sábado, 28 de abril de 2018


          Cálculo
   Hoje enchendo um regador com uma borracha para aguar mudas distantes me dei conta que ia demorar muito, porque o regador tinha um buraco, por onde a água escapava quase na mesma velocidade que entrava. Pra não desperdiçar o precioso líquido, fiz essa operação no tronco da paineira vermelha...
E como estava demorando muito, me lembrei dos problemas de Matemática que os professores nos propunham para resolver! (Se não me engano, eram situações problemas propostos por Osvaldo Sangiorgi em seu livro didático de Matemática para os alunos do Ginásio).
Pensando e recordando me lembrei que nunca fui boa em matemática, em cálculos, em medidas... Até hoje não sei fazer minha Declaração de Renda, não sei controlar minhas contas do Banco, minhas despesas no mercado... Sou um zero à esquerda em operações. Sei que sou um caso perdido e nem tento mais me redimir. Com essa idade não aprendo mais!
Bom, voltando à questão do regador, me lembrei dos problemas em que éramos obrigados a calcular em quanto tempo o tanque estaria cheio se uma torneira despejasse x metros cúbicos de água por minuto enquanto outra esgotava y metros cúbicos... Eu achava isso o cúmulo da idiotice, pois bastava fechar a 2ª torneira e o tanque se encheria rapidinho. E ninguém estava pensando em trabalhar no Serviço de Abastecimento de Água do município. Mas naquela época eu esquentei a moringa e nunca acertei. Tinha tanta vontade de fechar todas as torneiras!
Estranha situação em que fiz uma viagem no túnel do tempo e revivi momentos dolorosos de aulas de matemática, que eu odiava. E não gostava dos professores arrogantes que nos tratavam como imbecis, porque éramos incapazes de seguir o seu raciocínio. Os professores de Matemática eram chatíssimos e prepotentes. Odiei os Kazuos, os Toshios e outros sabichões, que infernizaram meu tempo de estudante. Fiquei duas vezes para a segunda época em Matemática, e isso não me acrescentou nada...
Pra quê calcular o tempo de enchimento ou esvaziamento de um tanque? Alguém aproveitou essa questão em sua vida cotidiana depois? Que vantagem trouxe para o aluno que acertou? Eu nunca me deparei com uma situação problema semelhante, em que tivesse que gastar os neurônios para calcular o tempo certo da operação...
E hoje vendo o regador esgotando a água que entrava, a única ideia que me ocorreu foi que preciso comprar novo regador. Ou descobrir um meio de vedar o buraco.
Como veem, de nada adiantou o problema de Sangiorgi.
Melhor seria se os professores tivessem me ensinado como tapar buracos de regadores e baldes.

