terça-feira, 30 de junho de 2015

                                Gente de Fibra:
Vina Ramires
   
Hoje quero contar a história de uma senhorinha muito conhecida de todos na cidade. É sobre a Etelvina Lustoza Ramires, que está completando oitenta anos de idade.
Vina como é conhecida nasceu em Guararapes em 1935. Filha de EmílioLustoza e Amélia Granja Lustoza, veio com três anos de idade para Mirandópolis. A família administrou a Padaria São João por algum tempo. Mas, logo o seu Emílio passou a trabalhar para o senhor Belmiro Jesus,  derrubando as matas para instalar sua fazenda. Fazenda que hoje é propriedade da Família Mustafa. Naquela época, década de 40, a nossa região era toda coberta por uma densa floresta, e era preciso derrubar as matas, para se iniciar uma lavoura. Atuou também como boiadeiro juntamente com dois filhos, buscando o gado em Mato Grosso. A boiada era conduzida pelas estradas de terra, a toque de berrante e vigiada por trabalhadores conhecidos como boiadeiros. Era um serviço duro, muitas vezes levando meses fora de casa, enfrentando todas as intempéries, dormindo à beira de estradas e cozinhando um feijão nas trempes improvisadas, que os boiadeiros comiam com farinha...
    Vina tem a lembrança de um irmão seu tocando o berrante toda vez que, se aproximavam da fazenda ao retornarem dessas longas viagens.
     Belmiro Jesus e dona Vera, que foram os proprietários da Serraria Jesus, eram pessoas boníssimas e tratavam os empregados da fazenda com muita atenção, visitando suas casas sempre. O homem tinha muitas posses e, adquiriu até um avião para facilitar suas idas e vindas de Presidente Prudente, onde realizava muitos negócios. Tinha até campo de pouso para seu avião lá na fazenda. E fundou um Aero Clube na cidade, com aulas de pilotagem.
     A vida transcorria tranquila para a família de Vina, mas uma tragédia iria mudar tudo. Seu pai Emílio Lustoza faleceu de repente. Tinha apenas 57 anos de idade e, seu filho mais velho só tinha 17 anos.
     Como herança, seu pai havia deixado um sítio para a família, mas por não saberem administrar direito acabaram perdendo-o. Sua mãe ficou desarvorada, e acabaram se mudando para a cidade. O irmão mais velho e um cunhado compraram um caminhão e faziam viagens, para conseguirem dar conta das necessidades. Depois, o irmão foi trabalhar de administrador numa fazenda. Vina, sua irmã e sua mãe foram morar com a irmã casada em Araçatuba, onde a moça trabalhou na Loja Eletrolux e nas Casas Pernambucanas. Depois de um certo tempo, voltaram para Mirandópolis e foram morar na Vila Jesus, que era um conjunto de casas de tábua, que o senhor Belmiro mandara construir para seus operários da Serraria. Ficava à beira da linha, e lembrava aqueles vilarejos que apareciam em filmes do velho Oeste Americano, e era exatamente onde hoje é o Bairro Sampaio. Aqui,Vina trabalhou no Escritório de Belmiro Jesus, na Auto-Peças de Altino Antunes e nas Casas Pernambucanas.
 Nessa época, Vina já era uma mocinha e gostava do footing, que acontecia diante do Cine São João, que se localizava entre a atual Farmais e o Maeda. O footing era lugar de passeio, onde as meninas circulavam para ver a rapaziada. E aí, conheceu o jovem Osvaldo Ramires da Padaria São João. Isso foi em 1953... Em 1955 se casaram, e então, a Vina parou de trabalhar.
     Seu esposo, que era Escriturário no Hospital Geral, fez um Curso na Fundação Getúlio Vargas, e seria promovido a Diretor de Finanças e atuou por mais ou menos vinte anos no atual Hospital do Estado.
