quinta-feira, 19 de agosto de 2021

 

        Pamonha! Olha a pamonha!

    Fiquei chocada com a morte do nosso amigo Zé da Pamonha.

     Acostumada a vê-lo todas as semanas vendendo o seu delicioso curau, a pamonha quentinha e o bolo de milho verde, nunca imaginei que ele partiria tão cedo.

     Casado com a amiga Fátima, os dois davam duro para preparar os produtos, com que nos deliciavam sempre. Volta e meia eu comprava um curau, uma pamonha. Alimentos bem feitos e que sustentaram muita gente no comércio.

     Acredito que a maioria da população de Mirandópolis tenha saboreado seus produtos. Sei de gente que era freguês contínuo.

Um dia, encontrei com ele e um irmão seu no Mercado. E o irmão disse para mim que o Zé apanharia de alguém, a qualquer hora. Eu lhe perguntei: Por quê?  Porque ele chama todo mundo de pamonha... Demos umas boas gargalhadas.

O Zé era um homem sério, muito educado. Volta e meia, ele falava que não era fácil ficar naquele carro horas e horas, com o calor tórrido daqui. Cada um sabe onde aperta o pé... Mas, estava sempre firme  forte vendendo pamonhas.

Com a partida súbita dele, fico me assuntando: Quem irá fornecer aquelas delícias para nós? Será que alguém dará continuidade ao trabalho dele? Será que perdemos de vez um fornecedor de pamonhas?

Aquele carro todo colorido marcou época em Mirandópolis.

Agora que ficamos sem, senti vontade de comer um curau...

 Mas, o Zé foi servir aos anjos no céu.

Mirandópolis, agosto de 2021.

kimie oku in

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segunda-feira, 9 de agosto de 2021

 

          Discriminação

As olimpíadas estão terminando.

Mais um show para encher os olhos de quem vive para a telinha.

Tenho certeza que muita gente ficará escandalizada, mas eu não curto isso. Os amigos que me perdoem.

As Olimpíadas e os Concursos de Beleza não passam de uma forma para discriminar os seres humanos.

Valorizam apenas os mais belos, os mais fortes, os mais eficientes...

Quem disse que a mulher tem que ser perfeita?

Quem disse que o homem tem que ser forte?

Quem disse que todos têm que ser eficientes ao máximo?

Todos nós nascemos com certas deficiências, com certas limitações. Então, não podemos ser incluídos nos padrões de beleza e de força. E merecemos menos respeito por isso?

Quem inventou os padrões de beleza?

Com certeza não foi Deus!

Porque não haveria neste mundo gente que não enxerga, que não consegue andar, nem falar, nem pensar...

Deus pôs as criaturas mais diversas no mundo, e nenhuma Religião ensinou que devemos aboli-las ou discriminá-las.

Não gosto de olimpíadas!

A maioria da humanidade não é bela, não é forte, não é competente, não consegue pensar direito.

Mas cada um cumpre o seu papel, superando suas dificuldades todos os dias e servindo aos outros.

E sempre fazendo o trabalho duro, sujo e necessário.

Tornando a vida mais leve para os mais privilegiados.

Dirão que esses concursos servem como incentivo.

Incentivo para desclassificar os incapazes, os desajeitados e os incompetentes?

Aqui mesmo nesta página, há gente que peca na concordância verbal, que escreve arfacia em vez de alface, que escreve " e nóis é feliz"...

Eu não os condeno, entendo o recado e fico admirada por conseguirem se comunicar. Porque esta página tem a função intrínseca de comunicação.

Premiar os melhores, dar medalhas de ouro para os mais capazes...

Você já pensou que todos os dias, todos dão o máximo de si?

Que todos se empenham em realizar tarefas nem sempre agradáveis? Que muita gente supera a fome pelejando por comida para os filhos?

E cadê o ouro para essa gente?

Gente, não gosto de olimpíadas...

Acho que sou a única...

Mirandópolis, agosto de 2021.

kimie oku in

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terça-feira, 3 de agosto de 2021

 

            Eu e a horta

     E ontem aproveitando o sol da tarde fomos ao sítio.

     O vento gelado tem fustigado as plantinhas e os canteiros estavam secos. E a solução foi regá-las com esguicho. Água não falta. O poço semi-artesiano nunca falhou. Água límpida, direto da fonte.

Entretanto, minha preocupação eram os pés de berinjela, que havia estaqueado para não tombarem... E as tiriricas...   Molhei cada pezinho, tirei as tiriricas e fiz covas para segurarem a água. E firmei as estacas mais profundamente.

     As estacas foram retiradas do bambuzal pelo Nori. Bambuzal que ele mesmo plantou há uns quarenta anos.

     E molhei os canteiros de cenouras, de beterrabas, de cebolinha, de espinafre. Tudo no maior capricho. E o canteiro novo de beterrabas que estão despontando.

Enquanto isso, o Nori replantou os pés de tomatinhos que nascem aqui e acolá. E regou os pés de limão Siciliano e laranja Champanhe que estamos tentando salvar... Ajeitou as mangueiras para não escaparem nas emendas...

E pra arrematar, fui regar de novo os pés de berinjela. Mas, de repente, me deu uma tontura, que não estava no programa. Soltei a mangueira dágua e deitei ali mesmo no chão, para não cair. E ali fiquei um tempo para o mal estar passar.

Quando me senti melhor, voltamos para casa.

E estive pensando. Deve ter sido esforço demais.

Muitas vezes, eu me esqueço que já sou idosa e faço tarefas além das minhas possibilidades... E a mania de sempre aproveitar ao máximo o tempo me faz abusar de mim mesma.

Acho que foi um ataque de labirintite. Labirintite que ataca a nós dois volta e meia...

É. Estamos velhos e a velhice é triste.

Então, amigos aproveitem a vida enquanto são jovens!

Carpe diem!

Mirandópolis, agosto de 2021.

kimie oku in

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