Mirandópolis, abril de 2018.
kimie oku in


quinta-feira, 19 de abril de 2018


               O poder negro

        Durante milênios e milênios, os brancos foram os donos da Terra. Reinaram e continuam mandando nos brancos, nos negros, nos vermelhos, nos azuis e nos amarelos.
        Como conseguiram esse poder? Utilizando a força da religião, das crenças, da ignorância, dos temores absolutos do homem diante do desconhecido. E usaram o Salvador do mundo  Jesus Cristo, pois se espelharam na sua imagem para criar o protótipo do humano perfeito. As famílias brancas se espelharam na Sagrada Família e se colocaram acima de todas as raças, como modelos para serem seguidos.
        Assim foi por milênios até os dias de hoje.
      Mas, a arrogância branca cometeu mil pecados contra a própria raça humana. Discriminou os diferentes como sub humanos, tratando-os como servos, como escravos a seu serviço. Inventaram que os judeus eram seres inferiores e os compararam a ratos, e fizeram um genocídio em massa... Inventaram a Ku Klux Klan, que caçou e matou todos os negros por considerarem-nos inumanos lá na América... Dominaram a terra dos aborígenes, destruíram suas tradições e sua cultura, roubaram sua liberdade, seu domínio e suas origens... Dizimaram os últimos moicanos... Discriminaram os asiáticos de olhos puxados, e fazem piadas até hoje sem nenhum respeito por suas tradições.
     O mundo foi comandado até hoje pelos brancos. E muito mal conduzido. Com invasões territoriais, com a extração das riquezas das áreas usurpadas, deixando para trás sempre uma esteira de destruição, fome e miséria. E acima de tudo só devastação pós guerras...
        Acredito que o tempo do Poder Branco já se esgotou.
    Desponta de imediato, bem à nossa frente o Poder Amarelo. O amarelo dos chineses, dos japoneses, dos coreanos, dos orientais...
        Como será esse poder?
       É o poder de uma raça que viveu por séculos e séculos sob o domínio do orgulho, por se julgar auto suficiente. O Oriente desconhecia o Ocidente. Culturas e tradições totalmente diversas existiam em mundos diferentes. E quando houve abertura para as relações foi um choque! O Ocidente tinha uma civilização avançada e o Oriente ainda desconhecia a tecnologia. Mas, sua Cultura, suas Artes tinham avançado até um patamar inacreditável. A Cerâmica, as Espadas e a Literatura refinadas como tesouros... Mas, um dia, os Ingleses chegaram à China, que na época era quase um continente inteiro. E venderam o ópio para os chineses. O ópio vinha da Índia. E o ópio manteve os chineses adormecidos, conformados com o desenrolar da História, aceitando o domínio dos brancos. Era o mundo do laissez faire, sem competição, sem concorrência... Os chineses só observavam a História acontecer ao seu redor... O ópio deixava-os letárgicos, sem vontade própria. E deixaram os brancos ingleses invadirem suas terras e imporem suas vontades...
        Mas, um dia acordaram.
    E fizeram do ópio sua moeda de troca no mundo capitalista. E devagarinho, usando a inteligência se apossaram dos conhecimentos tecnológicos dos países avançados, e inauguraram uma nova era. A era da Informática, da máquina que faz o serviço de centena de homens. Transformaram seus pobres mais pobres em operários escravos, que trabalham dia e noite por um mísero prato de comida... E isso só foi possível porque o país é superpovoado e a fome é a grande tragédia. Um país imenso em termos de território, cuja maior parte é montanhosa e desértica.
        De repente, os chineses descobriram a força da moeda, do poder de compra, de competição. E estão avançando mais e mais para dominar os vários setores do mercado. Para isso contam com a educação rígida, que disciplina as vontades em busca de um objetivo maior. Não é à toa que os jovens chineses se destacam em várias competições, conquistando sempre os melhores lugares no podium, tanto nos esportes, nas artes, nas universidades. Não significa que sejam mais inteligentes, significa que são empenhadíssimos em busca de seus objetivos. nada os desvia de suas metas.
