segunda-feira, 6 de maio de 2024

 

Um lugar...

 

Estamos passando o nosso paraíso  para outros moradores.

Um lugar que desfrutamos  por mais de  quarenta anos.

Um ponto rústico  cheio de carrapicho, picao  e outras ervas daninhas.

Um pasto verde a se perder de vista, onde pastavam

preguiçosas vacas brancas.

Ali plantamos capim, milho, mangueiras, macadamia  e muitas outras frutíferas.  E aguardamos seu crescimento e produção.

E saboreamos tantas mangas doces como mel, lichia, macadamia e bananas. Tantas bananas... tinha sempre um cacho de vez.

E distribuímos  o excesso para vizinhos.

Fartura é  gratificante.

E a horta? Brigando e combatendo a teimosa tiririca, que sempre nos venceu.

Mas colhemos alface, cenoura, beterraba, brócolis, tomate  cereja de montao, por anos a fio.

Fiz tanto molho de tomate que durava meio ano.

E a água? Pura e saborosa, o poço nunca negou. Uma bênção!

E os passarinhos?

Bem te vis, jooes  de barro, canários  da terra, sabias, maritacas, periquitinhos, tucanos, araras, rolinhas, fogo apagou... todos numa sinfonia sem fim, mesclada com o zum zum das incansáveis abelhas polinizadoras

E as sauvas? Quanto lutei, quanto combati e o nunca venci. Lá  tem colônias sem fim com montanhas de ninhos subterrâneos.

E os serviçais  contratados? Tivemos apenas uma família  honrada que lá morou uns vinte  anos. E deixou saudades... Dinalva e Tonhao.

Os demais servidores foram só bagulho, gente que não gostava de trabalhar e só  queria usufruir. Não se fazem mais braçais como antigamente. Ninguém planta mais uma cebolinha. Preguiça demais!

Tudo isso  é  uma tristeza. Lei do menor esforço. A humanidade deteriorou-se.

Mesmo assim, conseguimos curtir o paraíso.  Respiramos aquele ar puríssimo sem igual, curtimos o céu azul onde singravam brancas nuvens e usufruímos  do sol que nos aquecia nas manhãs frias.

Tudo isso foi muito bom. Deus nos emprestou aquele cantinho para brincarmos  de gente do mato.

E soubemos usufruir de verdade.

Mas, agora é  hora de entregar  o bastão  para gente mais jovem.

Porque aquele chão nunca foi nosso. Só estava emprestado. Por Deus. E lá continuará   eternamente até o final dos tempos.

Que todos os futuros hóspedes  saibam amar tudo aquilo como nós  amamos.

E sejam abençoados.

Obrigada meu Deus!

Mirandópolis, 06 de maio de 2024.

kimie oku in

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