quinta-feira, 28 de setembro de 2017

 Yes! Nós temos uma
Colecionadora!
   
Todos nós em alguma fase da vida adquirimos a mania de colecionador. De selos, de moedas, de cédulas, de livros, de CDs, de canecas, de tantas outras quinquilharias.
    Eu mesma andei juntando pedras que via faiscando ao sol ou que tinham formatos inusitados. E o escritor chileno Pablo Neruda também colecionava pedras e conchas do mar. Por aí se conclui que juntar coisas não é exclusividade de gente comum.
      Mas, colecionar coisas exige espaço para se guardar e tempo para cuidar delas. Money para comprar peças que faltam ou que se almeja muito. Além disso, requer tempo e dedicação para zelar pelo acervo, para conservá-lo. E conforme a coleção vai crescendo é preciso providenciar caixas e armários para guardar... O bom colecionador vai catalogando cada objeto. Data de sua aquisição, nome do doador ou vendedor, local onde ocorreu e mais detalhes importantes. Porque muitas vezes, o objeto se torna valioso pela idade que possui ou pela história que carrega. O objeto mais valioso quase sempre tem a ver com a raridade; quanto mais raro é mais valioso, por ser bem cobiçado por outros colecionadores. Outras vezes, o valor tem a ver com a personalidade famosa a quem pertenceu. Como objetos pessoais de Marilyn Monroe ou Elvis Presley... Eu mesma tenho uma carta resposta, escrita de próprio punho pelo Prêmio Nobel de Literatura José Saramago... Preciosidade.
      Não é fácil colecionar coisas. Porque o desejo de possuí-las não tem limite e a pessoa vive correndo atrás de algo o tempo todo. Nos mais inusitados recantos e até no estrangeiro. E o estranho de tudo isso é que a pessoa não consegue se desfazer delas, mesmo sabendo que há peças repetidas. É que cada peça tem uma história particular, remete àquela pessoa especial que já partiu... Ou foi um achado do arco da velha...
      Geralmente, as pessoas comuns não dão a mínima às coleções. Consideram como velharias inúteis e não entendem a paixão que alguns nutrem por elas.
Hoje é mais fácil guardar certas fotos/relíquias. Basta salvá-las no computador para não perder essas imagens. Mas, os objetos precisam de espaço para conservar.
Fui entender sobre coleções quando conheci o trabalho de uma mirandopolense que tem um acervo admirável. Ela já trocou peças com outros colecionadores famosos e ultimamente, está sendo convidada para mostrar suas raridades em expôs.  Participou em 2012 da Exposição de SESC Pompeia, na homenagem à arquiteta Lina Bo Bardi, idealizadora de projetos famosos como do Sesc Pompeia e do prédio do MASP. A nossa colecionadora participou também da Exposição Mais de Mil Brinquedos para a Criança Brasileira no SESC Pompeia em 2014; do evento “Sílvio Santos vem aí!” no Museu de Imagem e Som em 2016, em que o famoso apresentador foi homenageado pelos seus 80 anos. Participou com bonecas e brinquedos antigos com os temas “Domingo no Parque” e “Boa noite, Cinderela!” E há pouco, apresentou parte de sua coleção no evento Estação Anime no prédio da nossa antiga Estação.