      Ao observar o domínio dos brancos perceberam que só a inteligência pode vencer certas batalhas. E investiram tudo na educação, no preparo dos jovens, que hoje estão espalhados pelo mundo todo se destacando e mostrando do que são capazes. E estão invadindo todos os campos com seu conhecimento e capacidade. Estão comprando estatais falidas e dando novo rumo  para as políticas locais e internacionais. Intenção? Só Deus sabe!
        Mas, como seria o Poder Amarelo?
        Não pensem que será melhor que o Branco.
       Os chineses têm uma longa história de domínio e opressão. Só de olhar as etiquetas dos produtos que usamos no dia a dia, podemos perceber o domínio deles. Cobertas, calças, edredons, utensílios domésticos, peças eletrônicas e mais uma centena de objetos de nosso uso diário exibem as etiquetas Made in China. E são baratíssimos, porque os operários que os confeccionaram o fizeram em troca de um prato de comida... Sim, é escravidão industrial. E eles não têm opção, porque são mais de um bilhão de chineses e a comida não chega para todos...   consomem cobras e escorpiões porque não há proteína suficiente para todos... Os Chineses constituem um quarto da população do mundo.  Os manda chuvas chineses se mostraram sempre duros e cruéis. Desde a Revolução Chinesa de Mao Tse Tung até os dias de hoje, os governantes não se preocupam muito com os milhões de famintos, que tentam sobreviver em suas terras. Estão só preocupados em competir com as Nações do Ocidente em tecnologia e lucros... preocupados como poder, com o domínio.
E um povo que sofreu domínio de outros povos, e se fechou em seu mundo de estudos, de treinamento, de pesquisas para superar os conhecimentos não perdoa falhas, não perdoa fraquezas, não perdoa traições. Quem deu o máximo de si a vida toda, irá sempre exigir o máximo dos demais... quem não for capaz será eliminado, com certeza. Seus pobres mais pobres são apenas peões descartáveis...
Não se iludam. Os amarelos são duros na queda, exigentes e implacáveis. Implacáveis ao extremo. Até mais que os brancos.
Mas esse poder também um dia cairá!
         E chegará o dia do Poder Negro.
Quando se pensa em negro, nossa memória se volta apenas para a África. Mas, os negros estão espalhados no mundo todo, tanto no Ocidente como no Oriente.
Os negros foram discriminados em todos os recantos da terra, só por causa da cor da pele. Os brancos e os amarelos e os vermelhos sempre os olharam com desdém, como se não fizessem parte da raça humana. Só olhavam o exterior e ignoravam o interior dessas pessoas. Pessoas que têm sentimentos de dor, de saudade, de revolta como qualquer outro ser humano. E têm inteligência, capacidade, força e determinação tanto quanto os amarelos e os brancos.
    Os negros mesmo sendo uma raça forte, foram subjugados por séculos e se multiplicaram em todas as partes do mundo, com muita revolta. Ainda hoje, há muita discriminação e opressão para com os negros. A dolorosa experiência da servidão humana os tornou tristes e cheios de mágoa. A servidão foi o maior crime contra essa raça. E essa mágoa e revolta nunca será esquecida...
Então, quando os negros dominarem a terra, os brancos e os amarelos e os vermelhos podem se preparar... Revanche à vista.  Porque séculos de humilhação, de jugo e servidão não se apagam tão facilmente...
A única esperança, e esperança de verdade é que até lá, muitos séculos passarão. E no escoar do tempo, os negros se misturem com os brancos, com os vermelhos e com os amarelos. E diluam a cor negra, tornando-a mais suave, de tal forma que todos os humanos tenham uma cor única, uma cor bonita, bronzeada, meio achocolatada, mas que iguale a todos. Todos, todos com a cor bronzeada! Que maravilha seria!
Quem sabe, essa não seria a  única intenção do Criador para acabar com as diferenças?

