terça-feira, 22 de setembro de 2015

            O tempo nosso de cada dia
  
   O que é o tempo?
      É algo impalpável, invisível, abstrato, inodoro, incolor, que existe. Como? Ele tem movimento, ele voa, ele para, demora para passar... Então, existe. Mas, ninguém consegue controlá-lo jamais. Ninguém consegue dominá-lo, guardá-lo, segurá-lo... Mas que existe, existe!
      Foi inventado para o homem ter um controle sobre suas ações, sobre sua passagem nesta Terra. Milênios, séculos, décadas, anos, meses, semanas, dias, horas, minutos, segundos tudo isso são palavras inventadas pelo homem. Não existem, apesar de controlarem com calendários, agendas, relógios, cronômetros e tecnologia.
      Para nós, cada dia tem vinte e quatro horas, das quais utilizamos um terço para trabalhar, um terço para outros afazeres e o restante para descansar. Mas, essas horas ocorrem num continuum, e não existem como algo concreto. É assim: amanheceu, as trevas foram embora com o surgimento do sol, que iluminará parte do planeta Terra até chegar o ocaso, e as sombras virão ocupar o lado que esteve iluminado. E o dia se tornará noite. O relógio é apenas uma máquina inventada para lembrar ao homem de seus compromissos: hora de levantar, de trabalhar, de almoçar, de voltar ao trabalho, de encerrar o expediente, de voltar para casa, de tomar banho, de jantar, de repousar... Os Incas usavam cordões ou quipos para marcar fatos importantes, como estatísticas de recenseamento de pessoas, de rebanhos... Era um cordão principal com vários cordões coloridos, onde se faziam nós... Devia ser muito complicado. E outros povos usavam as sombras para medir o tempo. Depois inventaram o relógio de areia ou ampulheta... O homem sempre foi muito criativo.
      Interessante é que com a mensuração do tempo, surgiram palavras para definir cada medida, como ontem, hoje, amanhã, agora, semana que vem, ano passado, futuro, presente, passado, quinzena, bimestre, triênio... E tudo se refere a algo que nem existe. Instante, eternidade, porvir... Também se referem à mesma coisa.
      Temos o hábito tão arraigado em nossa cultura de dizer que o tempo passa depressa, que o ano já passou da metade, que no próximo ano vamos fazer regime, cuidar da saúde... Esse tempo é apenas uma referência, pois ele não existe. E costumamos dizer que “as horas não passam” quando estamos vivendo momentos conflitantes, e que “a tarde passou depressa” em momentos felizes...
      E ainda existem os tempos de chuva (que saudades!), de ventanias, de temporais, de seca brava, de calor que queima e seca tudo... E tem as Primaveras, os Verões, os Outonos e os Invernos para separar épocas do ano. E reclamamos o tempo todo dos tempos gelados, dos tempos tórridos de Verão de 40 graus, dos tempos de seca, dos dias intermináveis de chuva...
      E o que os antigos costumam falar sempre “no meu tempo...” se referindo a um passado meio distante, em que os costumes eram outros. E os profetas nos ameaçam com “tempos virão para cobrar vossos pecados, vossa falta de fé...”
      Mas o homem não recebeu a graça da vida para ver o tempo passar. Ele tem que se ocupar, tem que se empenhar em alguma coisa para sobreviver. Daí, vai trabalhar e conta os dias para ter direito ao descanso semanal, os meses para conseguir o décimo terceiro salário, os anos para licenças-prêmios e férias, e cumpre todo o tempo necessário para poder se aposentar. A esperança do trabalhador é poder se aposentar e descansar, curtindo a vida antes de partir definitivamente desse mundo.
Entretanto, a vida é muito curta. Ela é apenas um sopro que passa... E muita gente sabe aproveitar esse tempo para se realizar, para aproveitar as boas coisas da vida. Uns gostam de viajar para lugares exóticos, outros gostam de festar, de dançar, outros ainda de pescar... E outros mais de jogar: bola, truco, vôlei, basquete, caxeta, sinuca, malha, tênis, bingo, bocha. E jogar nas loterias, que concentram as esperanças de multidões...
Nesta vida há tanta diversão para todos os gostos: cultivar um jardim, cuidar de uma horta, cozinhar, costurar, fazer bolos, criar umas galinhas, cuidar de cavalos, de cachorros, de gatos, de pássaros, de peixes... Nadar, praticar ginástica, caminhadas, corridas, ciclismo, motociclismo, escalar montanhas, esquiar, explorar florestas e matas...
E sem sair de casa ainda há outras diversões absolutas, que fazem o gosto de muita gente: ver novelas de tevê, assistir filmes, ler livros, ouvir música, tocar instrumentos musicais, fotografar, desenhar, pintar, escrever livros e pesquisar sobre os mais variados assuntos (tão fácil com o Google disponível!)
Como veem, há tanta variedade de ocupação para tornar a  vida mais agradável, mas a maioria dos aposentados se acomoda e não faz nada. Passa os dias e os anos pregado no sofá, queixando-se de dores aqui e ali, e não tem ânimo para dar uma volta no quarteirão. Ele sabe muito bem que as dores são a consequência de falta de exercício, de má postura no sofá, de não caminhar, mas como parou no tempo, não faz nada para melhorar... E aí vive se lamentando. Morto vivo. Desolador...
O tempo de aposentadoria foi a grande conquista da humanidade. Antes, os trabalhadores não tinham esse direito e trabalhavam até morrer. Já imaginou? Trabalhar direto desde que começa uma labuta, sem férias, sem parar até morrer? Era exatamente assim. E ninguém reclamava do pagamento irrisório, porque era dispensado na hora. Com a Revolução Industrial, os operários que trabalhavam 12, 16, 18 horas diariamente, é que conquistaram esses direitos para nós. E a sociedade foi aprimorando os direitos do trabalhador, até acabar concedendo férias, licenças- prêmios e gratificações. Mas isso só foi conseguido depois de muitas brigas, de levantes, de confrontos entre patrões e empregados. Felizmente, todas essas conquistas foram transformadas em leis trabalhistas e o tempo de escravidão ficou para trás. Então, por que as pessoas não aproveitam esse tempo de aposentadoria? Realizando sonhos. Vivendo, mesmo que por um lapso de tempo, tudo aquilo que desejou viver...
Ainda é tempo! Antes de partir para sempre desse mundo, vamos realizar os sonhos mais caros que cada um de nós carrega. Só assim a vida terá valido a pena. Porque no final das contas, a gente vive a vida toda para os pais, para os irmãos, para os filhos, para os netos, os bisnetos... E esquecemos de viver a própria vida, para nos satisfazer.
E o que você tem feito do seu tempo?

Mirandópolis, agosto de 2015.
kimie oku in




      

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