sábado, 18 de março de 2017

          
       Felicidade         

O que é a felicidade?
É encontrar o parceiro da vida para viver um conto de amor?
Então, por que tantas separações?
É ter filhos e pelejar por eles? Mas alguns filhos matam os pais...
É vencer na carreira e chegar ao topo? Tem tanta gente que despencou feio depois...
É ficar multimilionário? Há tantos multimilionários hoje na cadeia...
É ter um físico maravilhoso e tornar-se um atleta insuperável? Pelé foi o atleta do século e está tão infeliz...
É ter uma saúde de ferro que dispense remédios e hospitais?
Ninguém é de ferro. Uma hora, o organismo começa a deteriorar-se...        
É ser amado e admirado por uma multidão pedindo autógrafo? A glória é passageira. Tanta gente famosa já foi esquecida.
É ter poder para mandar e desmandar e não precisar prestar contas a ninguém? A queda de dois Presidentes do Brasil provaram que poder nada é.
É ter uma família perfeita, que cause inveja às outras famílias? Todas as famílias têm estrangulamentos, que só elas sabem...
É viajar pelo mundo, conhecer lugares exóticos e costumes nunca imaginados? Mas, não dá pra trazer esse mundo para casa.
É ter um castelo, cujo domínio vá até os confins da Terra? Os sem terra irão acampar e tomar pouco a pouco os lotes, na marra.
É ser superinteligente, e nunca ser enganado? Mesmo os super, super erram. Einstein separou as partículas do átomo... E daí surgiu a bomba atômica...
É ser tão belo que chame a atenção da mídia? A beleza acaba um dia e a mídia perde o interesse...
É ter uma roda de amigos fiéis até a morte? Amigos fiéis são raríssimos...
É ter uma fortuna inesgotável? Mesmo que seja inesgotável, quando a morte chega, ela será de outros...
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     Cada questão acima pode representar a meta de alguém para ser feliz, mas o que é mesmo a felicidade?
É possível buscar e alcançar a felicidade nos 60, 80 anos destinados a cada um aqui na terra?
     Porque todo mundo tem esperança e peleja todos os dias para alcançar a felicidade.
Mas... a felicidade não será apenas uma utopia? Uma promessa inalcançável? Uma ilusão prometida para mobilizar a humanidade?
     Se a humanidade não tivesse esperanças, não moveria uma palha no dia a dia... Pra quê? Afinal, todos irão findar um dia... E tudo não passará de um sonho mal sonhado...
     Estive neste domingo matutando sobre tudo isso, enquanto varria as folhas e flores da calçada de minha casa. Pois é melhor manter a cidade limpa, para o bem de todos.
    Como já estou no limiar da vida, com mais de sete décadas de existência, tenho as minhas dificuldades resultantes de má postura, de pisar inadequado, de articulações gastas... E apesar de não ter dores, percebo que a cada dia fica mais difícil movimentar o corpo... Perdi a leveza de movimentos, que hoje são bem lerdos... Não reclamo e faço o que posso para manter as pernas mais ou menos articuladas, para ir onde precise. Por enquanto estou conseguindo.
    Ainda consigo ir Banco fazer as operações necessárias para pagar as contas. Consigo ir à farmácia e garantir o estoque de remédios do mês... À quitanda buscar uma fruta, um legume qualquer.  Ao Conservatório dedilhar meus dedos antes que a arteriosclerose... Já ao Mercado preciso usar o carro porque é mais distante. E mesmo com algumas barbeirices, consigo estacionar o carro nas vagas disponíveis... Aliás, deveriam reservar mais lugares para os idosos, pois só destinam uma ou duas num estacionamento de quinze a vinte vagas. E os idosos são um terço da população hoje.
     E quando volto sã e salva, agradeço a Deus...
