segunda-feira, 23 de julho de 2018


            E o funeral vai passar...
      

      Muitas vezes, penso que não faço nada, que nada fiz dos meus dias... Os dias chegam e vão embora e parece que não deixaram nenhum saldo positivo. Tanta coisa para fazer e eu nessa lassidão...
      Mas, hoje resolvi conferir tudo que faço, para não me sentir tão inútil... Na semana que passou fiz fisioterapia na segunda e na quinta feira, fui em Araçatuba fazer uns exames médicos de rotina, comprei uns remédios de que precisava, tive uma aula de piano e ensaiei sozinha três tardes, fui duas vezes ao sítio molhar minhas plantas, replantei mudas de trepadeiras, reguei minhas flores, colhi chuchu e limão, fiz bicos de crochê em panos de prato, visitei duas vezes a dois amigos que não estão bem, fiz a Ciranda, além de caminhar e orar todos os dias.
      Uau! Fiz é muita coisa! Comparando com o Aureliano Buendia de Macondo, que Gabriel Garcia Marquez retratou como o homem que ficava o dia todo sentado, esperando o seu funeral passar...
      Essa frase “esperar o próprio funeral passar...” me impressionou muito. E percebi que é bem a imagem de muita gente, que se aposenta e nada faz para continuar vivendo.
Tenho amigos mais novos que sonharam com a aposentadoria, e continuaram vivendo intensamente cuidando dos netos, dos familiares doentes, dos vizinhos abandonados por parentes... Acho isso muito louvável. E nem é preciso ajudar entidades internacionais para minimizar o sofrimento da humanidade. Muitas vezes, vejo o chamado do programa “Médicos sem fronteiras” e fico penalizada de ver a situação de tanta gente que vive na maior penúria... E fico até com vontade de colaborar! Mas, já ajudo os meus próximos com fraldas, com visitas, com a Ciranda. De que adiantaria cuidar dos pacientes de Médicos sem fronteiras, se nem reparasse na dor de um vizinho, de um empregado, de uma pessoa esquecida?
A única salvação da humanidade é o Amor! É a Solidariedade! É a Empatia, colocando-se no lugar do outro e sentindo sua dor.
Todos nós passamos a vida pelejando para terminar os dias com uma aposentadoria digna. E eu já cheguei nesse patamar. O que me resta fazer? Servir! Servir e Servir. Para agradecer a vida bem vivida, consolando os aflitos, abraçando os que lamentam, enxugando as lágrimas de quem chora.
Não é preciso gastar os dias esperando o próprio funeral passar.
Ele passará, mesmo que você não espere!
Mirandópolis, julho de 2018.
kimie oku in

sábado, 7 de julho de 2018


          Onde é mesmo o Paraíso?

