terça-feira, 4 de setembro de 2018


    O apanhador no campo do centeio
                    ( literatura)
 Quando li o nome desse livro, imaginei um campo dourado de centeio a se perder de vista no horizonte...
 E achei incrível um livro com um título tão bonito ter inspirado alguns doidos a cometer assassinatos. Como foi o caso de Mark Chapman que matou John Lennon, o caso de John Rinkley que tentou matar o Presidente Reagan e o de Robert John Bardo que assassinou a atriz Rebbeca Schaeffer. Esses assassinos haviam lido O apanhador.
Ao iniciar a leitura, constatei que era a história de um garoto de dezessete anos, que fora expulso de um dos mais conceituados Colégios, por não ter apresentado rendimento aceitável. O jovem Holden Caulfield é apenas um adolescente que não compreende o mundo, a sociedade, a escola e não entende as regras pré-estabelecidas pelos homens. E usa palavras de baixo calão para se referir a tudo que o rodeia: colegas de escola, professores, Diretor... É um rebelde sem causa, que ainda não se encontrou e despeja toda a sua insatisfação contra o mundo que não compreende.
O que mais intriga o leitor é a questão dessa leitura inspirar atos inaceitáveis como os crimes citados. O livro foi escrito na década de 40, e os costumes eram outros. A linguagem era outra, o comportamento das pessoas era outro e, ninguém se atreveria a pôr no papel tanta revolta contra a escola e a sociedade, a não ser o autor J. D. Salinger. Por isso, o livro provocou uma revolução, e foram vendidos 65 milhões de volumes. E parece que foi o gatilho para assassinatos incompreensíveis...
A linguagem é simples, despretensiosa e revela apenas a inquietação e a confusão de um jovem adolescente, que não sabe o que quer, e se sente infeliz por isso. Ao ser expulso de mais um colégio, ele tem medo do confronto com os pais, e evita ir para casa. Fica vagando por bares, por hotéis, pelas praças, vai à casa de um Professor que o tratou com certo carinho, vai se encontrar com sua irmã... Essa embromação dura todo um final de semana até que por fim, ele enfrenta o inevitável e vai para casa. Embora não narrado, pode se perceber que a família não o compreendeu e o internou em alguma Casa de Recuperação, de onde ele está fazendo a narrativa.
Mas, nem tudo é negativo no livro.
O jovem demonstra um carinho especial para com sua irmãzinha de dez anos e outro irmão, já falecido. Seu amor parece incondicional para com eles. Também demonstra um certo respeito para com dois Professores. E uma preocupação inusitada pelo destino dos patos quando o lago do parque congela...  Ele pensa. E é só.
Só fui entender toda a trama e o título quando deparei com isso:
“...fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto... quer dizer ninguém grande...a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o que é que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice.”
Só que ele não conseguiu proteger John Lennon nem Rebbeca Schaeffer.        E nem seus algozes que caíram no precipício...

Mirandópolis, setembro de 2018.
kimie oku in

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