Abandono
Ontem amanheceu muito gelado
e pensei nas crianças mal agasalhadas que vão à escola tiritando de frio.
Não tive dúvidas! Só iria
à Fisioterapia e mataria a aula de Piano.
Precisava ir a Amandaba, e
entregar os coletes de lã que tricotei para as crianças da Creche. Cheguei lá e
encontrei a Neuza Bezerra de Amorim e a Nice Brito. Ambas foram alunas minhas
lá pelos idos de 70. Sempre encontro ex alunos em Amandaba, e há muito carinho
nos abraços, nos reconhecimentos.
Ao visitar a classe, havia
apenas oito alunos presentes. O frio não permitira a presença dos demais. A
professora Cássia me informou que dez estavam ausentes... Para ela não se
assustar, lhe expliquei que tenho a mania de agasalhar crianças, porque não
gosto de ver os pequenos passando frio. E vivo tricotando coletes para aquecer
as crianças. Cada ano levo minhas peças para uma Creche. E este ano era a vez
de Amandaba.
Vestimos as crianças e
deixei as peças para a professora vestir os ausentes amanhã.
E como toda vez que vou a Amandaba,
gosto de visitar o Grupo Escolar, pedi a Nice Brito que me acompanhasse. Passei
pela rua hoje asfaltada, vi o restaurante do Lió, a casa que foi dos Uemura, a
casa onde morou o Ninin... Passamos sob a ponte da linha férrea e chegamos à
Escola. O bosque está lá, mais ou menos preservado. Fiquei feliz por isso.
Mas... Ao chegar ao prédio
da Escola, que decepção. Tudo quieto e abandonado. Aquele pátio, onde centenas
de crianças correram e cresceram... Numa sujeira só. As salas de aulas com os
vidros detonados, os forros faltando pedaços... E o chão forrado de sujeira, que
não consegui definir se eram excrementos de morcegos ou outros bichos... A
única coisa inteira eram as lousas verdes, que no meu tempo eram negras, e onde
escrevi tantos textos para os meninos lerem... Meu coração ficou apertado ao
ver o estado de todas as dependências. Nenhum ambiente tinha aparência
agradável... A Sala do Diretor, a Sala
dos Professores, a Biblioteca, o Refeitório, a despensa, a Cozinha... E os
banheiros? Sem pias, que foram roubadas, vasos imundos. O telhado despencando... Meu Deus, como foi triste rever a Escola
querida numa situação tão deplorável! E pensar que trabalhei por longos 10 anos, e alfabetizei tantos garotos, que se tornaram cidadãos dignos e honrados.
Por lá desfilou toda a moçada de Amandaba, e tantos e tantos professores de valor!
Tantos Diretores preocupados com o futuro da meninada!
E hoje todo esse abandono,
tudo se deteriorando, apagando as lindas lembranças que aquelas salas guardam.
Meu coração ficou pequeno e doeu demais...
O que aconteceu com a
humanidade? Por quê não mais preservam lugares que foram importantes para a
formação de uma Comunidade? Por quê
deixaram chegar a esse estado? Não poderiam usar o local para um Clube de lazer
para os moradores locais? Existe até uma
quadra, onde se pode jogar futsal, basquete e vôlei. Tudo esquecido, como se
Amandaba fosse um lugar despovoado... Não poderiam transformá-lo em uma Unidade
Básica de Saúde? Ou mesmo na Creche, que
está em outro local? Não poderia ser um Centro Comunitário????.... Por quê a
Prefeitura não assume nada?
Felizmente, as árvores não
foram destruídas. Existem paineiras e jequitibás que já existiam quando lá
trabalhei de 1966 a 1976. A natureza tem uma força e uma resistência
inabaláveis. Felizmente. Deus é mais poderoso que todos os humanos.
Meu querido Grupo Escolar
de Amandaba está condenado.
Está morrendo...
Graças à displicência dos homens...
Mirandópolis, agosto de 2019.
kimie oku in
Que tristeza ver o abandono do Grupo escolar de Amandaba ,minha primeira escola , guardo boas lembranças, doeu em mim , lembrei do patio com varia es crianças , a sala de aula com as carteira enfileiradas e eu como era baixinha sempre sentava na primeira fileira
ResponderExcluirRealmente o poder público não tem hábito restaurar e manter prédios antigos e mudar a destinação , tudo é abandonado .