quinta-feira, 28 de maio de 2015

                               Doença em família
    Ando bem incomodada ultimamente.
      É que estão ocorrendo muitos casos de doença de amigos e parentes. Há tantas famílias sofrendo com pessoas queridas acamadas.
     Conhecer muita gente ou ter uma família numerosa significa que está sempre envolvida com problemas. É verdade que, há momentos felizes também como nascimentos, aniversários e casamentos. Mas, o mais frequente são os problemas com doenças, com falecimentos que nos atingem no dia a dia. Como minha família é numerosa, sempre há alguém precisando de ajuda médica, e outros cuidados. E por ser idosa, conheço muitos amigos, e dentre eles também há casos de doenças. Todo dia, alguém me comunica que certo amigo ficou gravemente doente, ou que algum familiar foi acometido de um mal incurável... Tudo isso é muito triste, mas já até virou rotina, pela frequência que ocorre. Infelizmente.
        Não passa um mês sem o falecimento de um amigo querido ou de um conhecido. E a gente vai perdendo o chão. Às vezes, volto de um velório e logo fico sabendo de outro funeral. E isso vai apertando o cerco, como se me acuasse, como se me fizesse ir para a ponta da fila, para ser a próxima...
        Por outro lado, tenho que considerar que, foi muito difícil para a família Kawasaki perder vários familiares num pequeno espaço de tempo. Foram cinco perdas em dez meses...
        E sei de amigos que estão pelejando para recuperar a saúde ou para salvar algum membro da família... Alguns tiveram um mal estar súbito que os deixou acamados, tornando-os dependentes para as necessidades básicas.  E aí, é necessário o home care, que é uma assistência médica em casa, que algumas famílias afortunadas podem dispor graças aos onerosos Seguros  Saúde... E fraldas descartáveis, e alimentação apropriada, e cuidados especiais... A rotina da casa fica de pernas pro ar... Outros menos afortunados ficam amarrados ao Hospital Público local, que pouca ajuda pode oferecer. Dizem as más línguas que deixar lá um doente é deixá-lo para morrer...
        O que mais dói é ver uma criança nascer sem condições de se tornar independente. O dia a dia dos pais é triste, recheado de medo, revolta, esperança, orações, suspiros...  E há casos de crianças saudáveis que, de repente param e a vida fica travada... Não há explicação para esses casos... E o sofrimento dos pais parece ser até maior, porque conheceram a criança vendendo saúde, cujo futuro parecia tão promissor... E tudo isso é interrompido. Por que?
        Tive uma amiga, que um dia adotou uma recém nascida. E a criou com muito mimo, porque a filha legítima já era adolescente, e podia se dedicar à pequena. Até os dois anos de idade, a criança se desenvolveu normalmente e se tornou a paixão da família. A mãe tinha tanto orgulho e, vivia mostrando para os amigos os encantos da menina... Mas, um dia, ela começou a travar e foi aos poucos paralisando-se. E foi irreversível, apesar de tentar todos os recursos possíveis e disponíveis na época... Enfim, depois de meses de sofrimento e impotência entremeada de esperanças, a pequerrucha acabou partindo. Foi muito doloroso. Para essa mãe ficou apenas o consolo de umas fotografias da menininha, que ela mostrava para todo mundo, rindo e chorando e contando como ela fora feliz por ter cuidado desse anjinho...
        Toda família tem alguém doente, que precisa de cuidados, de atenção. E observando as ocorrências de dezenas de famílias, cheguei à conclusão que, quando adultos ficam doentes de males irreversíveis, é preciso abaixar a cabeça e aceitar, porque são adultos e já viveram a sua cota de vida. Difícil é aceitar males irreversíveis em criancinhas, que nem viveram ainda... Até hoje fico questionando Deus pelos anjinhos que nascem só para sofrer.
        E toda família que, está passando por essa situação precisa do consolo de amigos, de uma visita, de palavras de estímulo, de coragem para cumprir o que lhe foi destinado. Porque não é fácil cuidar de um doente durante as vinte e quatro horas do dia. A vida de mães e pais que estão passando por isso, fica completamente desorganizada, e muitos deles se esquecem de viver a própria vida. Dedicação extrema, que o doente exige ou requer e que torna os cuidadores meio autômatos, sem alegria,   sem espaço para realizar seus desejos... Visitar doentes é difícil?  Mesmo assim, é necessário que os amigos o façam. Porque se um amigo não estende a mão e o ombro amigo, quem o fará?  E praticar a solidariedade é preciso.
        Amanhã, o amigo poderá também precisar de ajuda... Ninguém sabe o que o destino nos reserva no porvir.
        Todos nós falamos com firme convicção que, não desejamos ficar acamados e dar trabalho para outros. Mas, isso não depende  de nossa vontade. Tem alguém lá no alto que tudo vê, tudo decide e dispõe de tudo. Ninguém quer viver pela metade, sendo auxiliado nas mínimas necessidades, porque é humilhante demais não poder cuidar de si próprio, e ter que ser lavado, higienizado e alimentado por alheios. Isso não é viver.
Mas, a vida muitas vezes vai embora devagarinho, como uma vela que vai sendo consumida pelas chamas. E nada pode mudar esse processo. E nós sofremos vendo uma pessoa querida ir se apagando como uma vela. Sofremos pela nossa impotência, pela nossa incapacidade de ajudá-la nesses momentos finais. Cabe a nós apenas orar, orar, orar e pedir a misericórdia de Deus. E proporcionar-lhe o máximo de conforto possível nessas horas derradeiras. Sem dor.
Ver um ente querido ser consumido por dores lancinantes é uma experiência terrível Aliás, eu gostaria de saber a razão de existir a dor. Ela judia das pessoas e ninguém lucra com isso. Já perdi uma pessoa querida passando por dores indescritíveis. Era tanta dor, que ela perdeu a voz para gemer, mas continuou se contorcendo até perder a consciência. E eu me senti uma inútil, sem poder ajudar a dirimir a dor. Até hoje me dói tanto relembrar a cena...
Apesar disso tudo, viver é preciso, porque a vida é uma graça que a poucos foi concedida. Então, travemos os dentes e vivamos com coragem, enfrentando todas as dores e todos os sofrimentos a nós destinados. E viva a vida!

Mirandópolis, maio de 2015.
Kimie oku in


       



        

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