     Como não fora possível fazer os estudos regulares, por morar em fazenda distante da cidade, depois que teve três filhos, Vina decidiu estudar Contabilidade, porque a Escola de Comércio ficava exatamente em frente à sua casa. Com o apoio do esposo conseguiu terminar o Curso, pois queria ter mais conhecimento para ajudar os filhos nos estudos. E passou a trabalhar no Hospital como Auxiliar de Cozinha. Depois foi promovida a Copeira e finalmente a Costureira do Hospital, onde confeccionou muitos aventais para médicos e pacientes, além de roupas para os leitos. Sua companheira de costura foi a Mariquinha Rosado, e lá atuaram por muitos anos. Por fim, passou a ser Auxiliar de Finanças, trabalhando com o esposo Osvaldo, que era o Diretor.
    Lembra com saudades dos Enfermeiros da época: Salomão, tia Rosinha, Lúcia Bronca, Lourdinha Codonho, Mariquinha e Deolinda Zanco.
     E os Médicos daqueles tempos que lembra são: Doutor Elmano Moreira Brandão, Dr. Ubiratan, Dr.Francisco Teothônio Pardo, Dr.Jener Vieira dos Santos, Dr.Yoshito Kanzawa e Dr.Roberto Yuassa. Lembra que todos eram médicos muito competentes e atenciosos para os pacientes. E o Diretor era o Senhor Francisco Tieri Neto, que era muito rigoroso em temos de higiene. Mas, quem deu o empurrão na vida do casal foi o Doutor Jorge Maluly Neto, que foi também Diretor do Hospital.
     Nessa época, Vina e Osvaldo costumavam cantar em duo, em todas as reuniões e festinhas, tanto familiares, como públicas. Eram muito requisitados para cantar. Cantavam em casamentos e em outras celebrações. E gostava de cantar “Creio em ti” de Altemar Dutra para o esposo, que apreciava muito essa canção. Hoje gosta muito de cantar “Chão de estrelas” de Sílvio Caldas e “Ave Maria do Morro” de Herivelto Martins.
     Como aconteceu com a mãe, Vina também ficou viúva muito cedo. Seu esposo Osvaldo faleceu com apenas 42 anos de idade. Vina ficou desarvorada... Mas se lembrou da mãe que passou tanto tempo chorando a morte do esposo, que ficou com as faces marcadas... E resolveu que não faria a mesma coisa. Enfrentou a vida dura que a esperava com um sorriso no rosto, a ponto de ser chamada maldosamente de “Viúva alegre”por alguém. Isso magoou o seu filho Renato, fazendo-o chorar. Mas, a Vina tirou de letra essa passagem, porque as urgências da vida requeriam muita ação. O esposo havia deixado um sítio com gado. E tudo era questão de administrar. Em 1975, ano seguinte ao falecimento do esposo, veio a famosa geada, que destruiu todas as pastagens e cafezais. Sem muito tino para ser lavradora, tentou financiamentos no Banco, mas não deu certo. Montou uma Leiteria, que também deu em nada. Por fim, vendeu o gado e perdeu tudo. Etelvina que parecia uma menina predestinada a ter tudo nesta vida, porque quando criança fora muito mimada pelo fazendeiro Belmiro Jesus, teve que enfrentar mil percalços para dar conta da vida. Ficou órfã cedo e sofreu com a família, duras necessidades e quando casada perdeu o esposo muito cedo.
     Mesmo assim, não perdeu a coragem e batalhou para encaminhar os filhos: uma das filhas é Comerciante, a outra é Funcionária do Estado assim como o filho. Além deles tem três netos. Uma das lembranças mais emocionantes que tem, foi a de ter cantado diante do corpo do querido esposo, na missa antes do funeral... Cantou a canção que ele mais amava “Creio em ti”. Chorando...
               E uma doce lembrança que ela tem é, ter assistido ao Senhor Delmiro Luiz Rigolon desfilando a pé, como o primeiro Prefeito eleito, à frente de uma Banda tocando no aniversário da cidade...
    Hoje, completando já oitenta anos de vida bem vividos, participa da Ciranda e canta as mais belas canções, para a alegria de todos.
    Etelvina Ramires, Mulher feliz, que leva a vida num sorriso permanente, que venceu todas as batalhas da vida é, realmente Gente de Fibra!
     Mirandópolis, junho de 2015.
     kimie oku in
     http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/



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