segunda-feira, 27 de setembro de 2021

 

             A torneira

     A civilização buscou incessantemente o conforto e o bem estar do ser humano. E tudo que exige menos esforço e trabalho foi sempre adotado com fervor.

     Mesmo tendo duas pernas para caminhar, máquinas foram inventadas para chegar ao destino sem usar as pernas. E todos passaram a viver dentro de caixas confortáveis, super motorizadas para o ir e vir. Isso trouxe os efeitos colaterais que afetaram a saúde dos motoristas. Dor na coluna, nos joelhos, nervo ciático... Mas, ninguém abre mão do conforto...

     Em todos os campos de atividade, o homem inventou formas de facilitar o trabalho, com menos esforço e mais rapidez. Os fogões, as lavadoras de roupa, os ventiladores, a eletricidade, os computadores, os celulares aceleraram a vida de forma espantosa.

     Quando eu era jovem, tínhamos que abastecer a casa com água retirada de poços e cisternas. Mesmo aqui na cidade, havia poços em algumas casas, onde os vizinhos buscavam o precioso líquido. Era trabalhoso retirar a água do poço, que às vezes tinham até dez metros de profundidade. Não era só água de beber, mas água para cozinhar, lavar a roupa, tomar banho. Eu tive que puxar essa água centenas de vezes. E todos nós irmãos nos revezávamos nessa tarefa, que era indispensável, para a casa funcionar normalmente. Como era difícil essa tarefa, nós usávamos a água com parcimônia, sem desperdiçá-la.

 Porque desde crianças tínhamos a tarefa de puxar água... Descíamos o balde que era amarrado na ponta de uma corda, chegando ao fundo ele se enchia e aí puxávamos para cima, rodando o sarilho que enrolava a corda de volta. Era pesado, uns vinte quilos... Éramos crianças... A    operação era repetida dezenas de vezes a cada manhã... Dava uma canseira!

     Mas... Aí inventaram a água encanada.

Foi uma maravilha!  Maravilha das maravilhas! Era só destravar uma torneira que a água jorrava com fartura! Era só pagar mensalmente, que a água vinha até a nossa casa, sem nenhum esforço de nossa parte.

Água encanada para a cozinha, para o banheiro, para o taque de lavar roupas...

Mas... Não nos alertaram que era necessário economizar. Que um dia a torneira poderia secar... Que um dia, tudo isso poderia virar uma guerra.

Então, surgiram os abusos. Gente tomando banho três a quatro vezes por dia. E cada banho de quarenta minutos jogando água pelo ralo. Gente lavando o carro só porque pegou uma poeirinha... Lavadoras de roupa que enxaguam duas vezes. Cada lavada, gastando uma enormidade de água, que vai embora também pelo ralo... E piscinas, e piscinas...

Conheci professoras que lavavam a calçada todos os dias, e conversavam com todos os passantes, com a mangueira jogando água sem parar... E empregadas que não contentes de lavar a calçada, ainda lavam o asfalto em frente...

Por quê o ser humano é tão alienado?

A Torneira foi o desastre da água!

Somada à burrice do homem.

Mirandópolis, setembro de 2021.

kimie oku in

http://cronicasdekimie.blogspot.com

 

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