quarta-feira, 21 de agosto de 2019


             Bandido ou reféns?
       A morte do sequestrador do Rio está dividindo opiniões.
       Tem os que se posicionam ao lado do bandido, alegando que a morte era desnecessária, que foi arbitrariedade da Polícia, que a arma dele era de brinquedo, que o Governador comemorou a morte do infeliz...
       Estive vendo os comentários, e não consegui engolir a defesa do bandido. Pode ser vítima do sistema, pode ser um dos milhões de pobres que não tiveram oportunidades na vida, mas... Conheço tanta gente que sofreu  em condições  difíceis para sobreviver, que recebeu merrecas por dedicação exclusiva, que  lutou  contra a penúria, a fome, o frio...  Mas que se tornou cidadão honrado, trabalhador e está prestando serviços indispensáveis à comunidade.  Não vou citar nomes, mas tenho orgulho desses ex alunos que  vieram do Norte com uma mão na frente e outra atrás, passando fome  e pesavam como bebês de três/quatro anos...  Hoje os encontro no Comércio local, dando o melhor de si para a sociedade. Honrados e respeitados.
       Haverá gente me contradizendo, com certeza. Mas vamos analisar a situação.
       Uma vida? Ou vinte e sete?
       Arma de brinquedo? Quem sabia?
Arbitrariedade da Polícia? Naquela situação, a Polícia tem a prioridade de salvar os reféns. Ou alguém acha que a Polícia tem que priorizar o bandido?
     Morte desnecessária?  Um sequestrador está pronto para matar ou morrer. Por conta e risco dele. Quem não quer morrer, não se arrisque e nem coloque outras vidas em risco.
       Governador comemorou?  Salvar dezenas de vidas não merece comemoração?
       Agora vamos pensar no reverso da medalha!
       E se ele tivesse executado os reféns e saído livre?  Você comemoraria? Dirão que a arma era um simulacro. Mas alguém sabia disso?  Arma falsa ou não ele aterrorizou com ela pessoas comuns da sociedade que  tinham um destino, um trabalho, um compromisso. Sabe Deus, os traumas que ele plantou em seus corações... Poderia ser eu, você, seus pais, meus filhos ali no ônibus.
       Não sou a favor de execução de seres humanos e nem de animais, e realmente, se o infeliz tivesse sido preso teria sido um final melhor. Mas, há tantos bandidos que nunca se comovem; e executam tantos inocentes na maior frieza... Em troca de drogas e grana... Que os conduzirá a outras matanças...
       Não tá na hora de todos nós defendermos o lado certo da vida?
       Mirandópolis, agosto de 2019.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/


quarta-feira, 7 de agosto de 2019


Instantes 
(Nadine Stair)

“Se eu pudesse novamente viver a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito,
relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido.

Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvetes e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
e profundamente cada minuto de sua vida;
claro que tive momentos de alegria.
Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente
de ter bons momentos.

Porque se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos;
não percam o agora.
Eu era um daqueles que nunca ia
a parte alguma sem um termômetro,
uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-quedas e,
se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo”

Ah! Se eu tivesse outra oportunidade, faria exatamente isso!
Mirandópolis, agosto de 2019.
kimie oku in
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terça-feira, 6 de agosto de 2019


                   Abandono

       Ontem amanheceu muito gelado e pensei nas crianças mal agasalhadas que vão à escola tiritando de frio.

     Não tive dúvidas! Só iria à Fisioterapia e mataria a aula de Piano.
     Precisava ir a Amandaba, e entregar os coletes de lã que tricotei para as crianças da Creche. Cheguei lá e encontrei a Neuza Bezerra de Amorim e a Nice Brito. Ambas foram alunas minhas lá pelos idos de 70. Sempre encontro ex alunos em Amandaba, e há muito carinho nos abraços, nos reconhecimentos.
      Ao visitar a classe, havia apenas oito alunos presentes. O frio não permitira a presença dos demais. A professora Cássia me informou que dez estavam ausentes... Para ela não se assustar, lhe expliquei que tenho a mania de agasalhar crianças, porque não gosto de ver os pequenos passando frio. E vivo tricotando coletes para aquecer as crianças. Cada ano levo minhas peças para uma Creche. E este ano era a vez de Amandaba.
       Vestimos as crianças e deixei as peças para a professora vestir os ausentes amanhã.
       E como toda vez que vou a Amandaba, gosto de visitar o Grupo Escolar, pedi a Nice Brito que me acompanhasse. Passei pela rua hoje asfaltada, vi o restaurante do Lió, a casa que foi dos Uemura, a casa onde morou o Ninin... Passamos sob a ponte da linha férrea e chegamos à Escola. O bosque está lá, mais ou menos preservado. Fiquei feliz por isso.
       Mas... Ao chegar ao prédio da Escola, que decepção. Tudo quieto e abandonado. Aquele pátio, onde centenas de crianças correram e cresceram... Numa sujeira só. As salas de aulas com os vidros detonados, os forros faltando pedaços... E o chão forrado de sujeira, que não consegui definir se eram excrementos de morcegos ou outros bichos... A única coisa inteira eram as lousas verdes, que no meu tempo eram negras, e onde escrevi tantos textos para os meninos lerem... Meu coração ficou apertado ao ver o estado de todas as dependências. Nenhum ambiente tinha aparência agradável...  A Sala do Diretor, a Sala dos Professores, a Biblioteca, o Refeitório, a despensa, a Cozinha... E os banheiros? Sem pias, que foram roubadas, vasos imundos.  O telhado despencando...  Meu Deus, como foi triste rever a Escola querida numa situação tão deplorável! E pensar que trabalhei por longos 10 anos, e alfabetizei tantos garotos, que se tornaram cidadãos dignos e honrados. Por lá desfilou toda a moçada de Amandaba, e tantos e tantos professores de valor! Tantos Diretores preocupados com o futuro da meninada!

