Sempre que vejo cipós
e plantas trepadeiras fico pensando em nossa necessidade de locomoção. Os
vegetais em geral são estáticos como os postes que o homem finca no chão, mas
acredito que todas as árvores gostariam de sair do lugar e ver outras
paisagens.
As
árvores nascem num determinado ponto e lá permanecem até acabarem secando, sem
nenhuma possibilidade de mudar de ambiente de per si. A mudança dessa condição
só ocorrerá vindo de fatores externos, nunca de vontade própria. Mas, penso que
até as árvores desejariam caminhar, conhecer outras árvores, outras folhagens,
outros troncos, outras flores...
Quando passa
uma brisa, as folhas se sacodem e parecem estar se comunicando com outras
folhas. Se é um vendaval, até os galhos se agitam, revoluteiam e parecem estar
se defendendo...
Reparem quando as
folhas de outono estão espalhadas pelas calçadas e subitamente sopra um vento.
As folhas que não pertencem mais às árvores começam a bailar, rodopiando no
chão e às vezes até se elevando a alturas nunca sonhadas... Já vi flores róseas
de primavera executando uma dança incrível no meu quintal, desenhando espirais
e círculos sem parar... Então, elas têm vontade, têm desejos enrustidos de
andar, de rodopiar, de dançar. As folhas e as flores assim caídas realizam um
desejo da árvore de onde vieram e, executam movimentos proibidos a ela. Quando
penso nisso, lembro-me de Sartre, o filósofo do Existencialismo que abordou a
questão da náusea de viver... Árvores centenárias ou milenares habitando o
mesmo lugar por séculos e séculos, vendo o mundo sofrer transformações,
exaustas de existir dia após dia,
cansadas de viver porque são fracas demais para morrer...
Também
o homem que não achou sentido em sua existência sentirá náusea de viver. Pra
quê lutar e pelejar com forças hercúleas, se as pernas estão irremediavelmente
condenadas a apodrecer? (expressões de Jean Paul Sartre)
Ler
Sartre dá um nó na cabeça de gente desavisada, porque ele vai fundo na análise
do Existencialismo e na falta de sentido da própria existência, provocando a
desesperança e desgosto de viver...
Mas,
voltando ao movimento de que são dotados os homens e os animais, ainda penso no
desejo das árvores de se moverem, nem que fosse um pouquinho. Há ervas
fraquinhas que conseguiram realizar isso, com sucesso. São os cipós e as trepadeiras,
que se enroscam em muros e cercas, em árvores mesmo e lá do alto jogam suas
flores, suas folhas e seus frutos, como o maracujá, o chuchu...
E todos
os homens e animais têm a vocação de caminhar, de andar por aí, mesmo sem
destino. Em geral todos se mobilizam por uma razão fundamental, que é a procura
de provisões para se alimentar. Comida não chove do céu...
Entretanto,
ultimamente tenho reparado que pessoas idosas estão cada vez mais confinadas em
seus cantinhos, diante de uma tevê assistindo a tantas bobagens e se esquecendo
da vida que flui ao seu redor. Pessoas que se levantam apenas para ir à mesa se
alimentar, ao banheiro fazer suas necessidades fisiológicas e à cama
repousar... Tenho visto amigos que elegeram o sofá e a tevê como limites de seu
mundo, de seu cotidiano e não se importam mais com nada, porque passaram a
viver numa bolha. Ora, o corpo humano assim como o dos animais foi feito para
ser flexionado, para ser estendido, realizando movimentos sempre. É tal qual
uma máquina, que precisa funcionar continuamente, para não perder sua função.
Máquina parada por meses e anos acaba se travando, se enferrujando. E aí o movimento
se torna impossível.
Tem
gente que ainda não descobriu as academias, as hidroginásticas, as clínicas de
Fisioterapia. Todos os idosos deveriam frequentar um desses lugares para mexer
o seu corpo e conservá-lo em funcionamento.
Aposentar-se
não é parar de viver.
Grande
parte de aposentados deixa de realizar atividades que o manteriam funcionando
como um ser vivente e desistem de andar, de circular pela cidade, de realizar
compras, de visitar parentes e amigos, de se preocupar com os vizinhos, de cuidar de outros que precisam de ajuda.
Enquanto
no mundo todo há centenários que levam a vida em comunhão com a natureza,
procurando uma forma mais saudável de terminar seus dias, vejo por aqui, gentes
que desistiram de viver, que estão apenas esperando a morte chegar.
A vida é tão preciosa! Vamos saborear esse
vinho até a última gota. Vamos imitar as trepadeiras, vamos nos enroscar em
cercas e alambrados da vida e sentir até o fim os doces haustos do ar, do sol, e
da luz.
Morrer de forma gloriosa,
porque a vida é prêmio que só acontece uma vez!
Mirandópolis, julho de
2018.
kimie
oku in
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