quarta-feira, 20 de abril de 2022

 

Noguchi Hiideyo

 

Maneta! Aleijado!

Assim era recebido um garoto na Escola, todos os dias. Riam dele e o humilhavam como se tivesse culpa da sua deficiência... Eram os anos 1880 e já havia bullying no Japão.

Quando tinha apenas um ano e meio, Noguchi Hideyo caiu no braseiro de aquecimento que havia no meio da sala, e teve uma queimadura, que o deixaria aleijado da mão esquerda. Esse acidente ocorreu quando sua mãe estava trabalhando na roça perto de casa. Havia deixado o bebê na sala aquecida pelo fogareiro...

 Ao frequentar a escola primária, foi alvo de perseguição e humilhação por causa da mão preta e defeituosa que possuía. Apelidaram-no de Maneta e Aleijado.  Por isso começou a ficar triste e solitário. Sua mãe percebeu que ele estava ficando arisco, e o aconselhou a estudar bastante, para vencer os meninos que o perseguiam. E todos os dias o incentiva mais e mais.

Noguchi nasceu num vilarejo bem pobre da Província de Fukushima, Japão em 1876. Sua família era mais pobre que pobres, com a situação agravada pelo pai viciado em bebida alcoólica. Sua mãe é que dava duro, todos os dias nas roças dos vizinhos, para pôr a comida na mesa.

 Noguchi estudou tanto que se tornou o melhor aluno da classe, e passou a ser o Monitor de seus colegas, por ordem dos Mestres. Um Professor em especial ficou impressionado com o empenho do menino, e resolveu investir em sua educação. Patrocinou o prosseguimento dos estudos equivalentes ao Ginásio, porque a mãe não podia pagar as mensalidades, e nem comprar o material escolar.

Para ir a essa escola, tinha que andar 12 quilômetros diariamente, mas nunca faltou, mesmo em dias de nevasca...  Tinha apenas doze anos de idade. Um dia, ele escreveu uma redação, em que revelou o desejo de pegar uma faca e soltar cada um dos dedos da mão aleijada, para torná-la funcional, pois não podia segurar nada com ela. Com o acidente no braseiro, seu polegar estava grudado no pulso e, os demais dedos grudados na palma da mão. Todos os Professores que leram a redação ficaram bastante comovidos, e resolveram proporcionar-lhe uma cirurgia. Para isso, fizeram uma campanha na escola e na comunidade, e com a ajuda de todos foi feita a operação. Quando Noguchi conseguiu pegar um objeto com essa mão, chorou. E tomou uma decisão: Seria Médico. Para ajudar pessoas como ele que precisavam de cuidados.

Para conseguir esse objetivo, apelou para os Professores que o encaminharam a um Hospital, onde aprendeu o ofício vendo os procedimentos dos médicos e enfermeiros, e estudando como autodidata em livros de Medicina. Ao mesmo tempo, estudou com afinco a Língua Inglesa e a Alemã, além do Chinês. Naquela época não havia  Escolas de Medicina, aprendia-se na prática em hospitais.

Ao se formar, tentou cuidar de pacientes, mas estes não gostavam de ser tocados pela mão defeituosa do médico... Então, resolveu ser um pesquisador, para descobrir as causas das doenças. E foi designado para trabalhar no Centro de Pesquisas de Doenças Transmissíveis de Tóquio. Ali, conheceu o Professor Emérito James Thomas Flexner da Faculdade John Hopkins, dos Estados Unidos. Este ficou fascinado com os conhecimentos de Noguchi, e lhe recomendou que o procurasse quando fosse aos Estados Unidos.

A peste bubônica estava matando pessoas na China, e Noguchi foi designado para participar da Comissão de Médicos de vários países para deter a doença. Noguchi foi e realizou um bom trabalho. Ao retornar ao Japão, resolveu ir aos Estados Unidos para se dedicar às pesquisas. E lá, junto com o Professor Flexner pesquisou sobre venenos de cobras. Como era minucioso e muito dedicado, fez anotações que organizou numa tese que publicou. Sua tese sobre Venenos de Cobras deixou admirada a comunidade científica, e o nome de Noguchi Hideyo ficou conhecido em todo o mundo.

