quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

    Os marcos da cidade
     
    Toda cidade tem uns marcos históricos, para eternizar os nomes de pessoas que pelejaram para construí-la.
    São Paulo tem o impressionante Monumento às Bandeiras, obra de Víctor Brecheret que representa grupos de homens que adentraram pela floresta fechada, à procura de ouro e pedras preciosas. Acharam o ouro e esgotaram as minas... mas, o maior mérito deles foi terem construído vilarejos pelos caminhos percorridos. Vilarejos que hoje são as pujantes cidades, espalhadas por todo o território nacional.
Outra obra impressionante é o Monumento do Ipiranga, de Manfredo Manfredi e Ettore Ximenes representa o Príncipe Dom Pedro   e seu séquito real, dando o grito de libertação do domínio português. Inaugurado no Centenário da Independência, em 1922.
     Na orla praiana de Santos tem o conjunto arquitetônico em homenagem ao Padre Anchieta, junto de um curumim a quem veio ensinar os mistérios do Evangelho.
   Existem pelos recantos do Brasil, obras valiosíssimas de arquitetos famosos, que deixaram suas obras para a posteridade, eternizando feitos heroicos de gente que se destacou em prol da sociedade.
    Ah, e na Praça Princesa Isabel em São Paulo, existe a estátua de Duque de Caxias, conhecido como o Patrono do Exército Brasileiro, porque foi um bravo soldado, que defendeu o país em várias batalhas. Essa estátua me lembra um famoso cronista, o Lourenço Diaféria (1933/2008), que escrevia na Folha de São Paulo. Esse cronista me inspirou para o que faço agora, escrever crônicas do cotidiano.
     Pois bem, em setembro de 1977, Lourenço Diaféria escreveu “Herói. Morto. Nós” a propósito de um sargento que para salvar um garoto de 14 anos, que estava sendo atacado por ferozes ariranhas, pulou no lago e salvou o menino. Mas, o sargento morreu. E deixou uma viúva e quatro filhos menores...
     Diaféria assim como todos os brasileiros, que souberam da notícia ficou comovido e comparou esse herói de carne e osso, que dera a vida pelo garoto desconhecido, aos heróis de pedra como Caxias, que serviam de sanitário para os pombos e os mendigos da Praça. Em razão disso, o cronista foi preso e processado, porque ofendera por extensão ao Exército Brasileiro, do qual Caxias é o Patrono e Herói Maior.
     Mas, voltando aos marcos, andei pesquisando e fotografando os de nossa cidade. São poucos mas significativos.
     O marco mais importante é o busto de Manoel Alves Ataide, fundador da cidade, que está na Praça do mesmo nome. Ataide foi um precursor da região e doou o terreno da Praça, mas exigiu que ela levasse o seu nome. Seu busto em bronze foi obra do professor Walter Víctor Sperandio. É lamentável que a obra não leve a assinatura do grande Mestre, e nem a data da instalação.
     Na Avenida Rafael Pereira (nome de um soldado de Amandaba que morreu na Itália, durante os combates da 2ª Guerra Mundial) há dois marcos importantes. O primeiro é o obelisco do Rotary Clube Internacional, ali perto do pontilhão. Foi colocado em 24 de junho de 1967, e é obra também do Professor Sperandio.  O outro marco é o do Lions Clube, que em 2012 além do nome do clube, recebeu um relógio e um termômetro.  Leva o nome de seu autor, Professor Walter Sperandio.
     No Bairro Amandaba há uma pequena praça, onde os imigrantes japoneses moradores dos sítios locais, mandaram erigir um monumento comemorativo dos cinquenta anos de Imigração japonesa ao Brasil. Embora seja um conjunto pesado, ostenta com propriedade as bandeiras do Brasil e do Japão, selando para sempre essa união que começou em 1908, com a chegada do Kassato maru, o primeiro navio com a leva de imigrantes japoneses. Ainda constam os nomes de todos os japoneses que participaram dessa empreitada, cuja maioria já partiu para o céu...
     Em 2000, para os festejos dos Quinhentos anos de Descobrimento do Brasil foi construída uma praça ao lado da Rua que conduz ao Cemitério local. É a Praça dos 500 anos, Essa praça foi bastante frequentada, mas atualmente está meio abandonada...   
E lá no Paço Municipal há um imensa pedra, ali colocada em comemoração aos trinta anos de coirmandade da cidade de Mirandópolis com a cidade japonesa de Takaoka, na Província de Toyama, no Japão. Cidades coirmãs se prestam a cultivar a amizade, além de trocar as tradições culturais que as diferenciam. Então, todo ano há um intercâmbio através de Professores e alunos da Escola Japonesa de lá e daqui. Essa amizade teve início em 1974. E a gravação em baixo relevo na pedra diz que “Mesmo distante, o vento que sopra lá em Takaoka, sopra também aqui em Mirandópolis”
     Em 2008, a Colônia japonesa de todo o Brasil estabeleceu que para se comemorar o Centenário da Imigração Japonesa, seriam construídos “toris”, que originalmente são considerados portais que conduzem ao Paraíso. Isso de acordo com a cultura milenar do Xintoísmo. Ao ultrapassar o tori ou portal, o crente acredita estar pisando em solo sagrado.
     Como não temos esses Templos xintoístas em profusão em todas as cidades, as Associações houveram por bem construir esses portais junto aos Clubes Nipo, porque esses locais representaram não os templos, mas os locais de encontros de imigrantes saudosos de suas terras natais. E onde, em comunhão uns com outros, se sentiram fortalecidos para continuar pelejando e vivendo no Brasil.
     Como vêm, há poucos marcos que contam a nossa história.
     Mais que tudo, sinto falta de homenagens aos heróis maiores como o Padre/Monsenhor Epifãnio Ibañez, o idealizador da nossa belíssima igreja católica, ao Profeta Gentileza José Datrino, que pregou a bondade e a gentileza por esse Brasil afora e ao inesquecível Professor Walter Víctor Sperandio...
     Está certo que a cidade é um ponto perdido na imensidão desse Brasil, mas gratidão é gratidão.
Talvez um dia, alguém se lembre de erigir um monumento ao padre Epifânio junto à maravilhosa Igreja que nos legou. Seria apropriado e muito justo.

     Mirandópolis, janeiro de 2015.
     kimie oku in


2 comentários:

  1. Há homens que marcam sua passagem pela vida de várias formas, e invariavelmente pela prática da sua melhor qualidade. O Prof. Walter Vitor Sperandio é um desses homens. Marcou sua vida em Mirandópolis pela arte da expressão em desenho, escultura, marcos simbólicos. Marcou sua passagem pelos trabalhos sociais que empreendeu e marcou significantemente pelo professor que foi, não simplesmente um professor, mas um Mestre! A cidade de Mirandópolis deve à ele uma homenagem significativa. Toda a minha reverência ao Mestre do qual humilde e felizmente fui aluno.
    Parabéns Kimie!!!
    Lupércio AN Palhares

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    1. De novo em sintonia, Lupércio! Dizem que os homens são todos iguais, mas uns são mais iguais. Você e eu somos iguais no modo de pensar, de analisar, de tirar conclusões. Isso é muito bom, pois prova que, eu de origem japonesa, de costumes tão diferentes não diferencio tanto de você, de origem africana e de outra formação. Temos muitos pontos convergentes.

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