E o que mais me chamou a atenção quando a recebi em casa, é o olhar perscrutador, que sabe avaliar o valor de cada coisa que vê... Desde um antigo chaveiro, às velhas fotos de imigrantes japoneses e até aos velhos e caqueados ladrilhos... Espírito de colecionador...
E ela me contou que vai às casas que estão sendo desmontadas, para recolher coisas muito preciosas que iriam para o lixo... Uma porta de duas folhas de cedro, um apito de Juiz de Beisebol... A nós, simples mortais objetos como esses não têm valia... Mas, a história que carregam é que os valoriza. Porta de cedro que pertenceu a uma casa, que abriu milhares de vezes para alguém passar, o cedro que hoje é raro, as pessoas que a manusearam por décadas e décadas, as alegrias e as tristezas que ela conteve no recinto... O velho apito, que controlou os jogos, marcando as faltas, as vitórias conquistadas, os choros e as alegrias dos jogadores, a responsabilidade do juiz, a imparcialidade... as festas, os campos riscados de cal, as tabelas dos pontos, a alegria da torcida... os comentários...
 O colecionador é movido pela beleza, pela raridade, pelo valor histórico e cultural de cada objeto. Movido pela unicidade de cada objeto. Conheci em Araxá, Minas, uma senhora que colecionava taças de cristal. E era muito complicado conservá-las em estantes, prateleiras e armários de vidro... Possuía milhares de taças de todas as cores, de todos os tamanhos e formatos. Viajava pelo país de norte a sul em busca de taças raras. Ia até aos países vizinhos atrás de raridades... Era uma senhorinha solteira e havia herdado uma fazenda de café, que investiu totalmente na sua coleção. Gosto é gosto... O maior prazer dela era mostrar a sua coleção e contar histórias incríveis de algumas peças. A coleção era a sua vida.
Pra encerrar, quero apresentar a nossa colecionadora.
 É a Ana Caldatto, filha de Iracy e Domingos Caldatto, que moram ali na bela Chácara que possuem. O pai sempre foi um homem dedicado ao cultivo da terra e à criação de gado. A mãe conhecida como dona Zica é uma artesã, que descobriu a utilidade das palmas de coqueiro para fazer cestos e arranjos ornamentais. Ela passa grande parte do tempo ensinando outras pessoas a fazer artesanato com palhas de milho, palmas, sementes e buchas... Os dois são os maiores incentivadores da filha colecionadora.
Ana colecionadora possui mais de duas mil bonecas de todos os tempos e lugares... Coleciona brinquedos de pano, de madeira, de plástico... Coleciona chaves e cadeados, fotografias antiquíssimas, latinhas de bolachas, livros infantis, lampiões, objetos que pertenceram aos imigrantes japoneses, objetos de uso doméstico que não se usam mais, canetas e mais uma infinidade de coisas incríveis. Visitar o seu acervo é voltar ao passado e reviver momentos que nunca mais voltarão. O seu sonho maior é organizar um grande Museu, para que todos possam apreciar suas raridades...
E é essa mesma Ana Caldatto, que virá contar uma história no Paço Municipal de Mirandópolis com o tema “Era uma vez...” mostrando a sua coleção de brinquedos antigos.
E isso ocorrerá de 09 a 27 de outubro próximo.
Vamos lá, prestigiá-la?