Quando o Professor Flexner foi designado para atuar como Diretor do famoso Rockfeller Center de Pesquisas, levou Noguchi consigo. Mas, antes o mandou para Dinamarca aperfeiçoar os estudos. E lá na Europa, ficou conhecido pelas palestras sobre venenos de cobras, que proferiu em vários países.

 Ao voltar para os Estados Unidos, pesquisou e separou a bactéria causadora da Sífilis, doença sexualmente transmissível, que matava muita gente na época. Com a descoberta da bactéria, foi possível organizar os procedimentos para prevenção e tratamento da sífilis.

Noguchi casou-se com americana Mary Loretta Dardis, que o apoiou totalmente em sua dedicação às pesquisas.

Após quinze anos ausente, ao receber uma foto da velha mãe, que implorava a sua volta, retornou ao Japão. E nessa visita, ele conseguiu demonstrar todo o amor filial que sentia pela genitora, que acreditara na sua inteligência e capacidade. Recebeu homenagens no vilarejo onde nascera e até do próprio Imperador. Foram homenagens para o famoso cientista, mas todos os convidados ficaram tocados pelo  carinho que ele tinha pela velha mãe.

Mas, a sua vida de pesquisador o levaria a várias partes do mundo, indo para o Equador onde conseguiu separar o agente causador da Febre Amarela, que estava dizimando populações inteiras de equatorianos. Após separar o agente causador da doença, a vacina era preparada no Rockfeller Center para controlar as epidemias. Depois, seria encaminhado para Merida no México, onde grassava a febre amarela. Por essa mesma razão, iria para o Peru, para a Bahia no Brasil. E em todos esses lugares por onde passou, conseguiu salvar a vida de milhares de pacientes atacados pela febre amarela. Esteve no Rio de Janeiro onde conheceu o nosso famoso  Dr. Osvaldo Cruz, que pesquisou sobre a malária e a febre amarela.

Por tudo isso, Noguchi recebeu as mais altas condecorações dos países por onde passou, e de outros países como a França, que lhe concedeu a Legião de Honra, a Espanha e a Suécia. O Japão lhe concedeu a Honra ao Mérito da Ordem do Sol Nascente.

Mas, a sua carreira de pesquisador de bactérias ainda o levaria para a África, onde havia uma modalidade mais violenta de febre amarela. Ali, ele se empenhou em separar o agente patogênico, que matava milhares de africanos todos os dias. E após duro combate, varando noites e dias, após cinco meses de trabalho fatigante conseguiu separar o vírus. Mas, com o corpo enfraquecido e maltratado pelas noites mal dormidas, e pelo calor sufocante da África, acabou contraindo essa terrível doença, que o mataria a caminho de Nova Iorque, para onde estava levando o causador da doença.  Tinha apenas 52 anos de idade...

Sua morte causou uma grande consternação no mundo científico, e muitas homenagens foram feitas. Foi velado no Rockfeller Center e enterrado no Cemitério de Woodlawn em Nova Iorque, como Benfeitor da Humanidade.

Além de ser o descobridor dos agentes causadores da Sífilis e da Febre Amarela, suas pesquisas contribuíram muito para deter essas doenças pela fabricação das vacinas. Também foram de muita importância suas pesquisas sobre venenos de cobras e sobre Tracoma, doença que atacava os olhos.

Em várias partes do mundo há hospitais e Centros de Pesquisas que levam o seu nome, tal a importância que teve para o progresso da Medicina. Em Ueno, Japão e em Gana na África há estátuas para eternizar o seu nome, e a casa onde Noguchi nasceu em Fukushima foi transformada em Museu. As homenagens foram justas porque em nome da ciência, ele dedicou totalmente a sua vida às pesquisas para vencer doenças. E foi vítima de uma das mais terríveis. Podemos até dizer que viveu e deu a vida pela Febre Amarela.

Observação: Pesquisei e escrevi esta história, atendendo a uma solicitação do amigo Dr. João Ohashi de Campinas, cujo pai venerava o Dr. Noguchi, porque era de Fukushima também..

Mirandópolis, dezembro de 2014.

Revisto em abril de 2022.

kimie oku in


http://cronicasdekimie.blogspot.com

                                                                             

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