Estava
completamente absorvida no tema África para a próxima crônica, quando o Diário
me pediu algo sobre o aniversário de
Mirandópolis, para esta edição especial.
Dei
tratos à bola e fiquei travada. Escrever sobre esta cidade? Não é meu
“furusato”, pois nasci em Lavinia.
Mas
há um tempo, venho pensando em escrever sobre a vicinal, que liga Mirandópolis
a Lavinia.
Hoje
ela está asfaltada e tem tráfego intenso, graças à proximidade das duas
cidades. São apenas seis quilômetros de extensão, mas cheios de curvas, curvas
fechadas e perigosas.
Mas
é uma vicinal e como tal deve-se percorrê-la mais devagar, mesmo porque não há
acostamento e sempre há o risco de se trombar com algum animal.
Tenho
belas recordações dessa estrada. Nos anos cinqüenta, era totalmente de chão
batido que, no verão levantava poeira e na época das chuvas virava um barreiro
só. Passei por essa estrada, muitas e
muitas vezes, porque morava em Lavinia e estudava aqui.
Na
verdade viajava de trem, mas quando este se atrasava, o que não era raro, nós
os estudantes de Lavinia, apelávamos para a carona de carros e caminhões, na
estrada de terra. Como éramos mais de trinta adolescentes, carona era mais de
caminhão, mesmo.
Mas,
muitas vezes fizemos o trecho a pé, por falta de carona. Caminhávamos
reclamando, cansando, com bolhas nos pés... Naquela época, achávamos ruim andar
seis quilômetros. Mas hoje, penso que era como um piquenique não programado.
Íamos caminhando em grupo, falando bobagens, brincando, provocando uns aos
outros, e rindo muito... anos verdes da adolescência, em que tudo tinha graça, e que deixaram boas lembranças.
Lembro que a estrada começava logo ali,
na rua que hoje conduz ao cemitério. Não
havia casas à beira do caminho. E tudo era cafezal. Cafezal verde, onde agora
só há pastagens. Havia o matadouro municipal, onde se abatiam os bois, para o
consumo da população local. Os imensos eucaliptos no alto do barranco, nem
existiam ainda.
No
bairro 70 (não sei porque setenta), a estrada foi desviada para passar o
asfalto. Antes fazia uma curva quase circular e, passava por uma escolinha
rural, onde a amiga Izelter deu aulas por décadas...
Não
havia condomínios nem pesqueiros, nem
restaurante à beira do caminho, nem casas da COHAB...
Tudo era cafezal, ladeando a estrada até
a entrada de Lavinia. Caminhávamos com preguiça, chorando as bolhas dos pés
e... de repente, “bé-é-é-é-é-é-em-em-em-em....”
Era
um berrante chamando a boiada, que vinha ao nosso encontro. Aí esquecíamos a
canseira, as bolhas e subíamos céleres nos barrancos, com medo dos bois. Num
piscar de olhos, todos estavam no alto, mirando a boiada que passava, ocupando
toda a largura da estrada, que na verdade era bem estreita.
Tínhamos
muito medo de dar de cara com boiadas, porque os boiadeiros, ou condutores de
comitivas nem se importavam com os passantes.
Quando
a poeira baixava, voltávamos à estrada
E
então, era só risada. Gozação pela falta de jeito de uns e outros, que
escorregavam do barranco, quase na cara dos bois....
Hoje,
os bois não andam nas estradas – são conduzidos em gaiolas de caminhões.
Hoje
não há mais cafezais.
Hoje só
há pastagens.
Mesmo
assim, gosto de pegar o carro e percorrer essa vicinal, que felizmente não foi
descaracterizada pela invasão dos canaviais.
Hoje há
tantas casas à beira do caminho, e as duas cidades estão se aproximando,
esticando os braços para se darem as mãos.
Isso
porque, há um intenso intercâmbio entre
as duas, devido às compras, ao trabalho nas Penitenciárias e escolas, e aos
parentes e familiares que moram lá ou
cá.
Em
futuro não muito distante, Mirandópolis e Lavinia serão uma só cidade. E isso
será ótimo.
Amo
Lavinia, por ser meu furusato ou terra natal.
Amo
Mirandópolis, por ser o meu cantinho, a minha referência, neste vasto mundo de
Deus.
E
quando as duas cidades se conectarem, essa vicinal tão comum, tão caipira se
transformará numa bela avenida de duas mãos, celebrando para sempre, a união de
gente simples e amiga de lá e daqui.
Lavínia
e Mirandópolis se fundindo numa só, como estão dentro de mim. Por uma vicinal.
Mirandópolis,
junho de 2010.
kimie oku
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