Mirandópolis,abril de 2018.
kimie oku in



segunda-feira, 16 de abril de 2018


     Imagens que ficam...
       
       Sempre fui fissurada em fotos.
     Na minha família, havia um álbum antigo, que era manuseado como um tesouro. Crianças não podiam folheá-lo. Lá havia fotos de papai ainda jovem e de alguns antepassados dele e da mamãe. Esse álbum já está se desmanchando, mas está comigo e o guardo-o com reverência. São imagens de 1900 ou até antes... tudo em preto e branco... E para preservar a história da família, organizei um álbum da família Osaki que abrange o período de 1900 até 1995.
     Dizem que todos os japoneses são loucos por fotografias. Acho, porém que não só os japoneses gostam de tirar fotos. A fotografia virou unanimidade com o advento dos celulares, que clicam imagens de várias formas, facilmente.
     Em casa tenho álbuns e álbuns dos filhos e da neta em todas as fases de crescimento. E álbuns de viagens, quando a gente rodou por esse Brasil. E rever essas imagens e recordar fatos engraçados fazem bem à alma.
    Quando formamos o Grupo Ciranda, aprendi a fotografar. Enquanto os amigos conversavam, se abraçavam, dançavam, cantavam e riam, fui registrando as cenas que hoje formam oito pastas bem recheadas.
     E foi muito bom ter iniciado esses registros. Porque ao longo desses sete anos de existência da Ciranda, já perdemos vários amigos que foram cirandar no céu. É bem natural que essas partidas ocorram porque na Ciranda todos são idosos, Uns com noventa anos, outros com mais de oitenta e a maioria são setentões... Já perdemos o Egídio, a dona Luisinha, o Walther, o Jorge Cury, o Aristides, a Maria Menegatti, a Lourdinha Codonho, a Palmira, a Onofra, o Toninho, a Nair e agora, a Maria José.
     Temos fotos de todos eles sorrindo, dançando, cantando, graças a Deus. Registros de momentos felizes, que curtiram antes da partida final.
E quando comecei a postar fotos da Ciranda no face, percebi como elas fazem a alegria de amigos daqui e de longe. Sem querer, passei a ser porta voz e divulgadora de imagens de cirandeiros para muita gente. E é gratificante constatar que tanta gente que mora longe curte as fotos de amigos que acabo postando.
E ontem ao visitar a amiga Maria Adelaide Carvalho descobri que ela organizou a árvore genealógica de sua família numa parede através de fotos. A mesma ideia teve o meu amigo Gerson Possenti, que tem milhares de fotos de Mirandópolis.
Eu também estou pensando em fazer uma parede com as imagens de pessoas queridas de minha família...

Miranópolis, abril de 2018.
kimie oku in


    

segunda-feira, 9 de abril de 2018


                   O poder da oração
        
        Quando se é jovem, não costumamos ficar muito preocupados com as coisas referentes à alma. Levamos a vida numa correria só, e de repente percebemos que ela passou e só fizemos angariar coisas... Coisas que vamos deixar pra trás quando partirmos de vez.
    Conforme os anos vão chegando, e sentindo os estrangulamentos em nossas vidas, sentimos a necessidade premente de um socorro, de uma ajuda, de uma força que, silenciosamente nos liberte dos sofrimentos do cotidiano...
   Foi quando já na meia díade descobri a oração. Inicialmente eram apenas os Pais Nossos e as Aves Marias... Depois, fui tomando intimidade com os santos, os anjos e com o próprio Deus e, ousei balbuciar meus pedidos, minhas súplicas... Milhares e milhares de vezes... E aprendi a agradecer também. Foi quando percebi claramente que ajuda verdadeira só vem de Deus. Nas horas de maior desespero, só a oração.
        E agora experimentei o poder da oração.  Não importa se é budista, se é cristã, se é evangélica, se é messiânica... A oração sempre é uma, dirigida para o Criador. E traz os resultados esperados e pedidos em qualquer língua...
        Num velório de pessoas queridas mesclam-se os credos dos familiares e encomendam-se celebrações diversas. É uma missa no ritual budista com palavras ininteligíveis num japonês arcaico, que só os antigos monges conhecem o verdadeiro significado... Ou uma celebração moderna de um padre falando a linguagem do povo, que todos entendem perfeitamente... Eu sempre ficava apenas de corpo presente nas celebrações japonesas, deixando que a litania das invocações e pedidos passasse logo...
    Mas, de repente percebi que as orações, as litanias ou ladainhas e os cânticos religiosos têm um poder imenso. O poder de  domesticar a dor brava, que se apodera de nossa alma em certas circunstâncias. E hoje fiquei matutando em algo, que pudesse  substituir a oração e consolar as pessoas tanto quanto... E percebi que não há. Nada há que tenha o poder da oração para consolar nossas almas. Nada mesmo.
    E ouvindo o sininho budista repercutindo em ondas no ar, algo me aconteceu... Uma estranha força foi retirando da alma a tristeza, a dor e a mágoa... E me dei conta da luz do sol, e ouvi o canto de algum passarinho no arvoredo, e vi o sorriso tranquilo de um amigo...  O mundo gritava que a vida continua. E a ladainha milenar do rito budista foi caindo zum zum, zum em minha alma, e aliviando o coração de sua carga pesada. Foi quando (eureka!) me dei conta que a oração tem um poder especial, o de curar corações feridos. E percebi que o palavreado japonês que ouvimos como zum, zum, zum... e não entendemos são em verdade, aspersões de bênçãos de Deus. E terminada a celebração, ao oferecer o incenso senti que realmente, a alma estava leve.
      Momento de aprendizado divino!
      A oração cura e renova a alma.

