A
torneira
A
civilização buscou incessantemente o conforto e o bem estar do ser humano. E
tudo que exige menos esforço e trabalho foi sempre adotado com fervor.
Mesmo tendo duas
pernas para caminhar, máquinas foram inventadas para chegar ao destino sem usar
as pernas. E todos passaram a viver dentro de caixas confortáveis, super
motorizadas para o ir e vir. Isso trouxe os efeitos colaterais que afetaram a
saúde dos motoristas. Dor na coluna, nos joelhos, nervo ciático... Mas, ninguém
abre mão do conforto...
Em todos os campos de atividade,
o homem inventou formas de facilitar o trabalho, com menos esforço e mais
rapidez. Os fogões, as lavadoras de roupa, os ventiladores, a eletricidade, os
computadores, os celulares aceleraram a vida de forma espantosa.
Quando eu era jovem,
tínhamos que abastecer a casa com água retirada de poços e cisternas. Mesmo
aqui na cidade, havia poços em algumas casas, onde os vizinhos buscavam o
precioso líquido. Era trabalhoso retirar a água do poço, que às vezes tinham
até dez metros de profundidade. Não era só água de beber, mas água para cozinhar,
lavar a roupa, tomar banho. Eu tive que puxar essa água centenas de vezes. E
todos nós irmãos nos revezávamos nessa tarefa, que era indispensável, para a
casa funcionar normalmente. Como era difícil essa tarefa, nós usávamos a água
com parcimônia, sem desperdiçá-la.
Porque desde crianças tínhamos a tarefa de
puxar água... Descíamos o balde que era amarrado na ponta de uma corda,
chegando ao fundo ele se enchia e aí puxávamos para cima, rodando o sarilho que
enrolava a corda de volta. Era pesado, uns vinte quilos... Éramos crianças... A operação era repetida dezenas de vezes a cada
manhã... Dava uma canseira!
Mas... Aí inventaram a
água encanada.
Foi uma maravilha! Maravilha das maravilhas! Era só destravar
uma torneira que a água jorrava com fartura! Era só pagar mensalmente, que a
água vinha até a nossa casa, sem nenhum esforço de nossa parte.
Água encanada para a cozinha,
para o banheiro, para o taque de lavar roupas...
Mas... Não nos alertaram que era
necessário economizar. Que um dia a torneira poderia secar... Que um dia, tudo
isso poderia virar uma guerra.
Então, surgiram os abusos. Gente
tomando banho três a quatro vezes por dia. E cada banho de quarenta minutos
jogando água pelo ralo. Gente lavando o carro só porque pegou uma poeirinha...
Lavadoras de roupa que enxaguam duas vezes. Cada lavada, gastando uma
enormidade de água, que vai embora também pelo ralo... E piscinas, e
piscinas...
Conheci professoras que lavavam a
calçada todos os dias, e conversavam com todos os passantes, com a mangueira
jogando água sem parar... E empregadas que não contentes de lavar a calçada,
ainda lavam o asfalto em frente...
Por quê o ser humano é tão
alienado?
A Torneira foi o desastre da
água!
Somada à burrice do homem.
Mirandópolis, setembro de 2021.
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