terça-feira, 6 de agosto de 2019


                   Abandono

       Ontem amanheceu muito gelado e pensei nas crianças mal agasalhadas que vão à escola tiritando de frio.

     Não tive dúvidas! Só iria à Fisioterapia e mataria a aula de Piano.
     Precisava ir a Amandaba, e entregar os coletes de lã que tricotei para as crianças da Creche. Cheguei lá e encontrei a Neuza Bezerra de Amorim e a Nice Brito. Ambas foram alunas minhas lá pelos idos de 70. Sempre encontro ex alunos em Amandaba, e há muito carinho nos abraços, nos reconhecimentos.
      Ao visitar a classe, havia apenas oito alunos presentes. O frio não permitira a presença dos demais. A professora Cássia me informou que dez estavam ausentes... Para ela não se assustar, lhe expliquei que tenho a mania de agasalhar crianças, porque não gosto de ver os pequenos passando frio. E vivo tricotando coletes para aquecer as crianças. Cada ano levo minhas peças para uma Creche. E este ano era a vez de Amandaba.
       Vestimos as crianças e deixei as peças para a professora vestir os ausentes amanhã.
       E como toda vez que vou a Amandaba, gosto de visitar o Grupo Escolar, pedi a Nice Brito que me acompanhasse. Passei pela rua hoje asfaltada, vi o restaurante do Lió, a casa que foi dos Uemura, a casa onde morou o Ninin... Passamos sob a ponte da linha férrea e chegamos à Escola. O bosque está lá, mais ou menos preservado. Fiquei feliz por isso.
       Mas... Ao chegar ao prédio da Escola, que decepção. Tudo quieto e abandonado. Aquele pátio, onde centenas de crianças correram e cresceram... Numa sujeira só. As salas de aulas com os vidros detonados, os forros faltando pedaços... E o chão forrado de sujeira, que não consegui definir se eram excrementos de morcegos ou outros bichos... A única coisa inteira eram as lousas verdes, que no meu tempo eram negras, e onde escrevi tantos textos para os meninos lerem... Meu coração ficou apertado ao ver o estado de todas as dependências. Nenhum ambiente tinha aparência agradável...  A Sala do Diretor, a Sala dos Professores, a Biblioteca, o Refeitório, a despensa, a Cozinha... E os banheiros? Sem pias, que foram roubadas, vasos imundos.  O telhado despencando...  Meu Deus, como foi triste rever a Escola querida numa situação tão deplorável! E pensar que trabalhei por longos 10 anos, e alfabetizei tantos garotos, que se tornaram cidadãos dignos e honrados. Por lá desfilou toda a moçada de Amandaba, e tantos e tantos professores de valor! Tantos Diretores preocupados com o futuro da meninada!

    E hoje todo esse abandono, tudo se deteriorando, apagando as lindas lembranças que aquelas salas guardam. Meu coração ficou pequeno e doeu demais...
       O que aconteceu com a humanidade? Por quê não mais preservam lugares que foram importantes para a formação de uma Comunidade?  Por quê deixaram chegar a esse estado? Não poderiam usar o local para um Clube de lazer para os moradores locais?  Existe até uma quadra, onde se pode jogar futsal, basquete e vôlei. Tudo esquecido, como se Amandaba fosse um lugar despovoado... Não poderiam transformá-lo em uma Unidade Básica de Saúde?  Ou mesmo na Creche, que está em outro local? Não poderia ser um Centro Comunitário????.... Por quê a Prefeitura não assume nada?
       Felizmente, as árvores não foram destruídas. Existem paineiras e jequitibás que já existiam quando lá trabalhei de 1966 a 1976. A natureza tem uma força e uma resistência inabaláveis. Felizmente. Deus é mais poderoso que todos os humanos.
       Meu querido Grupo Escolar de Amandaba está condenado.
       Está morrendo...
Graças à displicência dos homens...
Mirandópolis, agosto de 2019.
kimie oku in


       

      

Um comentário:

  1. Que tristeza ver o abandono do Grupo escolar de Amandaba ,minha primeira escola , guardo boas lembranças, doeu em mim , lembrei do patio com varia es crianças , a sala de aula com as carteira enfileiradas e eu como era baixinha sempre sentava na primeira fileira
    Realmente o poder público não tem hábito restaurar e manter prédios antigos e mudar a destinação , tudo é abandonado .

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