segunda-feira, 24 de março de 2025

 

Hoje ao tentar no modo Público  perdi uma crônica. Não sei onde foi parar, porque sou uma nulidade em resolver esse tipo de questão. Então, achei por bem reescrever a crônica que a Luzitania Sangali quer compartilhar.

Era mais ou menos assim:

Em setembro de 1977 em plena ditadura Militar,  Lourenço Diaféria escreveu a crônica "Herói. Morto. Nós "  na Folha de São Paulo que lhe rendeu muitos dissabores e, até prisão por causa de uma frase: "Prefiro esse Sargento herói ao  Duque de Caxias. O Duque de Caxias é um homem a cavalo reduzido a uma estátua na Praça Princesa Isabel. O povo está cansado de espadas e cavalos. O povo urina nos heróis de pedestal."

Essa frase  indignou os Generais,  dentre os quais Geisel era o Presidente da República. Regime de então era a Ditadura Militar. E Duque de Caxias foi considerado e ainda hoje é o Patrono do Exército Brasileiro, por sua atuação como soldado destemido na

Guerra do Paraguai.

Diaféria foi preso e ameaçaram fechar o Jornal.

Entretanto, ele foi condenado a oito meses de prisão, dos quais cumpriu apenas cinco dias na cadeia e o resto em sursis.

Qual fora o motivo de Diaféria escrever tal frase?

Ele se referiu a um Sargento que pulou num tanque em Brasília,  para socorrer um garoto de 14 anos  atacado por ariranhas. O garoto foi salvo, mas o sargento morreu estraçalhado pelas ariranhas.

O que Diaféria escreveu foi muito grave comparado ao que a Débora fez. Ela escreveu "Perdeu, Mané" na estátua da Justiça, também em Brasília.

Diaféria foi condenado a oito meses de prisão, dos quais ficou apenas cinco dias encarcerado, e o resto dos dias só ficou limitado.

Débora pegou 14 anos e mais uma tremenda multa que jamais conseguirá pagar.

Lá era a declarada Ditadura Militar.

Aqui agora é a tal da tão decantada Democracia.

Mas que raio de Democracia é essa que pune tão duramente uma mãe de duas crianças, por pixar uma estátua de pedra?

Que Democracia é essa, que castiga  um ser humano em defesa de uma estátua de pedra?

Estátuas são representações que homenageiam  gentes e entes mitológicos que povoam o  ideário  popular.  Mas são de pedra.

Não estão vivos!

Dirão alguns que a estátua representa a Justiça. Mas que Justiça há em condenar uma jovem mãe a ficar 14 anos longe de suas filhas?

A estátua representa a Justiça.

Representa.

E a Débora representa o quê?

Ela não  representa.

A Débora é.

A Debora é um ser vivo, pulsante.

A Débora é de carne e osso.

Ela é   filha.

Ela é irmã.  

Ela é esposa.

Ela é mãe.

Ela é uma cidadã.

Ela tem endereço.

Ela trabalha.

Ela cuida de sua prole.

Brasileira.

Como todas nós brasileiras.

Pedra vale mais que sangue. O inanimado é intocável.  O ser humano vivo nada vale para essa gente togada.

Amigos, cheguei à triste conclusão que a Ditadura Militar tão condenada e odiada foi menos severa que os Ditadores togados de hoje.

Triste, muito triste.

Desiludida com a Justiça do Brasil.

Mirandópolis,  24 de março de 2025.

kimie oku in

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terça-feira, 24 de dezembro de 2024

 

            Os Ainus

 

Estou pesquisando sobre os Ainus, antigos indígenas do Japão.

Como todos os moradores primitivos de qualquer parte do mundo, os Ainus foram discriminados, desprezados e alcunhados de bárbaros.  Bárbaros peludos e selvagens.

Entretanto, os remanescentes que moram em Hokaido, ilha ao norte do Japão parecem ser mais civilizados e cultos que nós  tupiniquins.

Os antepassados não se barbeavam e viviam caçando  ursos pardos e pescando salmão.

Viviam em taperas construídas com madeira, cobertas com camadas grossas de capim e folhas de bambu.

A grande diferença entre outros aborígenes é  que eles não viviam nus. Vestiam roupas lindas, confeccionadas com fios processados da casca de certo tipo de olmo. Penso que eles, diferente dos demais aborígenes, cobriam o corpo com vestes devido ao clima cruel de Hokaido, que ainda hoje chega a atingir quarenta graus negativos.

Seu tipo físico era ímpar, que não se assemelhava aos povos europeus e nem aos asiáticos.

Houve muita luta entre os japoneses e os Ainus por se estranharem mutuamente. Diferença física, de língua, religião, cultura e costumes.

Mas os japoneses dominaram a ilha Hokaido e os Ainus acabaram  subjugados.

Recentemente, o governo japonês reconheceu os seus direitos.

