A pedido de amigos estou escrevendo sobre Okinawa, essa ilha
maravilhosa que se localiza ao sul do Japão.
Hoje, Okinawa é uma Província do Japão, mas já foi domínio da China
e dos Estados Unidos.
Ela faz parte do Arquipélago Ryukyu, uma cadeia de 169 pequenas
ilhas no Mar da China Oriental, entre Taiwan e Japão. População de um milhão e
quinhentos mil habitantes, aproximadamente. Clima tropical que possibilita o
cultivo de cana de açúcar, batata doce e frutas tropicais como abacaxi e
banana. Sua capital Naha se localiza no extremo sul. Okinawa é famosa pelas
belas praias que atraem turistas do mundo inteiro.
A ilha de Ryukyu foi um reino independente, Reino das Léquias (leques?)
entre os séculos XV e XIX. No final do século XIV estava dividida em três
Reinos: ao Norte os feudos de Hokuzan, pobres mas militarmente organizados. No
Centro dominavam os Chuzan, de feudos mais ricos e poderosos. E ao Sul
dominavam os Nanzan, que controlavam os Portos de Naha e Kumemura. Como no
Japão esses grupos entraram em conflito, e os Chuzan venceram. A Ilha foi
unificada por Sho Hashi, que se tornou Rei e se estabeleceu no Castelo de
Shuri, onde passou a governar o país.
O país prosperou através do
comércio com Vietnã, Coréia, Sumatra, Japão e Sibéria. Foi a Era Dourada,
próspera sem guerras. Mas como era um entreposto comercial entre China e Japão,
passou a ser cobiçada pelos países vizinhos. Em 1429, o Imperador Ming da China
o reconheceu como Estado soberano, mas passou a cobrar tributos de Okinawa. Soberania
limitada...
Em 1590, o poderoso Xogun do Japão Toyotomi Hideyoshi solicitou
ajuda militar ao Rei Sho para invadir China. Como eles dependiam da China, o
Rei recusou. E então, em 1609 o senhor feudal Shimazu de Satsuma, Japão invadiu
Ryukyu, destronou o Rei e tomou posse da Ilha. Embora os okinawanos tivessem
que prestar tributos aos japoneses, Shimazu permitiu que a família de Sho
continuasse governando a Ilha. E para manter as aparências como Ilha
independente, os japoneses e os okinawanos foram proibidos de se visitar. Isso
levantou uma barreira cheia de preconceitos, que durou até recentemente.
Quando eu era jovem, os nikkeis do Brasil se referiam aos
imigrantes de Okinawa com desprezo. E eu não entendia a razão. Mesmo os casamentos
com eles eram restritos. Um dia, um jovem daqui se casou com uma descendente de
uchinanchu. E na festa de casamento, a família da noiva trouxe um grupo de
dançarinos para apresentar um show no Clube Nipo. Literalmente foi um show
nunca visto antes. O vestuário alegre e todo colorido, o ritmo da música, os
instrumentos musicais, os passos dos dançarinos deixaram a comunidade nikkei boquiaberta.
Todos perceberam que a cultura okinawana era rica e digna de respeito.
Bem, mas continuando a história, em 1879 Japão anexou as Ilhas e China
se opôs. Estados Unidos intermediaram favoravelmente ao Japão. E continuou
pertence ao Japão até 1945, quando os Estados Unidos invadiram a Ilha na
Segunda Guerra. Houve a terrível Batalha de Okinawa, em que morreram setenta e dois mil
soldados americanos e duzentos e cinquenta mil militares e civis japoneses.
Esses civis eram okinawanos ou uchinanchus...
Com a derrota do Japão, os americanos tomaram a ilha e ali estabeleceram
uma Base Militar, que permanece até hoje. Os soldados ocidentais baseados lá
acabaram se relacionando com as moças uchinanchu e geraram filhos. Esses filhos,
resultado da miscigenação de japonesas com americanos são chamados hafu, isto é
meia e meia, ou metade japonês e metade americano. São os mestiços. Havia muita
discriminação, mas hoje com a globalização, as raças se misturaram tanto que há
hafus de várias raças e ninguém mais se preocupa com isso.
