terça-feira, 2 de setembro de 2014


                   Dia dos Pais
                 
      Na véspera do Dia dos Pais estive no pequeno cemitério em Lavínia, e levei velas, flores e incenso para os meus pais.
     Sim, porque dia dos Pais é Dia das Mães também, pois ninguém gera um filho sozinho.
    Ir à campa, onde repousam nossos ancestrais está ficando fora de moda, pois só os mais idosos é que cumprem essa reverência.
    Mas, esquecer os que nos geraram é como se renegasse a própria origem, como se os pais não existissem e nem tivessem importância alguma. Como se tivesse brotado do chão...
  Eu sou de origem japonesa, e como tal aprendi a reverenciar os antepassados, mais ainda os genitores, porque sem eles eu não existiria, com certeza.
   Por que será que os seres humanos estão ficando tão vazios de sentimentos?    Cada indivíduo está ficando mais e mais arrogante, e não dá a mínima para gestos de gratidão, de respeito para com os mais idosos, os mais experientes. Parece que, no momento em que aprendem a cuidar de suas vidas, dispensam os pais como se quisessem descartar deles. Isso é muito ruim porque os pais envelhecem, e vivem muitos anos ainda, geralmente abandonados e esquecidos como chinelos velhos, sem préstimo.
   Eu tive pais muito pobres, que nunca comemoraram aniversários, nem os próprios, nem os dos filhos, porque não havia lugar para esses luxos na vida dura que tivemos.  No calendário japonês que seguíamos, por tradição herdada de ancestrais do Japão, só comemorávamos o Dia 1º do Ano Novo, o Dia do aniversário do Imperador do Japão e os casamentos de membros da família. Natal nem pensar... Fazer o quê? Tradição era tradição.
   Hoje há festas o ano todo, comemora-se tudo, desde o anúncio de uma gravidez, a chegada do bebê, o anúncio de noivados, de casamentos, formaturas iniciando com a de Pré-Escola, até a formatura definitiva de Faculdade. Comemora-se a vitória do time, a promoção de cargo no trabalho, a nova casa, o novo carro, enfim tudo é motivo para festa. Dia dos Pais e Aniversários mesmo sendo tradição, se transformaram apenas numa reunião para se comer mais e beber mais.
   O que importa, os laços de família estão cada vez mais frouxos e muitas vezes totalmente esquecidos... Só importam as reuniões de amigos, onde cada um quer aparecer com o carro mais moderno, com os celulares da moda, com roupas chiques...
   Mas, os anos passam, e esses filhos deslumbrados da vida chegarão à idade de perceber que tudo isso é vão, que nada disso importa. Importa sim, viver bem cada momento, para um dia olhar para trás e perceber que, não viveu inutilmente, que tudo foi feito conforme os mandamentos de Deus e da tradição de família.
  Nossa geração está indo embora e, fico pensando no mundo que deixaremos para as futuras gerações. Será que a vida se resumirá em festas, cervejas e churrascos?
   Quando éramos jovens, nossos pais nos ensinaram uma coisa chamada moderação. Para tudo deveria haver moderação. Comer, beber, falar, brincar, passear, namorar com moderação, para não perder o controle da situação.
    Hoje ninguém é moderado, e se for, já, já será tachado de fraco, de bicha e que tais... Exagera-se em tudo: em vestir, em falar alto em qualquer ambiente, em gritar, em tirar satisfações, em dar queixa disso e daquilo...
   É a moda atual. Mas incomoda muito. E é muito feio e desagradável. Acho que sou de outros tempos, porque não aceito certos exageros. Abraços tão falsos, é querida pra cá, querida pra lá, mas na verdade não há liga, não é sincero. E a vida é tão preciosa para gastá-la fingindo...
    Tive a ventura de conviver com pessoas muito simples, que me deram muito carinho e respeito. Gente que nem sabe expressar seus sentimentos, mas que sabe ser generosa na hora certa, sem salamaleques e sem oba obas. A vida deveria continuar nessa simplicidade, porque é tão breve e o momento que passou não volta nunca mais. Cada momento é único e precioso.
  Um dia, tudo passa e a gente percebe como não soubemos aproveitar o tempo que Deus nos concedeu. Felizmente, mesmo com mais de sete décadas, ainda estou viva e posso usufruir de bons momentos fazendo algo pelo próximo. Tenho certeza que meu tempo está chegando ao fim, e por isso fico matutando essas coisas, que a gente gostaria de gritar para despertar os mais inconscientes e desligados.
   Mas, cada um é cada um e leva a vida como pode.
   E como bem lhe aprouver.

        Mirandópolis, agosto de 2014.
        kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/




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