quinta-feira, 16 de abril de 2015

        As pedras do meu caminho
     
       “No meio do caminho tinha uma pedra.
        Tinha uma pedra no meio do caminho...”
Quando se fala em pedra, a primeira coisa que me ocorre são esses versos do famoso poema de Drummond de Andrade. Com esse poema, ele conseguiu passar claramente a ideia de que às vezes, pedra é uma barreira, um estorvo, que atrapalha quem passa pelo caminho. Pedra que pode ser uma pessoa, um trabalho, um trambolho, um bicho ou até mesmo, uma pedra simplesmente.
Mas, as pedras já foram e continuam sendo a causa de muito sofrimento para gente que cobiça as preciosas. Existem minas no solo, de onde são retiradas essas pedras em estado bruto, e depois de lapidadas por especialistas, passam a valer fortunas. E se tornam motivos de disputas que, não raro provocam mortes entre os envolvidos.
Mas, o que é uma pedra?
É apenas um mineral sem vida, que faz parte do solo do planeta. Um dia, alguém viu no brilho de algumas pedras além da matéria e, se encantou com os reflexos que produz. E desde então, certas pedras foram consideradas tesouros. Além do atributo beleza, todas as pedras são iguais. São matéria apenas. Não têm vida própria...Existem pedras mais duras como o diamante, outras mais maleáveis como a pedra sabão, que os artesãos aproveitam para fazer lindas esculturas. Existem pedras azuis, amarelas, vermelhas, roxas, verdes, pretas, brancas, lilases... para todos os gostos. As esmeraldas verdes despertaram a cobiça de um português bandeirante, Fernão Dias Paes Leme que devassou as florestas do Brasil nos tempos bravios e, morreu sem encontrá-las. Só achou turmalinas, pedras verdes de pouco valor...As turquesas são pedras lindas pela cor suave que possuem e os rubis encantam as mulheres pela cor vermelha... Mas, as pedras mais valiosas são os diamantes, raros e duros. Tão duros que são usados como material cortante. Dentre as preciosas, conheço alguns nomes como ônix, diamante, rubi, esmeralda, turquesa, safira, topázio, ametista, quartzo e pérola. A maior jazida de diamantes do mundo está na Sibéria. E diamantes existem em várias cores. E o nosso Brasil quando foi descoberto pelos portugueses, despertou a cobiça de gentes da Europa, que vieram aqui e devassaram rios e florestas, atrás de pedras preciosas. Havia muito ouro. Até existe uma história que nem sei se é lenda, de um cacho de bananas de ouro maciço, que foi enviado ao Rei de Portugal na época do Brasil colônia. E havia muitos diamantes. Mas, a extração descontrolada levou as minas à exaustão. O que havia e ainda há é o ferro, muito usado na Indústria. E Minas Gerais como diz o próprio nome, foi o Estado mais rico em minérios. Dessa época de procura desenfreada, o que ficou até hoje é a fundação de cidades que comprovam a História da mineração: Ouro Preto, Diamantina, Ouro Branco...
Vi em filmes coreanos, que a gente simples do povo tem o costume de empilhar pedras no meio da floresta ou beira de rios, quando fazem seus pedidos aos ancestrais... Então, de repente se veem pilares de pedras soltas, feitas por mãos humanas que oraram...Se alcançaram as graças só Deus sabe...
Existe uma brincadeira de se lançar pedras no rio, para provocar ondas. Tem gente habilitada que consegue fazer ondas em sequência, numa velocidade incrível. A pedra lançada vai saltando sobre a água e onde ela bate, formam-se círculos, cada vez maiores, que se emendam uns aos outros... E formam um caminho de água em movimento. É muito bonito de se ver.
A palavra pedrada deve ter um significado forte para quem já foi moleque, e brincou de atiradeiras ou estilingues... Vidraças quebradas e pescoções... Todos os moleques devem ter lembranças dessas artes...
“Que a monarquia do Imperador
dure por milhares e milhares de gerações,
Até que o pedregulho
se torne um rochedo
E os musgos venham a cobri-lo.”

Esse poema é a tradução do Hino Nacional Japonês. Hino contestado por muitos intelectuais do Japão, atualmente. Eles alegam que essa veneração ao Imperador remonta ao passado imperialista, e nada tem a ver com a Democracia Parlamentarista adotada pós guerra...
Quanto tempo leva para as pedras se tornarem rochedo? É que o Hino Nacional Japonês é muito antigo, dos tempos em que o Imperador era considerado um Deus, de origem divina. Hoje a realidade é outra, embora o respeito à Casa Imperial permaneça. “Até que o pedregulho se torne rochedo, e os musgos venham a cobri-lo” significa “Eternamente”
E pensemos no inverso das circunstâncias.
As pedras que se soltam dos rochedos, das montanhas vêm rolando ladeira abaixo por intervenção do vento, da chuva, da neve, dos rios... E se transformam em pedregulhos e piçarras...

Você já imaginou quantos milhares de anos, esses pedregulhos vêm sendo carregados pra lá e pra cá, pelas ações da natureza? Nós usamos essas pedras para forrar terrenos, para construir pontes, casas e prédios, para decorar fachadas, para represar rios, para preencher espaços... E nunca pensamos de onde vieram, como vieram, de que montanha se soltaram, quanto tempo vieram rolando de deu em deu...E ao longo do caminho percorrido, foram perdendo as arestas e se transformaram em pedras e pedregulhos arredondados e lisos. Alguns apresentam listras, outros têm outras pedrinhas embutidas, muitos apresentam uma coloração atraente, alguns são transparentes e ficam incandescentes ao reflexo da luz solar...
Gosto de catar pedras do chão, pois cada pedra tem uma história, que ninguém contou nem seguiu. Ah! Se elas falassem! Com certeza, contariam de que morro, colina ou montanha foram arrebatadas pelo vento, pela chuva, pela enxurrada... Contariam dos ásperos caminhos por onde vieram descendo, do canto dos pássaros, das flores nos tempos de primavera, das chuvas torrenciais que as lavaram, da neve gelada que as enterraram, dos animais que as cheiraram, dos humanos que as pisaram, dos bichinhos minúsculos que se abrigaram junto delas... E do futuro incerto que as esperam...Ah! Se elas falassem! Contariam do vento brigando com a montanha para desprendê-las... Do medo sentido quando foram quebradas... Da brisa suave que soprou nas noites enluaradas... Do sol inclemente que durante anos seguidos queimou sua superfície...
É por tudo isso que sinto atração pelas pedras. E vou catando uma aqui, outra ali, e imaginando o histórico delas. Existem pedras lindas no meio das piçarras, nos caminhos, na beira dos rios... Já tive um anel com um brilhante, que me foi roubado e me deixou muito chateada. Hoje, não me importo mais com essas coisas, pois tudo é apenas uma matéria, que nada acrescenta à minha pessoa.
Por isso, gosto de catar as pedras do caminho e ficar imaginando a história de cada uma delas...

Essas vem rolando através dos tempos, e chegam aos nossos pés sem nenhuma intenção de se sobressair, enfeitar, despertar cobiças e proporcionar lucros... São iguais às gentes humildes do povo, que levam a vida como uma bênção recebida de Deus, e vivem-na simplesmente.

Mirandópolis, abril de 2015.
kimie oku in




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