domingo, 17 de julho de 2016

             Tabajara
     Este texto chegou às minhas mãos através da amiga Maria Nívea Pinto, depois que abordei e publiquei sobre o mesmo tema no Diário de Fato e no meu blogger. Como esse lugar fez parte de minha infância e minha juventude, guardo-o no coração para sempre. Por isso, li com atenção e o achei muito informativo.
É de autoria de Geisa Prates, uma jovem que mora em Lavínia, e que deve ter pesquisado a fundo, para produzir esse texto que merece ser preservado para a posteridade.
Então, pedi sua autorização para publicá-lo no meu blogger http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/  e no Jornal Diário de Fato.
E diante de sua anuência, estou publicando-o para rememorar o passado desse famoso bairro, do município de Lavínia.

            Tabajara  por Geisa Prates

(proveniente da língua indígena Tupi-guarani, Tabajara significa “Senhor das Aldeias” – Taba - aldeia e, Jara – Senhor)

O Distrito onde residem ainda hoje alguns lavinenses , provavelmente teria sido habitado por tribos indígenas até a década de 30 e, o processo de colonização teria acontecido por volta de 1940, com a chegada dos desbravadores Emílio de Leão e Jeremias Lunardelli.
Emílio e Jeremias teriam colonizado as terras e posteriormente dividido em alqueires, que foram vendidos a famílias que vieram da mesma região onde moravam, Pirajuí.
Com a chegada da civilização e, rodeada pelas inúmeras fazendas de café do próprio Jeremias Lunardelli, Ivo Tozzi, Cláudio Moura, Emílio Leão entre outras, as colônias foram crescendo e com elas, a necessidade de comprar mistura, o pão, remédios, o fumo, e a tradicional “cachacinha”. Como Lavínia ficava distante e na época ter uma bicicleta era um luxo, a Vila Tabajara foi crescendo, chegando a ter mais moradores do que a própria sede do município, se contabilizando toda a população rural.
Foi então que surgiu no Tabajara, além dos armazéns e dos bares, as farmácias, a Escola e o próprio Cartório de Registro Civil, onde trabalharam por várias décadas o Tabelião Hintz Brandão e a filha Hirtz Brandão.
Antonio José Farias, 69, conhecido como “Tonhão Faria” que reside no Tabajara desde que nasceu, relembra algumas histórias: “Recordo das ruas cheias de gente, o campinho do Tabajara Esporte Clube lotado com centenas de torcedores aos domingos, as festas de Santo Antônio que duravam três dias e recebiam quase três mil pessoas, as jardineiras, as brincadeiras de roda... sinto falta daquele movimento” declarou seu Antônio. Seu Antônio conta também que uma vez estava fazendo cerca no sítio do sogro Aleixo Peron e encontrou vários potes de barro enterrados. "Tenho certeza que naquele local vivia uma tribo indígena anteriormente, encontrar aqueles potes só confirmou minhas suspeitas.”
Sobre a Escola “Emílio Leão”, seu Antônio lembrou que funcionava em dois turnos recebendo muitos alunos. “A escola funcionava em dois turnos, de manhã e à tarde. A molecada ficava muito feliz em poder frequentar a escola. Quem morava nas fazendas vinha e voltava a pé e não falhava sequer um dia” Por volta de 1970, aquela vila cheia de gente, vendas, máquinas de beneficiar grãos foi acabando, ficando cada vez mais vazia. Seu Antônio que viu a vila se expandindo, também foi testemunha do êxodo e acredita que o fator que mais contribuiu foi a geada de 1975. “Muitos produtores de café quebraram nessa época e foram embora em busca de novos investimentos” relatou seu Antônio.
O casal Redentor Fontana e Luzia Pires Fontana, respectivamente conhecidos como Sr. Diquinho e Dona Luzia também morou por muitos anos no Tabajara, na direção do Armazém São José. Seu Diquinho mudou para o Tabajara em 1950, no auge da produção do café.
“Eram mais de 1800 pessoas em 100 propriedades de café, em menor escala a produção de feijão, milho, algodão, mamona e a pecuária, mas de certa forma posso dizer que tudo girava em torno do café.” afirmou ele.
Por conta da grande produção do café que gerava emprego, os comerciantes acabavam lucrando também e nessa época, o distrito chegou a ter cinco armazéns de Emílio de  Leão, Antônio Bácaro, Arthur Nogueira, Nicola Colluci e Manoel dos Reis: quatro bares de Rogério Rebolo, Sebastião Rodrigues, Francisco Maciel e Henrique Barranco; as máquinas de beneficiar grãos eram de Redentor Gonfiantini e Fermino Pavesi. “Tinha várias casas de comércio e todo mundo tinha freguês, porque tinha bastante gente no Tabajara e nas redondezas” disse.
Já o lazer ficava por conta dos bailes aos sábados à noite, o futebol aos domingos à tarde e os “fute” aos domingos à noite. “A turma trabalhava a semana inteira, esperando chegar o sábado para dançar nas barracas que eram montadas nos bairros, tinha vez que chegava a ter três bailes no mesmo dia em bairros diferentes. No domingo à tarde a alegria eram as partidas de futebol, e à noite eram as paqueras” relatou  seu Diquinho.
Para Diquinho, o êxodo se deu por conta da inflação, quando o cultivo do café deixou de ser rentável e o próprio governo incentivou os produtores a extinguirem a plantação.
Com a quebra a produção de café, assim como os outros comerciantes seu Diquinho deixou a vila, continuando no ramo comercial em Lavínia.
Lavínia, 2012.
Geisa Prates










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