      Tenho visto gente fazendo apologia de países que apresentam melhores condições de vida que o nosso país.
  Realmente nosso Brasil decaiu muito ultimamente.  Educação, Saúde e Segurança são os setores que mais foram prejudicados. Por indiferença dos governantes, por meterem a mão nos reservas destinadas, por superfaturamento de produtos necessários...
      Infelizmente, os recentes governos e o atual nunca se preocuparam com as condições desses setores. Acho que fingem governar e só estão engordando suas contas com os recursos da União, do Estado e dos Municípios. Governo democrático em muitos lugares virou sinônimo de ladrões. Desolador!
      É bem verdade que há países com condições de vida superiores ao nosso. E há muitos, onde quase nem há presídios, porque o estilo de vida tão correto não produz marginais. E têm baixo índice de criminalidade. De causar inveja a todos nós acostumados com os absurdos, que acontecem todos os dias em nossas ruas, cidades, escolas, Bancos...
      É bem verdade que os costumes e hábitos dos japoneses são muito diferentes dos nossos. Sua educação prima pela cortesia, pelo respeito aos idosos, e pela defesa do meio ambiente.
      É bem verdade que Cuba possui uma Medicina avançada, que lá realizam pesquisas para descobrir a cura de doenças terríveis que assolam o mundo.
      É bem verdade que os ingleses se destacam pela pontualidade em cumprir seus compromissos, que os italianos fazem as melhores massas gastronômicas do mundo, assim como a França faz os melhores molhos. E que a Alemanha possui uma governante respeitável acima de qualquer suspeita.
      Mas... toda luz tem sua sombra, todo lado claro tem o seu reverso escuro, toda perfeição tem o lado imperfeito, tudo tem o yin e o yang.
      Nunca pensei em morar no Japão, que é um país de primeiro mundo, onde tudo parece perfeito, onde o povo prima pela educação, pela polidez. Por quê???? Porque o Japão de hoje é um país de centenários, onde os jovens estão sem esperança, sem muita perspectiva no futuro. A guerra lhes roubou muita coisa, e os cataclismos geológicos desanimam qualquer cidadão. Eles pelejam, lutam, batalham, constroem e súbito um tremor abre uma valeta profunda e engole tudo pra dentro da terra. Viver lá e´estar preparado para ser engolido pela terra, a qualquer momento...
      Também não anseio morar em Cuba, onde dizem que a Saúde é de primeira e de graça, que a Escola é perfeita e a segurança é máxima. Por que?  Porque sempre vejo notícias de cubanos arriscando suas vidas nas mãos de coiotes para fugir do país, e atravessar a fronteira para os Estados Unidos. Se lá é tudo de graça e tão perfeito, por que os cubanos querem fugir? Acho que a questão é a Liberdade! Liberdade de ir e vir. De ter opinião própria, de poder adquirir o que bem lhe convier. Ser tolhido nesses desejos é estar amarrado numa camisa de força. Eu, hein!
      Morar na Europa! Paris! Londres! Viena! Também não me atraem! Lá estão os terroristas que odeiam os povos cheios de grana, e querem se vingar de suas vidas tornadas miseráveis pelos exploradores do velho continente. Que roubaram todas as preciosidades dos países que subjugaram na África e no Oriente Médio. Para lhes usurpar o ouro, os diamantes, o petróleo. Em cada esquina, há um terrorista vingativo espreitando, espreitando. E eles arrasam mercados, shoppings e lugares onde circulam as gentes “mais bem” do mundo. Não se preocupando com os inocentes que morrem junto...
      Pensar que o Japão, Cuba, Estados Unidos e Alemanha são pedaços do paraíso é ledo engano. Todos esses países mostram o brilhante anteverso da medalha para o mundo, mas no reverso, quanta miséria, quanta sujeira. Cuba é de uma pobreza sem igual, onde os manda chuvas têm toda regalia de 1º mundo e os súditos têm que se contentar com migalhas. Para quem defende a vida em Cuba socialista, fica uma indagação: Por que os médicos vieram trabalhar no Brasil? Pela lógica e pelas informações divulgadas, a vida de um médico lá deve ser uma maravilha. Então, por que se submeteram a vir ao Brasil e cuidar dos pacientes mais pobres do SUS? Não foi por humanidade voluntária. Foi pelo cacau, que prometeram pagar... e que o governo de lá embolsou a maior porção.
      Então, parem com as apologias de idólatras que só têm olhos para ver um lado da moeda. Cuba não é o céu, assim como a Venezuela, onde reina muita miséria por conta de governos socialistas que não respeitam a individualidade. Todo mundo tem que rezar na mesma cartilha. Não importa se você é redondo, tem que se encaixar na forma quadrada.
      Já imaginaram eu morando em Cuba? Com as minhas ideias independentes? Será que poderia publicar minhas crônicas?
      Mirandópolis, julho de 2018.
      kimie oku in

   

terça-feira, 3 de julho de 2018


               Não sou árvore!  




