domingo, 26 de junho de 2022

 

                                               Saudades...


      Ontem passei uma tarde maravilhosa com a Ariadne, minha amiga. Foi uma tarde de confidências, desabafos e muitas saudades...

      Relembrando o João, que partiu tão cedo e deixou a Adne sem chão. Mas a Adne herdou a coragem e a determinação da Lena sua mãe e, apesar das saudades sem fim, está enfrentando valentemente o dia a dia junto com o lindo filhote João Vítor.

      Confidências à parte, tomamos café com pão de queijo, biscoitos e bolo. E toquei piano! Porque a última lembrança boa que temos é da Lena dançando com o João, enquanto eu tocava! Foi uma tarde feliz e ela valsou, rodopiou e riu muito. E agora, nem você, nem o João...

      Lena, Lena quanta saudade! Vontade de vê-la e dizer que seus filhos estão bem, compensaram tudo que você fez para criá-los. Fazem juz à valentia da mãe. E são carinhosos, trabalhadores, pés no chão.

    Lena, você e a Mafalda marcaram um tempo de minha vida. Tempo de Faculdade em Dracena... viagens cansativas... Bereta e sua Estatistica tão difícil... E a luta diária, de Escola em Escola...

Tudo passou... Até vocês...

E me deixaram aqui com tantas saudades.

Mirandópolis, junho de 2022.

kimie oku in

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sábado, 11 de junho de 2022

 

                        Oitenta árvores...

    Tenho uma seringueira, que estou tentando salvar há bom tempo. Vivo combatendo as saúvas que não dão folga... E ela estava tão bonita cheia de folhas fortes e viçosas, mas um bezerro a transformou em três varinhas finas... Não sei se vai sobreviver... É difícil cultivar plantas e fazê-las crescer e se tornarem adultas. É preciso muito cuidado, muita dedicação constante. Reflorestar não é só plantar e esperar o milagre de ver um bosque, uma mata...

     Pensando nisso, fui até a Represa Santa Helena, que abastece a cidade, para conferir a plantação de árvores, que os associados da APAM (Associação de Professores Aposentados de Mirandópolis) realizaram no final do ano passado. Queria ver como estavam as oitenta mudas plantadas à beira da Represa... Mesmo que algumas não tivessem vingado, esperava fotografar algumas já bem crescidas. Soube que na época até o Prefeito Sodário participara ativamente do evento, além do Responsável do Meio Ambiente... Mais de vinte Professores aposentados se empenharam nessa empreitada, movidos pelo espírito de salvar a natureza, recuperar a mata ciliar e proteger as águas da Represa... Tudo muito bonito e louvável, com Professores já aposentados querendo deixar um mundo melhor para as gerações futuras. Aliás, tarefa que deveria ser do Meio Ambiente.

     Mas... Qual não foi a minha decepção... No local, só havia mato, nenhuma muda plantada. Nem sinal das dezenas de mudas... Só ervas daninhas prosperaram e pés de mamona encheram o espaço. Fiquei sabendo que soltaram gado aí... Que acabou com todas as mudas.

     Parece que funcionários da Prefeitura zelariam pela plantação, e os Professores ficaram esperançosos que logo haveria mais umas dezenas de árvores. Não sei se os responsáveis seriam funcionários do SAAEM ou do Meio Ambiente. Todos esperavam que  os trabalhadores braçais da Prefeitura cuidariam das árvores, regando-as e protegendo-as.

Mas, ninguém se responsabilizou pelos cuidados... Será que não há funcionários responsáveis para cuidar da Represa, que fornece o líquido mais precioso para toda a cidade?

     Foi em vão tanto empenho, tanta esperança e tanta boa vontade. O Prefeito teria pedido aos Professores que repetissem essa atividade na Represa São Lourenço.

Parece piada! Professores aposentados se dispondo a reflorestar parte da Represa, e toda essa trabalheira jogada fora! Ou os funcionários e os manda-chuvas da Prefeitura esperavam que os aposentados professores fossem lá cuidar das mudas? Professores que, com o avançar da idade têm problemas de coluna e de joelhos? Que apesar de suas dores físicas ainda têm esperança, de deixar um mundo melhor para posteridade.

