Mário Dias Varela
Mário Dias Varela meu
pai nasceu em Condeixa, ao sul de Coimbra em Portugal. Caçula de três filhos de
Manuel Maria Dias Varela e de dona Maria da Penha da Costa. Seu avô Zé Caetano
era um abastado dono de várias propriedades.
Aos 11 anos foi mandado para
estudar em Coimbra. Sua amizade com o Professor Mateus duraria toda vida. À
tardezinha ia às ruínas de Conímbriga para repassar as lições. Seu amigo de
infância Antonio Ventura era filho de José Ventura, autor de teatro. Conheceu o
padre Antunes que era o homem mais culto de Condeixa como Padre, Professor,
Advogado ; e o humanista Fernando Namora que era defensor da Natureza.
Aos dezoito anos, seu pai Manuel
Varela abriu uma loja em Figueira da
Foz, que vendia de tudo, “Secos e Molhados – Varela e Cia Ltda”, onde toda a família
trabalhou.
Papai foi balconista, somelier ou
provador de vinhos, enfermeiro no Hospital Militar, vendedor ambulante,
construtor, cafeicultor e pecuarista.
Fugindo da Ditadura de Salazar, em
1951 ele e quatro amigos resolveram sair de Portugal. Embarcaram num navio que
os traria ao Brasil, de onde partiriam para Austrália. Durante a viagem, o
navio fez uma escala em Las Palmas, nas Ilhas Canárias a nordeste da África,
para manutenção e abastecimento.
Os cinco jovens saíram para explorar a cidade e foram comprar
canetas tinteiro Parker 51, que eram a coqueluche do momento. Como troco, o
vendedor passou uma caixa com camisa para o papai..
Ao conferir a compra, percebeu que fora logrado. A camisa não
tinha mangas e nem a parte de trás... Mas já estava no navio rumo ao Brasil. Ficou
no prejuízo.
No Brasil, ele e o amigo Antonio Ventura foram trabalhar em
Santos numa loja de ferragens.
Enquanto isso no Japão, Saburo Arai que nasceu em 1905 em Takaoka,
Província de Toyama fundou a Hokoryuku Alumini Kabushike Kaisha, que estava tendo
grande sucesso com sua produção de peças de alumínio. E a Sociedade de Assuntos
Exteriores decidiu instalar uma fábrica de panelas de alumínio no Brasil. A
princípio, a cidade escolhida foi Mairinque em São Paulo. Mas os operários
teriam que receber um treinamento no Japão, e lá não havia descendentes de japoneses,
que falassem japonês. Então, decidiram por Mirandópolis, porque nas Alianças
havia muitos jovens nisseis disponíveis.
Em 1974, uma comitiva comandada por Dr. Osvaldo Brandi Faria,
Prefeito de Mirandópolis foi ao Japão para assinar o contrato.
E em 1975, foi instalada a fábrica no km 606 da Rodovia Mal. Rondon.
Em seguida, outra comitiva foi ao Japão em busca de recursos financeiros para
viabilizar o funcionamento da fábrica. Papai também foi. E durante três
décadas, a Nitinam produzia milhares de panelas que ficaram famosas no país
inteiro, pela qualidade. Produziu também peças para a indústria pesada. E centenas de jovens trabalharam nessa fábrica,
que infelizmente, acabou fechando com a
crise que atingiu o Brasil no inicio dos anos 2000. As panelas ficaram
conhecidas como “eternas” pela durabilidade. Foi muito bom para o município
enquanto durou. Nitinam significa De Norte a Sul.
Papai cultivou amizade com o senhor Saburo Arai, que era
responsável pela porção japonesa da indústria e morava junto da fábrica. Os dois
não conseguiam se comunicar por
desconhecerem a língua do outro, mas durante dez anos viajaram
juntos várias vezes para São Paulo. O respeito, porém era mútuo.
Saburo Arai morreu em 1988.
Papai conheceu mamãe Zilda nas Perdizes em São Paulo, e se casaram
em dezembro de 1955. Tiveram três
filhos: Maria Luiza, Reinaldo e Víctor. Foi proprietário das Fazendas Sta Cruz de Monte Castelo e Maringá no
Paraná.
Após sete anos, voltou a Portugal para rever os parentes e o
irmão José veio ao Brasil. Na viagem de volta, o navio atracou novamente em Las
Palmas, onde ele fora ludibriado anos atrás. Ele aproveitou para localizar o
vendedor desonesto e cobrou dele uma
camisa verdadeira. E foi ressarcido!!!
Mário Varela foi maçom em Sta Isabel do Ivaí, e Maringá no
Paraná, em Perdizes e Pinheiros em São Paulo e em Araçatuba e Mirandópolis,
completando 49 anos de filiação. Recebeu o título de Melvin Jones, a mais alta
honraria. Mevin Jones foi o fundador do clube.
Papai participou junto com outros 11 sócios da instalação da Usina Alcomira
em !979. Em 1982 a Usina já produzia 150 mil de álcool por mês. Quase cinquenta
nos depois, a Usina está lá proporcionando trabalho pra muita gente e
produzindo álcool até hoje.
Com 73 anos, submeteu-se à cirurgia do coração, feita com
sucesso pelo competente Dr. Adib Jatene, de quem era amigo.
Com 73 anos, passou a frequentar a Universidade aberta à
Maturidade em São Paulo. Lá conheceu a Profa. Maria Antonia e a profa. Alda Ribeiro
com quem aprendeu muito a levar a vida de forma mais leve.
Seu sonho era comemorar cem anos de idade no Restaurante Belga
em Londres. Mas, faleceu antes em 2018.
Papai foi um homem de ação. Ele não parava de criar, de
participar, de inventar. Queria tudo pronto para ontem e nunca para amanhã. Por
isso participou de muitos empreendimentos. A última foi ajudar a fundar o Grupo
Ciranda que reúne pessoas idosas e solitárias para encontros mensais, com o
objetivo de espantar a solidão. O grupo Ciranda
já completou dezesseis anos.
Muita citação poderia definir o senhor Mário Dias varela. Mas
ele gostava de citar “ Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é
o caminho”
Papai Mário Dias Varela, temos muito orgulho de você!
Mirandópolis, 31 de outubro de 2025.
Nota: Escrevi essa biografia para homenagear o sr. Mário Dias Varela com a denominação de um Conjunto Habitacional em Mirandópolis
kimie oku