Sempre que vejo cipós e plantas trepadeiras fico pensando em nossa necessidade de locomoção. Os vegetais em geral são estáticos como os postes que o homem finca no chão, mas acredito que todas as árvores gostariam de sair do lugar e ver outras paisagens.
      As árvores nascem num determinado ponto e lá permanecem até acabarem secando, sem nenhuma possibilidade de mudar de ambiente de per si. A mudança dessa condição só ocorrerá vindo de fatores externos, nunca de vontade própria. Mas, penso que até as árvores desejariam caminhar, conhecer outras árvores, outras folhagens, outros troncos, outras flores...
     Quando passa uma brisa, as folhas se sacodem e parecem estar se comunicando com outras folhas. Se é um vendaval, até os galhos se agitam, revoluteiam e parecem estar se defendendo...
Reparem quando as folhas de outono estão espalhadas pelas calçadas e subitamente sopra um vento. As folhas que não pertencem mais às árvores começam a bailar, rodopiando no chão e às vezes até se elevando a alturas nunca sonhadas... Já vi flores róseas de primavera executando uma dança incrível no meu quintal, desenhando espirais e círculos sem parar... Então, elas têm vontade, têm desejos enrustidos de andar, de rodopiar, de dançar. As folhas e as flores assim caídas realizam um desejo da árvore de onde vieram e, executam movimentos proibidos a ela. Quando penso nisso, lembro-me de Sartre, o filósofo do Existencialismo que abordou a questão da náusea de viver... Árvores centenárias ou milenares habitando o mesmo lugar por séculos e séculos, vendo o mundo sofrer transformações, exaustas de existir  dia após dia, cansadas de viver porque são fracas demais para morrer...
      Também o homem que não achou sentido em sua existência sentirá náusea de viver. Pra quê lutar e pelejar com forças hercúleas, se as pernas estão irremediavelmente condenadas a apodrecer? (expressões de Jean Paul Sartre)
      Ler Sartre dá um nó na cabeça de gente desavisada, porque ele vai fundo na análise do Existencialismo e na falta de sentido da própria existência, provocando a desesperança e desgosto de viver...
      Mas, voltando ao movimento de que são dotados os homens e os animais, ainda penso no desejo das árvores de se moverem, nem que fosse um pouquinho. Há ervas fraquinhas que conseguiram realizar isso, com sucesso. São os cipós e as trepadeiras, que se enroscam em muros e cercas, em árvores mesmo e lá do alto jogam suas flores, suas folhas e seus frutos, como o maracujá, o chuchu...
       E todos os homens e animais têm a vocação de caminhar, de andar por aí, mesmo sem destino. Em geral todos se mobilizam por uma razão fundamental, que é a procura de provisões para se alimentar. Comida não chove do céu...
       Entretanto, ultimamente tenho reparado que pessoas idosas estão cada vez mais confinadas em seus cantinhos, diante de uma tevê assistindo a tantas bobagens e se esquecendo da vida que flui ao seu redor. Pessoas que se levantam apenas para ir à mesa se alimentar, ao banheiro fazer suas necessidades fisiológicas e à cama repousar... Tenho visto amigos que elegeram o sofá e a tevê como limites de seu mundo, de seu cotidiano e não se importam mais com nada, porque passaram a viver numa bolha. Ora, o corpo humano assim como o dos animais foi feito para ser flexionado, para ser estendido, realizando movimentos sempre. É tal qual uma máquina, que precisa funcionar continuamente, para não perder sua função. Máquina parada por meses e anos acaba se travando, se enferrujando. E aí o movimento se torna impossível.
       Tem gente que ainda não descobriu as academias, as hidroginásticas, as clínicas de Fisioterapia. Todos os idosos deveriam frequentar um desses lugares para mexer o seu corpo e conservá-lo em funcionamento.
       Aposentar-se não é parar de viver.
    Grande parte de aposentados deixa de realizar atividades que o manteriam funcionando como um ser vivente e desistem de andar, de circular pela cidade, de realizar compras, de visitar parentes e amigos, de se preocupar com os vizinhos, de cuidar de outros que precisam de ajuda.
     Enquanto no mundo todo há centenários que levam a vida em comunhão com a natureza, procurando uma forma mais saudável de terminar seus dias, vejo por aqui, gentes que desistiram de viver, que estão apenas esperando a morte chegar.
 A vida é tão preciosa! Vamos saborear esse vinho até a última gota. Vamos imitar as trepadeiras, vamos nos enroscar em cercas e alambrados da vida e sentir até o fim os doces haustos do ar, do sol, e da luz.
Morrer de forma gloriosa, porque a vida é prêmio que só acontece uma vez!

Mirandópolis, julho de 2018.
kimie oku in