Mirandópolis, setembro de 2017.
kimie oku in




sexta-feira, 22 de setembro de 2017

      Cada idoso é uma ilha!
               
     Nós pensamos que temos um montão de problemas e que a vida é uma terrível e interminável via sacra. E por outro lado, pensamos que ninguém tem mais problemas maiores que nós...
     Na semana que passou constatei que todos, mas todos nós carregamos cruzes pesadas, que às vezes desejamos arriá-las, para não sofrer mais. Mas a cruz é nossa e não pode ser deixada nos caminhos, para não atrapalhar outros... E cada um tem sua cruz e tem que carregá-la até o fim.
     Descobri que, os filhos não querem cuidar de seus genitores doentes porque “têm problemas demais” e “não têm tempo”. Presenciei a contenda de filhos querendo depositar os pais no Asilo... E os pais querendo morrer para não se submeterem a isso... “Pensei em fazer uma besteira”...
     Também soube de filhos homens que passam o encargo de cuidar dos pais para as filhas mulheres... Ignoram totalmente o que as irmãs passam para cuidar de idosos rabugentos e teimosos... E ficam bravos quando as irmãs os convocam nas horas difíceis... Como se eles não tivessem nascido desses velhos genitores.
     Na cultura oriental (japoneses, chineses, coreanos) o filho mais velho é que tem que assumir os pais na alegria e na dor... Cuidar deles até a morte já é tradição e ninguém contesta. Mas, as mudanças da humanidade também interferiram nesse processo. E grande parte de pais estão sendo depositados em asilos, casas de repouso, ou simplesmente ignorados...
     Antigamente, a relação pais e filhos era uma coisa bonita, respeitosa e cheia de cuidados. Hoje nem tanto. Os filhos têm pressa de realizar seus sonhos e nunca dispõem de tempo para os velhos aposentados, que passam meses e até anos esquecidos... Apenas são lembrados quando eles precisam de eventuais ajudas monetárias... Muito triste isso tudo. Os filhos se transformaram em estranhos para os pais.
     Nos meus tempos de professora, havia em livros didáticos textos sobre netos que defendiam os avós, que seriam descartados... O texto de uma coberta, que o neto quer dividir para guardar um pedaço para seu pai, quando chegar a sua hora... O texto da cuia...
     Hoje, há asilos e asilos. E casas de repouso...
     Numa rápida consulta no face, constatei que meus amigos não se incomodariam em ir para o asilo quando estiverem incapacitados... Disseram que os filhos têm que batalhar por suas vidas e não têm tempo para eles.
     Eu honestamente, não me seduz nem um pouco a ideia de terminar meus dias num ambiente estranho, convivendo com tanta gente abandonada... Pessoas com quem não se tem afinidade, que não sabem de seu passado, que nunca participaram de seus momentos felizes ou tristes...
     Atualmente há as casas de repouso, que nada mais são  que asilos disfarçados... Mesmo essas não me seduzem absolutamente.    O problema maior está nas lembranças que a gente perde ao sair de casa, onde viveu a vida toda, os vizinhos, a paisagem, os passantes e até os pardais que visitam o pedaço. Uma marca na porta, um cantinho da sala, a luz que vem da janela, o vento que bate as portas... E momentos vivenciados com pessoas com quem conviveu nesse recanto... Aquele espaço onde a netinha brincava com seus badulaques... O lugar ao sol, onde o cão de guarda tomava sol... Um momento de ternura daquela velha senhora se referindo ao amado esposo, que não quer deixar sozinho no mundo... A escrivaninha onde uma querida irmã se assentou e olhou o velho álbum de família... A cadeira da varanda onde a saudosa mãe fez tantas peças de crochê... A mesa da cozinha onde dividiu tantas refeições com o parceiro. Em dias ótimos e outros nem tanto, mas sempre juntos.
     Mudar de ambiente é anular anos e anos de imagens e lembranças muito caras que ninguém sabe. Que ninguém vivenciou. Lembranças particularíssimos de cada um. E muito caras.
     Então, os mais jovens dirão: “Mas ficam na memória!”
     Realmente ficam na memória dos mais novos, que têm os neurônios bem ativos. Mas, no fim da jornada, a tendência normal é perder aos poucos a memória, que precisa ser reativada com as imagens, a paisagem, as fotografias, as falas, os reencontros com amigos. E a casa é onde estão concentradas as lembranças mais fortes e vívidas de uma existência toda.
     Forçar um idoso a deixar o seu recanto mais precioso é o mesmo que condená-lo à morte. Por isso não entendo e nem aceito a ideia de obrigá-los a morarem num asilo.
     Asilo para mim é lugar para idosos que não têm nenhum familiar, que possa cuidar deles.
     Hoje percebo que há tantos idosos desventurados, vivendo uma vida de desilusão, de desencanto e abandonados à própria sorte.
     São ilhas isoladas. E esquecidas.
     Eu não quero ser uma.