Mas, a população ficou reduzida para uns vinte e cinco mil dos mais de oitenta mil, que havia antes dos confrontos.  Muitos fugiram para as Ilhas Sakarin e Kamchatca. E muitos outros se casaram com os japoneses, diluindo assim a raça originária.

Hoje os remanescentes que vivem Hokaido  falam inglês fluente ou japonês  e, estão  engajados na vida moderna  da comunicação.

Mas, há um grupo empenhado em manter a língua e as tradições culturais de origem.

Sua religião se concentra em respeitar a natureza. Cada pedra, cada planta, cada ser vivo tem uma essência sagrada, que deve ser honrada e respeitada.

Os antigos ao matarem um urso ou outro ser vivo, prestavam-lhe uma linda cerimônia  para agradecer o sacrifício  de sua vida.

Mesmo hoje, eles realizam cerimônias ao Deus do Fogo, ao Deus do Salmão e tratam as plantas e as fontes de água  com o maior respeito.

Depois de tudo, eu te pergunto:

Quem são os bárbaros?

Eles?

Ou nós ?

Mirandópolis, 23 de dezembro de 2024.

kimie oku in

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Observação: Segundo um amigo querido, descendente de bisavós Ainus de Hokaido: アチヤ......................................... pai

      イヤイライケレ...............obrigado

      キムカムイ....................urso

      ヒンナヒンナ.................vou me servir (ao comer)

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

 

E a Rachel Sperandio foi cirandar no céu...

Foi uma criatura linda, que espalhou  simpatia e doçura  por onde passou.

Professora amada e respeitada pela comunidade local.

Esposa do  sábio  e admirável  Professor Walter

Victor Sperandio.

Duas criaturas que fizeram a diferença  na educação  dos jovens.

Suas vidas não foram em vão.

Que Deus os reúna novamente na eternidade.

Mirandópolis, 21 de dezembro de 2024.

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domingo, 9 de junho de 2024

 

Ebe Aurora

Este nome de uma professora  que conheci, fez parte de muita gente daqui.

Era uma escola com centenas de alunos da periferia.

Filhos de trabalhadores rurais, de empregados do Comércio, funcionários da Prefeitura.

A maioria era bem carente e todos lutavam para sobreviver.

Mas a Escola fez uma grande diferença.

O Diretor senhor Aristides Florindo era enérgico  mas bondoso. Acolhia a todos com muito respeito.

O corpo docente foi de uma qualidade ímpar.

Professores como Gabriel Tarcizzo Carbello, Vilma Moura, Hamilton Rodrigues, Mary Aurea Rodrigues, Nelsia Fava, Santo Crevelaro Neto, Leonor Filipini Rezeke,  Neide Bini Doria, Iná Junqueira Franco, Fumiko Kawamoto, Eloisa  Miranda, Odete Fava,  Nelson Noda, Augusto Monma, Joaquim Ortega  Chiquito, Adele Assad, Luís  Lopes Gomes, Erna Sailer, Yoshimi Miyamoto, Dimar  Martin Menegazzi, Maria Aparecida Ortega Sanches. Flora Forte, Silvia Bonadio Camacho, Mafalda Alves Veronez, Ercilia  Seles, Marli Terezinha D'aquila Olian e tantos outros que esqueci...

Cada um desses  abnegados  mestres deu a alma para elevar o nível  de conhecimento de crianças e jovens que lá  estudaram, e hoje atuam na cidade como honrados cidadãos trabalhadores.

Além  do seu Aristides, a Escola contou com a valiosa ajuda do Professor Yussuf Hsain Alaby, que sabia como ninguém  orientar professores e alunos.

Com a conjunção de esforços da  Direção, do corpo docente e de funcionários  como  Arminda  Assunção da Costa, Isabel de Lima Correa e outros, a Escola conquistou um lugar de respeito na sociedade.

Era uma Escola pobre, simples, sem maiores problemas. E durante décadas encaminhou jovens que se tornaram  comerciários, funcionários  públicos, professores e outras funções  indispensáveis  à  sociedade.

A Escola cumpriu o seu papel. E centenas e centenas de cidadãos  mirandopolenses são participantes ativos da sociedade por terem lá estudado.

Infelizmente, esta história não termina bem.

Não sei quem deu a ordem para desmontar a escola.

Está totalmente descoberta e aos poucos acabará  em ruinas.

É muito triste  constatar que os mandatários não  valorizem o que realmente importa.

Pelo andar dessa carruagem, acredito que os bons costumes, os valores reais, a educação e a cultura acabarão se dissolvendo na mesma velocidade da destruição  de escolas.

E para que ninguém esqueça que um dia houve  uma escola, que cumpriu seu papel de encaminhar bem todos os que lá  passaram, fiz esse requiem  para a posteridade.

Ebe Aurora, escola onde atuei e fui feliz.

Mirandópolis, 08 de junho de 2024.

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Todas as reações:12Regina Rosado, Claudia Viana e 10 outras pessoas

segunda-feira, 6 de maio de 2024

 

Um lugar...

 

Estamos passando o nosso paraíso  para outros moradores.

