sábado, 21 de julho de 2012


O Desfile

          Seis horas da manhã, a cidade é acordada com explosões parecidas a tiros de morteiro. Em algum lugar alguém executa o toque da Alvorada. O som vem serpenteando pelas ruas, penetrando nas casas, sussurrando em nossos ouvidos que é hora de levantar. O sol, timidamente, surge no horizonte, anunciando um novo dia, o dia do aniversário da cidade Labor, aniversário de Mirandópolis.
          Já se vê pelas ruas, estudantes, com seus uniformes passados e engomados, dirigindo-se para seus estabelecimentos de ensino, de onde sairão para o desfile ansiosamente aguardado. No CENE Dª Noêmia Dias Perotti, os inspetores de alunos, seu Jorge Cury e dona Terezinha, auxiliados pelos serventes dona Severina e seu Silvio Marchi, tentam botar ordem e organizar os pelotões de alunos e alunas.  As meninas primeiro, depois os meninos por ordem de altura. Os professores de Educação Física dão sua contribuição, passando as listas de presença. O pessoal da fanfarra, com seu uniforme de gala, afina seus instrumentos:  são caixas, tambores zabumbas e cornetas.
          Numa destas comemorações o professor Kazuo ficou responsável pela fanfarra. Aos alunos que participassem dela ele prometeu dar nota dez e dispensar da prova bimestral.   Eu, surdo-mudo em Música, pendurado em Matemática, precisando tanto daquele deizinho candidatei-me. Deram-me os pratos e instruíram-me: após o repicar das caixas....tatarata...você bate os pratos...blein, tatarata...blein, tatarata...braunnnn, fui dispensado no segundo ensaio.
          Todas as escolas e demais participantes do desfile se reuniam no pátio da Igreja. Não havia palanque e as autoridades do município faziam seus discursos da escadaria da Igreja e, em seguida, o padre Epifânio rezava a missa. Era demorado, cansativo...nos escorávamos numa perna, depois na outra...agachávamos...éramos repreendidos pelos inspetores de alunos.
          Finalmente iniciava-se o desfile. A Escola do Comércio e o Ginásio revezavam-se na abertura do desfile e no encerramento. Às vezes o encerramento era feito pelo Tiro de Guerra de alguma cidade vizinha, Andradina ou Valparaiso.  As balizas iam à frente das escolas, fazendo seus malabarismos.  Os porta-bandeiras levavam as bandeiras do Brasil, de São Paulo e do Municipio.  À frente da fanfarra da Escola do Comércio tremulava o estandarte azul e branco com as palavras GLERCA; do Ginásio vinha o estandarte vermelho e preto escrito Grêmio XV de Novembro e trazendo ainda a figura estilizada de um galo, idealizada pelo professor Walter Sperandio.
          O Grupo Escolar Professor “Hélio Faria” se fazia presente, tendo como destaque sua pequena fanfarra comandada pelos professores  Paulo Turri, Gamaliel e José Calemes. O Grupo Escolar “Dr. Edgar Raimundo da Costa” tinha os escoteiros orientados pelo seu Luiz, o Luiz do Grupo, o Luiz Peru, disciplina militar....direiiiiita, voooolver, esqueeeerda, vooooolver....ordináaaario, marche. Foi uma pessoa incompreendida, fez amigos e inimigos devido ao seu gênio belicoso, era prestativo com os amigos e parentes,  tendo freqüentado apenas o primeiro ano primário, consertava ferros elétricos, chuveiros, enceradeiras e liquidificadores. Fazia instalações elétricas e hidráulicas. Era apenas Porteiro do Dr. Edgar, mas vestia a “camisa da escola”. Era meu tio e eu o amava como minhas filhas também o amavam.
          As escolas apresentavam carros alegóricos homenageando figuras históricas, a seleção brasileira de futebol e o fundador da cidade, senhor Manoel Alves de Athaide.  Associações como o Rotary,  Lions e outros clubes de serviços e entidades prestavam suas  homenagens.  A colônia japonesa sempre apresentava algum carro destacando a agricultura da cidade.  Um carro muito elogiado era aquele que trazia a rainha da cidade  e suas princesas. Todos os anos eram eleitas a Rainha e as Princesas e tínhamos o baile de Coroação da Rainha no CAM. Lembro-me apenas das rainhas Célia Zuin e Sonia Zacarin. A população de Mirandópolis, quase que na sua totalidade, saia  à rua para assistir ao desfile.
          Quando achávamos que o desfile tinha terminado, com os participantes se dispersando no final da Avenida Rafael Pereira....eis que surge um tumulto, a multidão acompanhando um carro retardatário!!!!!!! Era o Fernando Miron, dirigindo uma caminhonete de carroceria de madeira preta, da Funerária, tendo no alto de uma escada, usada pelos juízes de vôlei,....o Galego, vestido de mulher, com a faixa de Miss  Ribeirão Claro.
           À tarde haveria show de paraquedistas e futebol. 



ademar bispo

7 comentários:

  1. Demá com suas crônicas preciosas e maravilhosas nos remete a um passado do qual participamos, ora como alunos, ora como observadores.
    Parabenizo-o por mais esta obra e a Kimie pelo registro.
    Kimie: E aí, o Demá soube colocar bem o seu gerúndio? Isso é pra quem sabe e não pra quem quer, né?
    Abração aos amigos.
    Canário.

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  2. Ulisses, o Bispo é muito bom nos gerúndios e na maneira de contar os fatos. Faz a gente querer saber mais e mais. Gosto da objetividade com que relata os fatos, como se fosse um jornalista, que não perde tempo nem espaço. Essas crônicas e o seu poema, Ulisses, só enriquecem o meu blogger.

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  3. A gente volta no passado e cai na lembrança de quando era garoto e participava da minha primeira fanfarra do segundo grupo escolar (helio faria), quem comandava era o saudoso prof. Paulo Turri, levantava bem cedinho e tomava café na propria escola para aguentar tantas horas de pé, mas era gratificante e ainda continuei durante mais de 15 anos, inclusive na do CENE que era vibrante e fabulosa que disputava a finco com a Escola Comercial do nosso Canário. Parabens Bispo por deixar nós viajar no tempo, com muitas saudades dos grandes desfiles.

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  4. Lembrando, eu estava aí nesta foto, era o segundo na fila do meio, de "zabumba" (mais fino)atrás de um fuzileiro. Bateu saudades.

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  5. Muito bom, Bispo! Como sempre, qdo vc conta suas histórias, tb fala um pouquinho das nossas...e a saudade faz uma paradinha em nossos corações e em nossas mentes!
    Um abraço a vc e à Kimie que permite com seu blog esse doce recordar!
    Joana

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  6. Bela crônica que relata um tempo em que a civilidade fazia o orgulho de um povo, de uma cidade.
    Parabéns Ademar Bispo, me vi naquele desfile em vários flashs.
    Abçs,

    Lupércio Ailton

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