     Mirandópolis, abril de 2018.
        kimie oku in
       http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/


quarta-feira, 4 de abril de 2018


         O começo, o fim...
     
      Sempre que vou à Clínica de Fisioterapia da Hissame Minomi Yoshida, assisto a uma cena comum que me faz pensar.
     Ao lado da Clínica há a Escola Caracol para os miúdos, ou Creche como queiram. E sempre vejo mães apressadas deixando a carga preciosa na porta da escola, onde alguém está à espera para a receber. As crianças pequeninas já acostumadas com a rotina recebem um beijo rápido das mães, e adentram no recinto como se estivessem em suas casas.
    Como vou de manhãzinha na Físio, não vejo a saída das crianças no final do expediente, mas imagino que deva ser a mesma coisa. Carros encostando ali perto, recolhendo os pequerruchos e indo embora.
     O que me faz pensar é que ao lado, justamente ao lado dessa primeira escola de crianças, existe uma Clínica de Fisioterapia. E frequentada por gente de mais idade, a maioria de idosos. Os novos na Escolinha, os velhos na Físio.
    E o que acontece na Escolinha de manhãzinha acontece também na Clínica. Os idosos são levados por suas filhas e netas e deixados ali para sessões de reabilitação de uma hora. Com cuidados extremos iguais aos dispensados aos pequerruchos... Então, as vagas para estacionar os carros estão sempre ocupadas com gente chegando ou saindo.
   É inusitado uma Creche ser vizinha de uma Clínica de Reabilitação. Isso nos faz refletir sobre as fases da vida.
     Na Escolinha, as crianças estão aprendendo a andar, a falar, a se sentar, a correr, enfim a se comportarem socialmente. E na Clínica tudo visa a correção de posturas, para eliminar dores que os anos de maus hábitos trouxeram...
     Na Escolinha, o início da jornada. Na Clínica, o fim.
     Ainda não estou precisando que alguém me leve para minhas sessões, mas sei que um dia não conseguirei ir sozinha. Percebo que o ser humano é um bichinho indefeso, que precisa de apoio dos outros. Quando nasce é um protótipo  desajeitado do que um dia será e, precisa de muito treino e ensinamento para se libertar e se tornar independente.
     Por isso, a criança precisa de cuidados extremos para não cair, não se ferir, não perder o rumo e aprender a caminhar de per si. Mas, quando se torna independente, ela se torna voluntariosa e age conforme seus instintos. E nem sempre descobre o caminho certo.
    E adultos tão cheios de si cometem enganos por força do trabalho ou maus hábitos mesmo, e vão ficando tortos, corcundas, capengantes, titubeantes... Deixam de ser donos de seus corpos, perdendo o comando sobre as pernas, os pés, os braços, os joelhos, as mãos...
   E então, aquela bela criança que frequentou creches maravilhosas, que aprendeu tudo certinho, de repente se torna um adulto cheio de dores, que precisa de sessões de massagens para continuar andando.
     Antigamente, não havia a opção de Fisioterapia para reduzir as dores e corrigir posturas. Todos morriam carregando suas dores até o fim, corcundas, tortos e capengantes... Conheci tanta gente que sofreu até o fim...
     O que será que devemos fazer desde que nascemos para nunca sermos escravos de dores?
     Haverá alguma forma de driblar o sofrimento e chegar ao fim da vida sem reclamar de dores?
     Afinal, pra quê serve a DOR?

