terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

     Após o Carnaval vem uma criança...

      Estava sem inspiração pra escrever e um amigo colocou uma observação no face: “Depois do vendaval vem a bonança, e depois do Carnaval às vezes vem uma criança” (Marinho Guzman de Guarujá).
      E aí aproveitei o mote para assuntar um pouco.
      O Carnaval seria uma festa de confraternização, de explosão de alegria, de renovação de energias... Antigamente acho que era assim. Mesmo a Igreja condenando-a, pregando que era uma festa do Capeta, o povo brincava nos salões e nas ruas. Mas era uma festa sadia, onde famílias inteiras participavam e concorriam como melhores foliões, melhores fantasias e que tais. Havia o Rei Momo que era imenso, que esbanjava alegria e a Rainha do Carnaval escolhida entre as beldades...
      O tempo passou e o artificialismo tomou conta de tudo. Hoje tudo é plástico, emborrachado e silicone. Ninguém sabe se as meninas perfeitas que desfilam têm enxertos ou não, se os olhos são azuis de verdade... Se o parceiro é homem... Se a menina é de fato mulher mesmo.
      Mas, isso não importa. O mundo mudou. Os costumes mais ainda. O que assusta é a devassidão dos costumes.
A humanidade perdeu o brio, o recato, a vergonha e faz coisas em público, coisas que até Deus duvida. Vi no face fotos de madames folionas fazendo suas necessidades fisiológicas no meio da rua, carnavalescos urinando nas portas de lojas fechadas... Sem contar sobre as orgias sexuais que acontecem em salões e a céu aberto...
E então, daqui a nove meses vem uma criança...
Uma criança que nem a mãe sabe ao certo a paternidade,  nem onde foi gerada... Ao som de baterias, de cantares enlouquecidos dos foliões, de desejos repentinos resolvidos ali mesmo num cantinho qualquer... Mas a fecundação aconteceu. Nem o macho nem a fêmea se preocuparam com essa possibilidade. A urgência era saciar o desejo, a fome sexual. Como dois gatos no quintal, como cães em cio que se encontraram pela primeira vez...
E mais tarde, uma criança virá ao mundo.
Não desejada, nem esperada, nem programada.
Será com certeza mal amada, maltratada como um estorvo,  uma despesa que não cabe no orçamento.
E a idiota da mãe não poderá nem recorrer ao macho que a fecundou, porque não lhe lembra a cara, nem nome, nem endereço. Um gato qualquer, sem referência alguma. Um puto qualquer, como ela....
E o mundo será mais uma vez povoado com uma enxurrada de crianças enxovalhadas, largadas nas esquinas, a pedir uma esmola,  um pão, um carinho...
É triste demais o que ser humano faz com as próprias crias, como se fossem gatos sem dono, sem serventia.
Já vi em algum documentário que, ultimamente na cidade do México tem crescido assustadoramente, o número de avós que cuidam de crianças abandonadas pelos filhos. São produtos das transas que ocorrem entre jovens perdidos por drogas, que moram nas ruas como zumbis. E quando têm filhos, eles os trazem para as avós cuidarem. Estas, já cansadas das lidas da vida, sem saúde e com idade um tanto avançada, não conseguem ignorar esses bebês, sangue de seu sangue, inocentes das depravações dos que as geraram. E essas avós idosas acabam aceitando a dura missão de criar a segunda geração da família, que muitas vezes se constitui de meia dúzia de crianças ou mais...
E isso, com certeza deve estar acontecendo em várias cidades do Brasil, apesar de não haver um estudo sobre essa situação.
O que aconteceu com a humanidade?
Por que os seres humanos ficaram tão irresponsáveis? Por que  passaram a agir como irracionais, jogando fora as próprias crias? Nem os bichos fazem isso.
Atualmente, entre a gente sadia e responsável tem diminuído o número de filhos. Os pais premidos pelos custos de sobrevivência e educação têm programado apenas um ou dois filhos. Sem considerar as dificuldades de orientação e encaminhamento dos mesmos nos dias atuais, em que as drogas insidiosamente adentram no seio de famílias mesmo estáveis. E acabam destruindo não só o usuário como a todos os familiares.
Viver hoje é muito difícil.
E não precisamos de folias de Carnaval para piorar a sociedade. Se nove meses pós carnaval, nasce uma leva de crianças indesejadas, a sociedade jamais irá melhorar. Essas crianças renegadas pelas próprias mães, serão os marginais de amanhã, os que irão roubar, assaltar, matar, porque não herdaram um sentimento de humanidade dos genitores, que as geraram num beco qualquer. Porque estes também são um subproduto da sociedade, que nunca receberam uma educação adequada e, nem sabem a que vieram ao mundo.
Carnaval? Desfile? Festa? Luzes? Cores? Brilhos? Maior Festa do Planeta? Yes, temos Carnaval!
Yes, temos também tanta sujeira, tanta devassidão por trás desse brilhos, desse roncar das baterias, desse gingar das mulatas peladas, dessas cantorias que sufocam os gritos e os lamentos de crianças abandonadas nas esquinas, a pedir um carinho. Tá na hora de parar com essa diversão que só traz desgraças para a sociedade.
É bonito ver uma mulata pelada? É bonito ver a Escola  preferida desfilar? É bonito ver os bateristas suando suas camisas para a Escola brilhar? É muito bonito mostrar para o mundo...
Bonito é que por trás desse brilho todo, desses roncos de baterias afinadas muita coisa ruim está acontecendo. A televisão mostra um belo show para chamar os turistas, que vêm ver mulheres peladas... E para atrair gente que deixe seus dólares aqui... Mas a realidade brasileira é essa tragédia.
Nove meses depois, uma leva de crianças mal desejadas será o resultado desta festa obscena.
E a sociedade brasileira continuará sendo essa mesma constituída de menores delinquentes, de meninas perdidas, de filhos mal amados, de pais irresponsáveis e idiotas.
Carnaval é belo?
Crianças perdidas nas esquinas pedindo uma moeda, um carinho podem ser o produto dessa festa de arromba. Onde está a beleza?
Nove meses depois do Carnaval, muitas vezes vem uma criança.
Mirandópolis, fevereiro de 2016.
kimie oku in


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