     Mirandópolis, setembro de 2017.
     kimie oku in


sábado, 16 de setembro de 2017

 A carência mobiliza
         
          Pela própria natureza, nós humanos somos ambiciosos.
         Ambiciosos no sentido de querer mais, de experimentar mais, de ter mais, de ser mais, de alcançar mais... Parece que isso não é muito bom... Mas, se não houvesse ambição, não haveria progresso, não haveria novas descobertas, não haveria evolução.
Como lema da Universidade de Hokkaido, Japão, há a famosa inscrição: “Boys, be ambitious!” que o Professor americano de Química, Botânica e Zoologia, William S. Clark deixou como legado para os jovens discípulos japoneses, que estudaram no Colégio Agrícola de Hokkaido, hoje Universidade. E isso foi em meados de 1876...
O Professor disse para seus alunos que fossem ambiciosos na procura do conhecimento, das descobertas que o mundo da Botânica e da Zoologia podem oferecer. E afirmou que não fossem ambiciosos por money, por bens materiais...
O Japão da Era Meiji era um país isolado, fechado para o mundo e seus governantes se achavam auto suficientes... Mas, um dia descobriram que em relação ao Ocidente estavam muito atrasados. E aí, começaram a importar os conhecimentos de outras partes do mundo para recuperar esse atraso. E foi aí que convidaram o Professor para dar aulas de Botânica e Zoologia em Hokkaido, onde impressionou com seus conhecimentos sobre Culturas Agrícolas e sobre Piscicultura.
Tal foi a importância de sua passagem por Hokkaido, que toda a Ilha do Norte do Japão erigiu dezenas de estátuas do Professor Clark, para que jamais fosse esquecido. E a famosa frase foi inscrita no frontispício da Universidade. E o seu slogan foi adotado por muita gente, que até produziram um animée “Boys, be ambitious/”  ou Jovens, sejam ambiciosos!
Naquela época há mais de duzentos anos, a humanidade era mais comedida, e não dava passos sem medir os riscos. Tudo era mais devagar, com extremo cuidado e o respeito era o ponto fundamental das relações humanas. Era o tempo em que se acreditava num fio de bigode, numa palavra dada, num aperto de mão para firmar grandes negócios. O homem dava o devido valor à sua honra, ao seu crédito.
Mas, duzentos e tantos anos se passaram e as mudanças ocorreram numa velocidade impressionante. E hoje, o avesso do homem foi desnudado sem pudor nenhum. Negociatas, trapaças, emboscadas passaram a ocorrer no dia a dia, como nova ordem dos tempos atuais. E muita gente percebeu que, havia uma camada da sociedade que gostava de levar vantagem em tudo. Tanto é que até uma marca de cigarros lançou descaradamente esse slogan “Gosto de levar vantagem em tudo!” E o atleta que protagonizou isso só foi perceber muitos anos depois, que isso não era correto. Mas, a Lei do Gerson pegou. E todo mundo queria levar vantagem. Furando filas, tomando lugares alheios, abocanhando mais que a quota permitida, se apossando de bens alheios...
E chegamos aos dias atuais, com uma geração de políticos cevados nessa Lei da vantagem. Quanto maior vantagem, mais esperto é você!  E deu no que deu. Com centenas de homens de colarinho branco corrompendo, tirando vantagens, sabotando, comprando regalias, se vendendo e sempre usando as verbas das Instituições Estatais. Quebrando a Petrobrás, o BNDS... Roubando a própria Pátria, no maior descaramento.
E vendo todas essas notícias cada dia mais escabrosas, eu me lembrei de um poeta japonês, que fez um pequenino poema.  Nele, ele diz que para sermos felizes, é preciso sempre faltar alguma coisa. Essa carência é que nos move para agir, pelejar, trabalhar, economizar a fim de conseguir o que nos falta. A carência é motivação para a luta, para a peleja diária. Se nada nos falta, pra quê trabalhar? Pra quê enfrentar o batente? Se nada nos falta, podemos deitar na cama e esperar a morte, porque não haverá nenhuma razão para sair combatendo.
Todos os seres vivos atuam no sentido de prover o lhes falta. Os animais procuram pastagens verdes, os gatos vão atrás de suas presas, as formigas procuram plantas para encher o formigueiro... E nós vamos atrás de roupas e conhecimentos além da comida.
E para se viver bem, basta ter o necessário: umas mudas de roupa para se trocar, uma comida que nos satisfaça, uma casa para nos abrigar... Entretanto, há uma classe de gente que possui demais, que vive insatisfeita porque não tem mais o que desejar. Sem nenhuma motivação para trabalhar. E quer mais e mais. E vivem procurando novas emoções, para preencher o vazio da vida. Porque homem sem trabalho, sem motivação é um perdido na vida.
Quando veicularam nos noticiários que o ex Governador Cabral recebia trezentos mil reais de propinas por mês, fiquei atordoada. Dez mil reais por dia? Meu Deus, onde usar tanto dinheiro? Onde guardá-lo? O que não se pode comprar com tanta grana?
Sinceramente, eu não saberia o que fazer com uma fortuna dessas todo mês... E esse outro político Geddel que guardava uma fortuna de milhões em um apartamento... Tanto o Cabral como o Geddel não possuíram esse dinheiro. O dinheiro os possuiu e os escravizou. Pobres e infelizes, jogaram toda a honra, a dignidade e o respeito que um homem deve possuir, para se tornarem escravos da vil moeda.
E vamos parar de pensar nesses corruptos que todos os dias nos envergonham. Pensemos: cidadãos felizes são os trabalhadores, que levantam de madrugada para dar conta de seu recado e possuem o mínimo necessário. Todos os dias têm motivação para enfrentar filas, dar conta de sua jornada, contar com o pagamento no fim do mês... E acima de tudo, têm sonhos para sonhar!
E reforcemos o foco do famoso slogan do Professor Clark:
“Jovens, sejam ambiciosos! “
Ambicionem saber mais, conhecer mais, entender mais o mundo e a humanidade para serem felizes. Porque ninguém leva vantagem em tudo impunemente.
Um dia, a casa cai!
Não caiu para Geddel Vieira Lima?
Mirandópolis, setembro de 2017.
kimie oku in