Um lugar que desfrutamos  por mais de  quarenta anos.

Um ponto rústico  cheio de carrapicho, picao  e outras ervas daninhas.

Um pasto verde a se perder de vista, onde pastavam

preguiçosas vacas brancas.

Ali plantamos capim, milho, mangueiras, macadamia  e muitas outras frutíferas.  E aguardamos seu crescimento e produção.

E saboreamos tantas mangas doces como mel, lichia, macadamia e bananas. Tantas bananas... tinha sempre um cacho de vez.

E distribuímos  o excesso para vizinhos.

Fartura é  gratificante.

E a horta? Brigando e combatendo a teimosa tiririca, que sempre nos venceu.

Mas colhemos alface, cenoura, beterraba, brócolis, tomate  cereja de montao, por anos a fio.

Fiz tanto molho de tomate que durava meio ano.

E a água? Pura e saborosa, o poço nunca negou. Uma bênção!

E os passarinhos?

Bem te vis, jooes  de barro, canários  da terra, sabias, maritacas, periquitinhos, tucanos, araras, rolinhas, fogo apagou... todos numa sinfonia sem fim, mesclada com o zum zum das incansáveis abelhas polinizadoras

E as sauvas? Quanto lutei, quanto combati e o nunca venci. Lá  tem colônias sem fim com montanhas de ninhos subterrâneos.

E os serviçais  contratados? Tivemos apenas uma família  honrada que lá morou uns vinte  anos. E deixou saudades... Dinalva e Tonhao.

Os demais servidores foram só bagulho, gente que não gostava de trabalhar e só  queria usufruir. Não se fazem mais braçais como antigamente. Ninguém planta mais uma cebolinha. Preguiça demais!

Tudo isso  é  uma tristeza. Lei do menor esforço. A humanidade deteriorou-se.

Mesmo assim, conseguimos curtir o paraíso.  Respiramos aquele ar puríssimo sem igual, curtimos o céu azul onde singravam brancas nuvens e usufruímos  do sol que nos aquecia nas manhãs frias.

Tudo isso foi muito bom. Deus nos emprestou aquele cantinho para brincarmos  de gente do mato.

E soubemos usufruir de verdade.

Mas, agora é  hora de entregar  o bastão  para gente mais jovem.

Porque aquele chão nunca foi nosso. Só estava emprestado. Por Deus. E lá continuará   eternamente até o final dos tempos.

Que todos os futuros hóspedes  saibam amar tudo aquilo como nós  amamos.

E sejam abençoados.

Obrigada meu Deus!

Mirandópolis, 06 de maio de 2024.

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quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

 

Brasil

 

Eu não  entendo mais nada.

Todos os noticiários anunciam que o país  vai bem, obrigado.

O governo prega aos quatro ventos que tudo está  certinho, maravilhoso.

Não há  inflação,

não há  desemprego...

O Congresso  quietinho, apoiando Lula em todas as decisões. 

O Supremo só

cutucando  adversários a respeito do ataque a Brasília, em janeiro de 2023.

Mas, tá  tudo parado...

Bancos vazios...

Ninguém

comprando...

Mercados ao Deus dará...

Dívidas  se acumulando...

O povo cabisbaixo, triste...

Ninguém feliz...

O que está  acontecendo de fato???

Será  que apenas eu estou vendo o reverso da medalha?

Brasil descendo a ladeira...

Mirandópolis, janeiro de 2024.

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terça-feira, 16 de janeiro de 2024

 

Dinalva

Era uma mulher forte, criada no mato,

acostumada com as lidas da roça.

Sabia cultivar arroz,  feijão,

criar galinhas, 

criar porcos,

cultivar horta.

E foi aí que nos entendemos.

Ela cultivava alface, almeirão,

Eu cultivava beterraba, cenoura.

E depois aquele mundão de brócolis!

Brócolis que os pulgões não davam trégua.

A horta era o nosso ponto de encontro.

Que felicidade colher legumes fresquinhos.

E tomatinhos cereja...

que se transformavam em molho  tão saboroso.

E pimentões que teimavam em se derreter  ao sol...

E até bardana!

Foi uma fase tão bonita

de nossas vidas.

Todo mundo se alimentando bem

Ela aprendeu até a saborear brotos de bambu.

E ainda fazia crochê como eu.

Mulher forte, decidida.

Não sabia o que era preguiça.

Criou filhos e netos,

com a sabedoria de gente do campo,

valorizando cada fase da vida.

Ontem me apareceu num sonho.

Sorrindo, trazia uma tigela nas mãos,

como se estivesse voltando de uma festa comunitária.

Seguida de outras mulheres da família.

Cada uma com suas tigelas.

E se dirigiram para a casinha pobre do sítio.

Então, entendi.

Era uma mensagem dizendo que

foi muito feliz lá no meu sítio.

Dinalva foi cultivar verduras no céu.

Descanse em paz, minha amiga.

Mirandópolis, janeiro de 2024.

kimie oku in

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