Em 1972 os Estados Unidos devolveram a Ilha ao Japão, mas a Base
Militar continua lá. Com isso, a discriminação contra os okinawanos foi
diminuindo aos poucos, porque eles passaram a ser definitivamente considerados
japoneses. Japoneses que falam outra língua, têm uma cultura totalmente
diferente e cuja origem ninguém ainda desvendou. Se, são originários das Ilhas
da Polinésia, da antiga China ou dos japoneses do período Jomon... Mas, isso
não tem importância, o que importa é que japoneses, okinawanos e brasileiros
somos todos irmãos, oriundos de um mesmo Deus.
Um amigo meu esteve de
passagem ao largo da Base Militar Americana, e disse que ficou muito
impressionado. É imensa e tem um Exército, perto de 50 mil homens! Além de porta-aviões
e armamento pesado... A presença dessa Base e as manobras que fazem têm
incomodado muito os moradores da Ilha, que querem preservar a natureza. A
poluição sonora chega a níveis insustentáveis, quando os aviões fazem
treinamentos. E todos os moradores reclamam dessa presença de estrangeiros,
mesmo porque volta e meia estão acontecendo casos de estupros de crianças
nativas... O governo japonês alega que essa Base representa segurança para os
japoneses, constantemente ameaçados pelos norte coreanos. Mas está sendo pesado para os habitantes da
Ilha. E as desabitadas Ilhas Senkaku controladas pelo Japão, estão sendo
disputadas pela República Popular da China e por Taiwan.
Então, mesmo no Paraíso terrestre não faltam problemas!
Como estamos tão distantes e só vemos imagens maravilhosas das
praias de Okinawa, nunca pensamos em problemas. Mas a presença dos americanos
ali realmente é um preço duro para se pagar, por ter sido anexado ao Japão. Os
okinawanos ainda sonham com Independência, mas a globalização torna isso quase impossível.
Bem, mas ainda há muito que conhecer sobre os uchinanchu. Eles têm
linguagem própria e diversos dialetos. Descobri algumas palavras na língua
nativa: mamãe seria Anma, papai é Su, irmão é Chode, amigo é Dushi, obrigado é Nife, senhores é Gusuyo, feliz é Usaibin, descendentes é Nife Debiru,
Deus é Kami, oratório da cozinha é Hinukan, que é o Guardião do Fogo, Sanshi é
um shamisen de três cordas, Yutá é mãe de Santo, Kachashi é uma música para
todos dançarem em final de festas. Também percebi que Norte é Hoku, Centro é
Chu e Sul é Nan como em japonês (Hokuzan, Chuzan e Nanzan).
As escolas locais estão se empenhando em preservar a rica cultura
nativa, ensinando cânticos e danças desde o Curso Primário. Essa cultura é muito
atraente porque o povo é bastante comunicativo. São alegres e transmitem muita
coisa positiva. Suas danças e seu ritmo já ganharam o mundo! Há que se
preservar! E o cuidado que têm para cuidar da natureza é um exemplo
inigualável.
Até agora eu só sabia que os uchinanchu gostam muito de Goyá ou
Nigauri, ou Melão de São Caetano. E sabia que eles têm cabelos fartos e fortes;
e que Campo Grande capital de Mato Grosso do Sul tem o maior reduto de
uchinanchus do Brasil.
Mas com essa pesquisa descobri tudo isso que escrevi, e estou
encantada com esse povo, que sabe ser feliz e leva a vida numa boa. Mais feliz
ainda pela colaboração de Kenji Tengan um uchinanchu de boa cepa, que me passou
tantas informações.
Vou encerrar usando alguns termos da língua uchinanchu!
Gusuyo, estou usaibin por ter conhecido a história de Uchinaa.
Nife debiru Kenji Tengan pela ajuda. Yutá e Kami te protejam!
Mirandópolis, novembro de 2020.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com
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