domingo, 10 de setembro de 2017

            Malas cheias de grana
      
      Na semana que passou, todos os brasileiros ficaram estarrecidos  com a ousadia do ex Ministro de Integração Social Geddel Vieira  Lima da Bahia, que mantinha um Banco particular num apartamento, com malas e malas de dinheiro. Os lotes eram de cédulas de cem e cinquenta reais.
         O valor total superou os cinquenta milhões de reais!!!
         O homem já estava em prisão domiciliar por atrapalhar as investigações da Lava Jato e, agora voltou para a cadeia de fato, juntamente com outro comparsa que era o Diretor Geral da Defesa Civil de Salvador.
      Inacreditável pensar que um ex Ministro e um Diretor de Defesa Civil estavam compactuados em operações escusas...
Integração Social?  De quem?
Defesa Civil? De quem? É o mesmo que deixar dois cães famintos vigiando um açougue...
         Muita gente ficou pensando: “Ah! Se essas malas fossem minhas!... Quantos problemas seriam solucionados. Quanta coisa boa eu compraria!!!” Uma mala lotada de cédulas de cem reais é uma tentação irresistível. Dá vontade de carregá-la pra casa...
         Mas, e depois?
         Onde guardá-la?
         Esconder em casa?
         Em que lugar da casa ficará bem escondida?
         Será que o parceiro ou a parceira é confiável?
         E as faxineiras, que tudo mexem e remexem?
      Enterrar num buraco? Como um cachorro guarda os ossos que não consegue roer de vez... E depois, desenterra e rói mais um pouquinho, mais um pouquinho... até acabar.  Porque um dia acaba. Mas, o volume é muito grande e precisaria de um bunker... E bunker despertaria suspeitas...
         Então, alguém cede um apartamento...
Quanto esse alguém cobrou?
Nada? Me engana que eu gosto!
E como vou vigiar o tesouro?
Se for todos os dias conferir, vai dar na cara...
E a Federal tá como uma sarna, não larga do pé!
Preciso nomear alguém honesto, confiável...
Honesto, confiável! Quem? Quem?
Mas, ele também quer um naco da carne podre...
Tenho que ceder, não tem jeito.
E aí mando buscar as notas que preciso.
Mas, será que não está me roubando???  Como fazer para controlá-lo?  A quem reclamaria se...
         E ninguém sabe do meu tesouro! Só MEU!
         Eu mereço, fui tanta coisa importante, servi ao meus país e faço jus a essas regalias mais que ninguém... Sou um cidadão muito importante da Bahia. Eu mereço! Mas, ninguém pode saber onde está toda essa grana, porque vão querer tomá-la de mim.
         E com esses pensamentos atormentando o “pobre homem inocente”, dormia mal pensando que na calada da noite o parceiro estaria fazendo um limpa no apartamento...
         E não resiste, e vai lá conferir.  Sorrateiramente, protegido pela madrugada silenciosa, entra no ape. E vê as malas lacradas e pensa: Será que ele não abriu? Será que não levou alguns pacotes? Mas, como conferir? Contar cédula por cédula, mala por mala, caixa por caixa? Meu Deus, que coisa trabalhosa!  Será que alguém me seguiu?
         Escuta um barulho na rua, uma sirene de polícia! Será que descobriram? Vieram atrás de mim? Deus, tomara que não seja! E o honestíssimo e santo homem quase borras as calças. Medo de ser descoberto! E pede a Deus que o proteja! Deus protege bandido?
         E como os rios correm para o mar, como os dias ruins se alternam com os bons, como a Federal não descansa, um dia tudo vem à tona. E deixa todos os brasileiros boquiabertos! A imagem das malas cheias de grana trouxe de volta a imagem de uma cueca derramando notas, em passado recente. E me lembrei que a Dilma queria ensacar ventos... E não dinheiro! Disseram que Lula e seus quarenta ladrões assaltaram Brasília. Apenas 40?
         Imagino a vergonha da família, que deve estar sendo hostilizada em qualquer lugar público que apareça. Inocente ou não. Porque essa infâmia atinge gerações, mesmo que o culpado seja um só. O que é de se duvidar. Pessoas da família devem ter usufruído desse dinheiro roubado da Caixa Federal, sem um tico de remorso...
         É por tudo isso que o Brasil entrou numa rota de assaltos, roubalheiras envergonhando a todos os cidadãos honrados.
         Enquanto os Federais investigam e prendem políticos corruptos, a Polícia Estadual não consegue vencer os assaltantes de Bancos, que se tornaram mais e mais ousados, como se tivessem prazer em desafiar os homens da Lei. É que o vício do roubo se transformou numa profissão, adotada desde o mais pobre e miserável até o mais poderoso da escala social no Brasil. Roubalheira generalizada.
         Mesmo assim, toda essas fortunas roubadas não fazem a felicidade de ninguém. Elas marcam indelevelmente os ladrões, que carregarão o estigma de corruptos, de foras da Lei até a morte.  E a desgraça do pau verde é ter um seco encostado. Vem o fogo, queima o seco e fica o verde chamuscado... Assim, todos os membros das famílias desses bandidos carregarão esse estigma, mesmo que inocentes...
         Então, pra quê sujar uma história de família? Pra quê se apropriar de algo que não nos pertence? Se a única coisa valiosa que levamos desta vida é a dignidade com que a vivemos?
         Money, o maior corruptor do mundo!

         Mirandópolis, setembro de 2017.
kimie oku in