    Percebo, porém que já não consigo carregar pesos acima de três quilos por mais de uma quadra!!!   E sou tão grata às lojas que fazem entrega em domicílios. Não imaginam como salvam os idosos cansados. Por que será que a gente perde as forças? Já fui tão forte e suportava pesos de até quinze quilos. Hoje não aguento mais...
   E por tudo isso, fiquei pensando o que seria a verdadeira felicidade. E descobri! Eureca!
    Felicidade pode ser tudo aquilo que indaguei no começo dessa crônica. Isso para os jovens, ambiciosos e autoconfiantes no próprio sucesso. Mas, com o passar dos anos, com as experiências sofridas, o nosso modo de pensar e de encarar a vida acaba mudando.
Felicidade é ter saúde para usufruir cada momento da vida. Poder comer um pouco de tudo sem estufar como um balão. Poder andar de per si até ao Banco, à farmácia, à mercearia, ao bazar e poder escolher as frutas, as linhas para o bordado e comprar os remédios necessários. Poder andar pelas calçadas e parar para apreciar algo bonito na vitrine, para receber um abraço de um amigo e papear um pouco... É poder administrar o próprio pagamento mesmo sendo tão reduzido, e controlar os gastos sem a interferência de outros...     Felicidade é ainda ouvir mais ou menos o que se fala ao redor, embora muita coisa mereça ser ignorada. É enxergar as pessoas queridas, poder ler as mensagens de amigos e escrever o que se passa na mente. É sentir ainda a dor do outro, para poder consolar e oferecer ajuda. É entender as pessoas que nos cercam e interagem em nossas vidas. Mesmo sendo difíceis e ranzinzas... É acima de tudo, saber tolerar e perdoar...
     Felicidade é poder decidir por si mesmo como vai desfrutar do dia, da semana, das horas de folga, dos fins de semana, sem ser teleguiado... Felicidade é ter liberdade de cutucar o jardim quando der na telha, tocar um pouco as sonatas ao piano, ler um livro na madrugada... É saber agradecer todos os dias a companhia do parceiro, mesmo que às vezes a relação entre em convulsão. Melhor isso que a solidão. Sozinho não haverá com quem desabafar, com quem rir, com quem discutir e nem com quem brigar... Solidão é foda.
     Felicidade é ter a coragem de recusar um convite, mesmo que seja para uma cerimônia maravilhosa e exclusiva... (Não suporto certas cerimônias!)
     Felicidade é poder ignorar certas pessoas que nos irritam com sua arrogância, com sua voz estridente, com seu desejo inconfundível de querer alçar voo na escala social, aproveitando os ombros de outrem...
     Felicidade é ter o suficiente, não mais que isso para ter uma vida mais ou menos confortável. Ter demais só desperta a ganância dos ladrões... Quando se tem demais não haverá mais ambição, mais desejo nem sonhos... E necessário aprender a controlar tudo com parcimônia.
     Poder, dinheiro, beleza física, fama, inteligência, um milhão de amigos, um castelo encantado.. Nada disso é sinônimo de felicidade. Se isso fosse felicidade, os políticos corruptos seriam muito felizes assim como os multimilionários, os famosos que aparecem na mídia todos os dias. Mas... quanta tragédia na vida deles.
     Para mim no momento, felicidade é ainda poder andar, varrer e recolher as folhas das árvores, que sombreiam a frente de minha casa. É poder caminhar e fazer exercícios de alongamento. É ver o pé de maracujá que plantei, preparando as frutas que se transformarão em deliciosos sucos... É conseguir preparar uma boa refeição de domingo para mim e para o meu esposo. É crochetar uns guardanapos para pessoas queridas. É poder visitar pessoas alquebradas pela idade, que querem conversar um pouco e tomar um cafezinho junto. É trocar ideias pelo facebook e arejar a mente.
     E escrever essas crônicas.
     Felicidade é só isso.
     Para mim é o bastante.

    Mirandópolis, fevereiro de 2017.
    kimie oku in



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