     Mirandópolis, abril de 2018.
     kimie oku in



domingo, 1 de abril de 2018


             Os chapéus da Rosa
          
Tenho uma amiga, que não conheço pessoalmente, que não mora aqui, que ama a Literatura, que escreve poemas, que vive cercada de amigos e admiradores e que aprecio muito.

É uma mulher equilibrada, tem senso de humor, e além do mais é bonita e elegante. Nunca me encontrei com ela, mas é como se tivéssemos estudado juntas e percorrido vários caminhos em companhia uma da outra... De origem libanesa tão diferente de mim, que tenho ascendência japonesa, comungamos muitos ideais em relação à família, à sociedade, à própria vida. E para completar tem o nome da rainha das flores, Rosa. Rosa Chimoni, poeta, que valoriza o trabalho dos professores e tem uma paixão especial pela lua.
Como nos tornamos amigas? Por intermédio de um amigo comum de Mirandópolis, o Guto.  Já ganhei um presente seu “Transversais, livro em que contou a história de bravos professores que se dedicaram de corpo e alma à missão de ensinar os jovens. Valorizando a nossa classe tão desprestigiada  pela sociedade.

Pois bem. Essa Rosa tem mania de chapéus. Volta e meia me aparece no face com um chapéu diferente. De abas largas para preservar sua pele branca do sol inclemente, de abas estreitas para emoldurar seus cabelos loiros, de outros modelos para destacar seus olhos...
E vendo sua imagem diversificada eu me lembrei de uma cena do livro “O castelo do homem sem alma” de Archibaldi Joseph Cronin escrito em 1930, que narrou a história de um chapeleiro, que lavava e engomava os chapéus de seus clientes. Esse homem exerceu um terrível controle sobre sua família, para que se destacasse na sociedade, e chegasse aos píncaros da glória. A família constituída de um filho e duas filhas jovens além da esposa viveu sob seu jugo com medo, diria até terror porque o homem era um verdadeiro carrasco. Depois de estabelecer regras próprias de um regime militar, ele conseguiu destruir totalmente a própria família e terminar a vida sem nada e sem ninguém... E na última cena do livro, ele joga todos os chapéus que havia na sua Chapelaria. Visualizei o chão da rua lotado de chapéus de todos os tamanhos e modelos, como objetos sem serventia...

Sempre soube que os chapéus fazem parte da vestimenta de um homem ou de uma mulher. Inicialmente, o chapéu tinha a função única de proteger o cocoruto do indivíduo, mas ao longo dos tempos e da variação da moda se transformou em adereço de requinte e luxo. Hoje há chapéus para todos os gostos. Chapéus de caubói, que são sucesso nas festas sertanejas; chapéus de madames, que complementam seus trajes de luxo em casamentos e outros eventos sociais; chapéus de lavradores, que hoje possuem abas largas e uma proteção para o pescoço contra o sol de verão; chapéus de boêmios, que geralmente usam para esconder suas carecas; chapéus de religiosos, que destacam o grau de ascendência sobre a comunidade; chapéus de esportistas,  e chapéus de uso diário do cidadão comum para se proteger do frio e do sol, enfim chapéus para todos os gostos e usos...
Mas, o que tem a Rosa com os chapéus? A Rosa Chimoni usa chapéus e a admiro, porque nem todo mundo fica bonito com eles. Ela fica naturalmente bonita... E eu comecei a usar chapéu também por causa dela. Aqui onde moro, o sol é muito ardido, chega a queimar a pele e os cabelos... Nem sempre é possível usar sombrinha, porque atrapalha, além de ser um objeto que costumamos esquecer nas lojas, nos Bancos... E o chapéu a gente coloca na cabeça e lá fica.
A primeira vez que usei um chapéu, todos me olharam como se eu fosse uma extraterrestre e fiquei muito envergonhada. Mas hoje não estou nem aí para os olhares esquisitos... O que importa é me proteger.



Que tal você também adotar o chapéu?

Mirandópolis, março de 2018.
kimie oku in