.
Eu mesma andei
juntando pedras que via faiscando ao sol ou que tinham formatos inusitados. E o
escritor chileno Pablo Neruda também colecionava pedras e conchas do mar. Por
aí se conclui que juntar coisas não é exclusividade de gente comum.
Mas, colecionar
coisas exige espaço para se guardar e tempo para cuidar delas. Money para
comprar peças que faltam ou que se almeja muito. Além disso, requer tempo e
dedicação para zelar pelo acervo, para conservá-lo. E conforme a coleção vai
crescendo é preciso providenciar caixas e armários para guardar... O bom colecionador
vai catalogando cada objeto. Data de sua aquisição, nome do doador ou vendedor,
local onde ocorreu e mais detalhes importantes. Porque muitas vezes, o objeto
se torna valioso pela idade que possui ou pela história que carrega. O objeto
mais valioso quase sempre tem a ver com a raridade; quanto mais raro é mais
valioso, por ser bem cobiçado por outros colecionadores. Outras vezes, o valor
tem a ver com a personalidade famosa a quem pertenceu. Como objetos pessoais de
Marilyn Monroe ou Elvis Presley... Eu mesma tenho uma carta resposta, escrita
de próprio punho pelo Prêmio Nobel de Literatura José Saramago... Preciosidade.
Não é fácil
colecionar coisas. Porque o desejo de possuí-las não tem limite e a pessoa vive
correndo atrás de algo o tempo todo. Nos mais inusitados recantos e até no
estrangeiro. E o estranho de tudo isso é que a pessoa não consegue se desfazer
delas, mesmo sabendo que há peças repetidas. É que cada peça tem uma história
particular, remete àquela pessoa especial que já partiu... Ou foi um achado do
arco da velha...
Geralmente, as
pessoas comuns não dão a mínima às coleções. Consideram como velharias inúteis
e não entendem a paixão que alguns nutrem por elas.
Hoje é mais fácil guardar certas
fotos/relíquias. Basta salvá-las no computador para não perder essas imagens.
Mas, os objetos precisam de espaço para conservar.
Fui entender sobre coleções quando
conheci o trabalho de uma mirandopolense que tem um acervo admirável. Ela já
trocou peças com outros colecionadores famosos e ultimamente, está sendo
convidada para mostrar suas raridades em expôs. Participou em 2012 da Exposição de SESC
Pompeia, na homenagem à arquiteta Lina Bo Bardi, idealizadora de projetos
famosos como do Sesc Pompeia e do prédio do MASP. A nossa colecionadora
participou também da Exposição Mais de Mil Brinquedos para a Criança Brasileira
no SESC Pompeia em 2014; do evento “Sílvio Santos vem aí!” no Museu de Imagem e
Som em 2016, em que o famoso apresentador foi homenageado pelos seus 80 anos. Participou
com bonecas e brinquedos antigos com os temas “Domingo no Parque” e “Boa noite,
Cinderela!” E há pouco, apresentou parte de sua coleção no evento Estação Anime
no prédio da nossa antiga Estação.
E o que mais me chamou a atenção
quando a recebi em casa, é o olhar perscrutador, que sabe avaliar o valor de
cada coisa que vê... Desde um antigo chaveiro, às velhas fotos de imigrantes
japoneses e até aos velhos e caqueados ladrilhos... Espírito de colecionador...
E ela me contou que vai às casas que
estão sendo desmontadas, para recolher coisas muito preciosas que iriam para o
lixo... Uma porta de duas folhas de cedro, um apito de Juiz de Beisebol... A
nós, simples mortais objetos como esses não têm valia... Mas, a história que
carregam é que os valoriza. Porta de cedro que pertenceu a uma casa, que abriu
milhares de vezes para alguém passar, o cedro que hoje é raro, as pessoas que a
manusearam por décadas e décadas, as alegrias e as tristezas que ela conteve no
recinto... O velho apito, que controlou os jogos, marcando as faltas, as
vitórias conquistadas, os choros e as alegrias dos jogadores, a
responsabilidade do juiz, a imparcialidade... as festas, os campos riscados de
cal, as tabelas dos pontos, a alegria da torcida... os comentários...
O colecionador é movido pela beleza, pela
raridade, pelo valor histórico e cultural de cada objeto. Movido pela unicidade
de cada objeto. Conheci em Araxá, Minas, uma senhora que colecionava taças de
cristal. E era muito complicado conservá-las em estantes, prateleiras e
armários de vidro... Possuía milhares de taças de todas as cores, de todos os
tamanhos e formatos. Viajava pelo país de norte a sul em busca de taças raras. Ia
até aos países vizinhos atrás de raridades... Era uma senhorinha solteira e
havia herdado uma fazenda de café, que investiu totalmente na sua coleção.
Gosto é gosto... O maior prazer dela era mostrar a sua coleção e contar
histórias incríveis de algumas peças. A coleção era a sua vida.
Pra encerrar, quero apresentar a
nossa colecionadora.
É a Ana Caldatto, filha de Iracy e Domingos
Caldatto, que moram ali na bela Chácara que possuem. O pai sempre foi um homem
dedicado ao cultivo da terra e à criação de gado. A mãe conhecida como dona
Zica é uma artesã, que descobriu a utilidade das palmas de coqueiro para fazer
cestos e arranjos ornamentais. Ela passa grande parte do tempo ensinando outras
pessoas a fazer artesanato com palhas de milho, palmas, sementes e buchas... Os
dois são os maiores incentivadores da filha colecionadora.
Ana colecionadora possui mais de duas
mil bonecas de todos os tempos e lugares... Coleciona brinquedos de pano, de madeira,
de plástico... Coleciona chaves e cadeados, fotografias antiquíssimas, latinhas
de bolachas, livros infantis, lampiões, objetos que pertenceram aos imigrantes
japoneses, objetos de uso doméstico que não se usam mais, canetas e mais uma
infinidade de coisas incríveis. Visitar o seu acervo é voltar ao passado e
reviver momentos que nunca mais voltarão. O seu sonho maior é organizar um
grande Museu, para que todos possam apreciar suas raridades...
E é essa mesma Ana Caldatto, que
virá contar uma história no Paço Municipal de Mirandópolis com o tema “Era uma
vez...” mostrando a sua coleção de brinquedos antigos.
Mirandópolis, setembro de 2017.
kimie
oku in