    E hoje todo esse abandono, tudo se deteriorando, apagando as lindas lembranças que aquelas salas guardam. Meu coração ficou pequeno e doeu demais...
       O que aconteceu com a humanidade? Por quê não mais preservam lugares que foram importantes para a formação de uma Comunidade?  Por quê deixaram chegar a esse estado? Não poderiam usar o local para um Clube de lazer para os moradores locais?  Existe até uma quadra, onde se pode jogar futsal, basquete e vôlei. Tudo esquecido, como se Amandaba fosse um lugar despovoado... Não poderiam transformá-lo em uma Unidade Básica de Saúde?  Ou mesmo na Creche, que está em outro local? Não poderia ser um Centro Comunitário????.... Por quê a Prefeitura não assume nada?
       Felizmente, as árvores não foram destruídas. Existem paineiras e jequitibás que já existiam quando lá trabalhei de 1966 a 1976. A natureza tem uma força e uma resistência inabaláveis. Felizmente. Deus é mais poderoso que todos os humanos.
       Meu querido Grupo Escolar de Amandaba está condenado.
       Está morrendo...
Graças à displicência dos homens...
Mirandópolis, agosto de 2019.
kimie oku in


       

      

quinta-feira, 1 de agosto de 2019



     Home Care
       Um grande benefício que os pacientes conseguiram recentemente  é sem dúvida o atendimento hospitalar em casa.
       Inicialmente, os doentes em convalescença  é que recebiam esse tratamento,  para evitar as infecções hospitalares. Em casa, além dos cuidados da família,  podiam contar com a presença periódica de médicos especialistas e com enfermeiros  cuidadores.
       E a moda pegou. Doentes sem previsão de cura  ou alta hospitalar também começaram a receber tal tratamento. Os Convênios Médicos  particulares financiavam esses serviços. Mas, daí os demais pacientes passaram a reivindicar  tal assistência.   Hospitais superlotados  abriram caminho para isso. 
       Os pacientes do IAMSPE (Instituto de Assistência Médica ao Servidor do Estado) também foram beneficiados. Ora doente é doente não  importa seu nível social.  E os pacientes do SUS (Sistema Único se Saúde) começaram a requerer seus direitos. Muitos entraram com ação contra o Estado e conseguiram esse benefício. Benefício previsto em Lei.
      É mais saudável e humano cuidar do paciente em casa. Porque pode contar com pessoas de sua família cercando-o de atenção e carinho, que podem acelerar a cura completa. Além de evitar possíveis infecções por bactérias que pululam em Hospitais.
       Acontece, porém que os doentes se multiplicaram, principalmente de gente idosa e não há vagas suficientes nos Hospitais. E a direção destes Nosocômios acabou optando por dar-lhes alta hospitalar, mesmo não estando completamente curados.
       E hoje há muitos doentes em casa precisando de cuidados. E  não há home care para todos. Há quinze anos atrás eram designados dois cuidadores para cada paciente. E a família participava dos cuidados. Hoje vejo pacientes com quatro cuidadores, que ficam 24 horas à disposição, sem ajuda nenhuma dos familiares. Ora, se cada doente precisar de quatro cuidadores, não há Instituição que consiga mantê-los. Mesmo porque todos esses cuidadores devem ser registrados e recebem honorários previstos em Lei. 
     É preciso racionalizar. Se cada doente precisar de quatro cuidadores, nem todos poderão usufruir desse benefício. Tenho amigos idosos sem nenhum cuidador e o parceiro sofrendo pra dar conta do recado, enquanto outros têm quatro!  Que tal dois para cada um?
       E tem gente solicitando home care para quem está com o Mal de Parkinson, com Alzheimer... Do jeito que vai indo, toda a população de uma cidade ficará envolvida nessa assistência de cuidar de pacientes... Porque há tantos com Alzheimer, e o Mal de Parkinson também está aumentando bastante. E as famílias não querem se envolver nessa assistência... Muito deprimente perceber que, pessoas que foram amadas quando saudáveis estão sendo relegadas para estranhos cuidarem, porque estão doentes ou no fim da vida.
         O home care é bom? Sim! Mas ele nunca deve  dispensar os cuidados dos membros da família. Porque é justamente para isso que o doente é retirado do Hospital, para ser cuidado por profissionais da Saúde e por familiares que o cerquem de carinho e atenção. 
         Sem isso, deixa de ser home care.
         Home care significa cuidar em casa, em família.

         Mirandópolis, agosto de 2019.
         kimie oku in
        http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/