domingo, 10 de abril de 2016

                Frutíferas
    
É muito gratificante receber feedback dos leitores de minhas crônicas. Volta e meia, alguém me interpela, para comentar um pouco as ideias que ando divulgando.
Esta semana recebi uma sugestão do amigo José Antonio de Lima, conhecido como o Lima da Farmácia. (hoje não atua em farmácia, mas na Clínica Veterinária da  Doutora Camila, em frente à minha casa).
Pois bem o Lima sugeriu que, escrevesse uma crônica sobre as árvores frutíferas que existem nas ruas de nossa cidade. Naquele instante, eu me lembrei de outro amigo que morou aqui, o Carlos Alberto Trombelli, que tinha o sonho de arborizar a cidade com frutíferas.
Na época, o Trombelli era proprietário de uma Livraria na Rua Gentil Moreira, e na calçada em frente havia um pé de pinha, e mais adiante um pé de goiaba e de limão. E aí, ele manifestou esse desejo de encher a cidade com frutíferas, que saciariam a fome dos passantes. Achei extraordinária a ideia.
Mas, o Trombelli foi embora de mudança e esqueci dessa história, que o Lima me fez lembrar recentemente.
E esse amigo me trouxe uma lista de ruas, que possuem atualmente árvores frutíferas, plantadas por anônimos e que oferecem frutas, para quem quiser. Fiquei muito encantada ao constatar que, o Lima fez uma pesquisa e anotou os locais onde existem essas árvores. A lista não é extensa, mas interessante. Com certeza, deve haver mais frutíferas espalhadas por outras ruas, porque a nossa cidade cresceu muito. Mas, isso não importa.
O que importa é a intenção de quem plantou essas mangueiras, essas goiabeiras... Com certeza tinha o desejo de compartilhar as frutas com outras pessoas. E isso é muito bonito, pois as frutas são oferendas de Deus e devem ser repartidas com todos. Principalmente para quem não tenha condições de comprá-las.
E como nem todos possuem espaço em seus terrenos, a solução seria mesmo essa – plantar árvores frutíferas nas calçadas. Além da sombra que nos aliviaria do sol inclemente, haveria frutas saudáveis e gratuitas para qualquer um saborear.
Sei que existem cidades que cultivam frutíferas nas ruas. Recentemente soube de uma cidade que possui jaqueiras nas calçadas. E deve haver um certo controle para não crescerem demais, pois disseram que estas em especial dão frutos nas partes baixas do tronco, ao alcance da mão... Porque tendo espaço, elas crescem demais e é difícil colher as jacas lá do alto. Tenho cinco pés no sítio e é muito difícil colher aquelas frutas enormes. Conheci uma cidade mineira, que tinha as ruas cheias de jabuticabeiras. E a cidade leva o nome da espécie dessa jabuticaba, Sabará. Soube também que existe na Bahia uma cidade com plantação de pitangas nas calçadas, e que ficam todas vermelhinhas e cheirosas na época da frutificação.
De acordo com o amigo Lima que me inspirou essa crônica, a fruta predominante em nossas ruas é a manga. Há uma porção de mangueiras na Avenida Rafael Pereira, quatro na Senador Rodolfo Miranda esquina com a Álvaro Guiato, mais quatro na mesma Senador Rodolfo nos números 428, 430, perto do Forum, e no número 1857. Ainda há mangueiras na Rua São João nos números 477, 557 e 620. E no número 1648 na D. Pedro também tem uma mangueira. Dezenas de mangueiras! Doces mangas!
A vice campeã é a goiaba. Há goiabeiras na Rua nove de julho, junto ao DAE- ETA, na Álvaro Guiato esquina com a Senador Rodolfo, na Rua Dr. Edgar Raimundo da Costa, na Senador Rodolfo Miranda 1183, e na São João nos números 384, 584 e 620. Sete goiabeiras, talvez mais...
A Rua mais favorecida com árvores frutíferas é Senador Rodolfo Miranda, que além das cinco mangueiras e das três goiabeiras, possui ainda um pé de acerola no número 681, um pé de carambola no número 365, um cajueiro no número 428, e uma jabuticabeira no número 681.
