sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

                 O calor dos passarinhos
   Venho observando já há algum tempo que, na cidade há muitos pardais. Há também muitas maitacas, rolinhas e pombas. Todo dia quando tomo meu café da manhã, tenho que repartir o pão com os pardais, que baixam no quintal, e gritam pedindo sua ração diária. O interessante é que eles não comem frutas. Já experimentei dar mamão, banana, maçã, melão, mas eles rejeitam, Só comem pão e arroz cozido e outras massas. Eu achava que todos os pássaros comiam frutas e sementes, mas os pardais não comem.
     Ultimamente, as gralhas também resolveram migrar para a cidade. Essas são as gralhas de campo, que têm o peito e a ponta da cauda brancos e o resto do corpo é azul. Eles constroem seus ninhos nos lugares altos dos prédios e torres. E fazem uma alarido com seus assobios prolongados como se fossem chamadas. As gralhas são bem ariscas, não chegam perto da gente. E elas são muito belas. É da família das gralhas azuis, que têm a fama de reflorestar o Estado do Paraná, com as sementes do pinheiro da Araucária. Quando eu era criança e morava perto de Tabajara em Lavínia, as gralhas azuis vinham muito ao quintal de casa para visitar galinheiros... Eu as achava belas, mas mamãe não gostava delas, porque rapinavam os preciosos ovos... Eram totalmente azuis, de um azul bem escuro. Comiam todos os ovos que achavam...
Lá no sítio, aparecem pássaros mui diversos. Os mais numerosos são as maitacas, barulhentas e escandalosas, que fazem seus ninhos no forro das casas, e comem toda a fiação da eletricidade... Mas, tem também em profusão os canários da terra e os tico-ticos, que cantam bonito nos galhos das laranjeiras, as pombas “fogo apagou”, os joões-de-barro e sua cantoria em cascata. As gralhas também estão morando lá, no alto das mangueiras.
 Quando jogo água nos canteiros da horta com o esguicho, aparecem beija -flores para tomar uma chuveirada no ar. Percebe-se que estão desesperados de calor e querem se refrescar. Gostaria de fotografá-los se banhando, mas nunca consigo, pois são muito ariscos. E aparecem outros pássaros, como sanhaços para banhar nas poças de água. De vez em quando aparece um bem-te-vi ou um sabiá.
     Essa população alada está sempre lá, faça frio, faça calor. Nos pastos reinam os quero-quero, que em época de procriação ficam ferozes, e dão voos rasantes sobre as cabeças dos que se aproximam. Eles fazem seus ninhos nas touceiras de capim no chão, e defendem ferozmente a ninhada... São agressivos e parecem aviões de guerra em combate, quando defendem a sua prole. E fazem um barulho assustador. Eu nem chego perto!
     De vez em quando, umas araras atravessam o céu conversando entre si, mas não descem, pois estão de passagem. Às vezes, aparece um bando de tucanos nos pés de abacate. Fazem um barulho estranho, como se estivessem serrando madeira. Gostam também dos frutinhos da árvore de Santa Bárbara.
     Os tuins ou periquitos miúdos costumam encher o pé de carambola com seu bando, e comendo vorazmente os frutos. O interessante é que se ouve o barulho da passarada na árvore, mas não se vê nenhum, porque a sua cor se confunde com o verde da ramagem. E fazem uma algazarra como crianças em festa.
     Ainda, junto aos açudes é comum aparecerem garças brancas, marrons, patos e gansos d’água. Estão sempre lá atentos aos peixinhos que aparecem na superfície, e que servem de alimento deles. Também se alimentam de caramujos, que abundam em lugares úmidos.
     E falando em caramujo, ainda não descobri algum predador dos caramujos pretos imensos, que infestam nossos jardins. Esses bichos horríveis comem minhas orquídeas, e outras plantas mais mimosas. Vivo combatendo-os, mas logo que chove, eles aparecem do nada, e destroem minhas plantinhas. Acho que nem os sapos os comem... O único meio de enfrentá-los é esparramar um veneninho em forma de bolinhas azuis, que eles comem e acabam se dissolvendo. Mas, dá uma raiva imensa, quando vejo minhas orquídeas dilaceradas pela voracidade desses bichos tão nojentos. E pensar que, alguém os trouxe de terras estranhas, pensando que eram escargots... e que poderiam ser consumidos... Aff!
     Mas, o propósito dessa crônica era abordar sobre o calor que maltrata as penadas nessa época do ano. Deve ser horrível usar a cobertura de penas o ano todo, faça frio ou faça calor. Li em algum romance, talvez de Gabriel Garcia Marquez, sobre um personagem que só dormia com cobertas recheadas de penas de aves. Me dá arrepios ao pensar na cena, porque aquilo devia esquentar muito, muito! E as aves com essas penas devem passar um calor, que dá pena. Os colibris e outros passarinhos vêm invariavelmente, tomar banho nos esguichos de água da minha horta.  Tenho pena das penadas. É da natureza, mas o calor está insuportável.
     Ontem vi uma galinha se banhando na areia, acho que para se refrescar, porque a tarde estava quente demais. Ela se enfiou num buraco no chão e, se rebolava toda para passar a terra em seu corpo. Devia ser refrescante...
     Concluindo: Deus fez o Éden ou Paraíso, para o homem reinar junto da vegetação e de outros animais. Era para todos serem felizes e viverem em harmonia, apesar da cadeia alimentar, que faz o mais forte comer o mais fraco... Mas, essa harmonia foi quebrada pela “suma sapiência do homem”, que destruiu já a metade desse planeta.
     O homem poluiu os rios, enterrou os veios d’água, derrubou as matas, encheu os rios e os mares com toda a sorte de dejetos, formou desertos onde eram campos verdes... E tornou impossível a vida para muitos animais. Os passarinhos estão sentindo as consequências desse estrago, promovido pelo ser racional e pensante que é o homem.
     Se nada for feito, se o homem continuar nesse afã de destruir o planeta, os primeiros que desaparecerão da Terra serão os passarinhos...
     E chegará a vez do homem, com certeza.

     Mirandópolis, janeiro de 2015.
kimie oku in
     http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/


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