É por tudo isso que os serviços públicos primam pela incompetência. Ninguém se responsabiliza pelo que é importante, é um jogo de empurra-empurra, e nada é feito.

Se um funcionário tivesse cuidado daquelas mudas, hoje teríamos mais oitenta árvores frondosas, que iriam compor a mata ciliar da Represa, cortando o vento e filtrando a sujeira que cai na água.

Pra quê existe o Departamento do Meio Ambiente? Não tem capacidade de zelar por oitenta árvores plantadas gratuitamente por Professores? Claro! O Departamento existe só pra inglês ver. Cada um recebendo o dim dim, nada mais importa? Triste Departamento inútil.

Conclusão: Não vi nenhuma árvore nova. E fotografar mato e mamona selvagem seria uma vergonha para todos.

Um povo que não sabe cuidar do líquido mais importante da cidade é um povo que não prospera. Povo fadado a desaparecer...

Enquanto o mundo inteiro está preocupado com o desmatamento, a nossa Prefeitura é incapaz de cuidar de oitenta árvores. Plantadas gratuitamente por Professores aposentados. Aposentados!

Desventurada Prefeitura!

Mirandópolis, junho de 2022.

kimie oku in

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quinta-feira, 9 de junho de 2022

 

        Porque já fiz oitenta anos...

      Viver oitenta anos é um privilégio concedido a poucos.

Honestamente nunca pensei que viveria tanto.

Só que no limiar da vida, a gente fica só olhando pra trás e pensando como poderia ter vivido melhor, sem errar tanto, sem cultivar mágoas, sem discriminar pessoas, sem ter sido tão exigente...

Porque nessa altura da vida, a gente percebe que somos apenas uma carreira de formiguinhas operárias cumprindo uma dura missão: alimentar e proteger a prole. Apenas isso. Nada mais importa.

Vivi os primeiros vinte anos querendo ser alguém... Depois passei trinta anos trabalhando incansavelmente para melhorar a vida de crianças e jovens.  Apesar de nunca ter sido reconhecida como Educadora na verdadeira acepção da palavra, tive momentos maravilhosos nessa missão de ensinar e aprender.  Acho que mais aprendi que ensinei. Conheci crianças simples, inocentes, completamente ignorantes dos problemas do mundo, que se tornaram cidadãos honrados e trabalhadores, dos quais muito me orgulho.

Nos últimos trinta anos aposentei o relógio e vivi para a minha família e para mim. A ironia dessa fase é que quando eu me tornei disponível, meus filhos já não estavam mais em casa, tinham partido para procurar seus destinos. Mesmo assim, pude curtir a neta.

E nesses trinta anos pude cuidar de mim, pensar em mim, viver por mim. Fazendo o que gosto de fazer como ler, tocar piano, escrever, estudar a cultura e a língua de meus ancestrais. Nunca fiquei depressiva, porque o tempo foi sempre muito limitado para tudo isso. Conheci muita gente maravilhosa que me apontou caminhos, que me indicou e emprestou livros em nihongô/japonês. Gostaria de ter começado esse estudo mais cedo, mas... o tempo!

Hoje, já antevejo o fim dessa jornada e quero viver plenamente, sem remorsos. Por isso, me reservo o direito de aceitar ou recusar propostas. Não aceito propostas ou convites que não me acrescentam nada. Não me preocupo com as opiniões alheias. Vivo como uma roceira, cutucando o chão, plantando minhas mudinhas, colhendo os frutos da época e distribuindo aos amigos.

Com essa idade percebi qual é o propósito de Deus ao nos colocar nesta terra. É ajudar na obra de Deus. Cuidando dos desventurados, entendendo a mão, o coração e doando-se diariamente. Quando faço algo pelo próximo como um agasalho para uma criança, sinto que o dia foi abençoado. E quando recebo uma muda de uma flor ou de um legume, sinto que a bênção é maior...

Como tenho oitenta anos, quero usufruir a vida só cirandando.

Com amigos.

Mirandópolis, junho de 2022.

kimie oku in

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