Ainda existem outras frutas como a graviola na Edgar Raimundo da Costa, um umbuzeiro na Raul da Cunha Bueno, junto da travessa da ferrovia, no Bairro Paulicéia. Há também um cajueiro na São João 576. Ah! Existe uma pitangueira na Macoto Ono, perto do Salão de Beleza da dona Hilda. E na Armando Sales de Oliveira, nas proximidades do Correio existe um pé de amora e uma romãzeira.
Saí para fazer umas compras e descobri na Rua Mizael  Leandro Alves , uma porção de coqueiros e um pé de laranja na calçada. E junto à passagem de nível da ferrovia, perto do Posto Veroneze, há uma fileira de coqueiros separando as duas pistas. E percebi que o coqueiro é a frutífera mais adotada pelos nossos moradores. Existem várias espécies de palmeiras, conhecidas como buriti, carnaúba, babaçu, pupunha, açaí. Só que honestamente não sei discriminar umas das outras, então as classifico como coqueiros... Também existe um pé de pinha ali perto da Praça Manoel Alves de Ataíde, na Rua São João. Vi um pé de amora na Adelino Minari, e aqui perto na Edgar Raimundo da Costa há um pé de abacate.
E no Bosque da Pista da Saúde, há pés de ingá, jatobá e jenipapo entre outras dezenas de árvores.
Essas árvores devem ter alimentado tanta gente ao longo dos anos, com doces e saborosas mangas para os moleques, goiabas para os jovens e umas pitangas para os passarinhos. Além de alimentar os colibris, beija flores e borboletas com seu mel. Arapuás e formigas devem também usufruir desses benefícios...
Como vêm, as árvores exercem uma linda função e não atrapalham ninguém. É possível conviver em harmonia com elas, mesmo que cresçam nas calçadas. Os benefícios que elas oferecem, muitas vezes nem um cidadão bem intencionado é capaz de produzir. Pensemos que além das frutas, elas nos oferecem a maravilhosa sombra que nos protege do sol quentíssimo do Verão, e o precioso oxigênio que purifica o ar, tão indispensável à vida.
Mesmo assim, existe gente muito fraca da cabeça, mas fraca demais que não tolera árvores nas calçadas e acaba matando-as. Implicam com as folhas secas que caem no chão e têm que ser varridas. E recentemente descobri com tristeza que, tem gente jovem que constrói e reforma casas, e para exibir a fachada nova derruba as árvores que o morador antigo levou anos cultivando-as. E ficam desesperados, procurando sombras nas casas vizinhas para seus carros em dias muito quentes... Desventurados e pobres de espírito.
Conversando com o meu Professor Gustavo Ordine a propósito da seca lembrada nas canções “Assum Preto” e “Asa branca” que estou tentando tirar ao piano, ele me contou um fato interessante. Um aluno do Conservatório que veio lá do Nordeste comentou que, a diferença notória que existe entre as nossas cidades é que, lá não há árvores nas ruas. Somente casas. Um amontoado de casas que não têm o benefício do frescor que as árvores oferecem. Fiquei matutando: Será que é cultura regional? Será que não plantam porque não se desenvolvem? A falta de água limita essa plantação? Ou simplesmente não se importam com a falta de sombra? Estranho, muito estranho...
Um outro amigo, que foi meu aluno em Amandaba e mora em Fortaleza no Ceará, veio visitar-me um dia e disse que lá em tempos de seca, quando se avista algo verde na paisagem, pode ter certeza que é apenas uma porteira pintada... É desolador ouvir isso.
O que fizemos com o nosso planeta?
Embora haja regiões tão empobrecidas no planeta, em Mirandópolis felizmente há cidadãos bem intencionados, que cuidam de árvores não só pelo benefício das frutas e beleza das flores mas sobretudo pela sombra benfazeja, que nos alivia desse calor tropical.
E plantemos mais frutíferas, que o benefício é infinito.

Mirandópolis, fevereiro de 2016. Kimie oku in



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