sexta-feira, 14 de outubro de 2016

   
         Alice


    Alguém me disse outro dia que, há muitos professores aposentados com problemas de depressão. Ou em fase pré depressiva.
     Daí demos tratos à bola.
Infelizmente, professores que foram tão dedicados à Educação ao se aposentarem perdem o rumo da vida. Deixaram a Escola e se sentem totalmente abandonados... Sem referência.
Esses professores prepararam os jovens para a vida e, se esqueceram de preparar a sua aposentadoria. Aposentar-se não é parar de viver. Não é morrer! Tem que ser programada.
Conheço professoras que se tornaram totalmente domésticas, que só passam os dias lavando, passando, limpando e cozinhando... Uma delas até me disse que tem o umbigo grudado no fogão, na pia e no tanque... Triste visão! Mas, por que se anularam assim?
Os dias são longos e é possível programar horas mais agradáveis que ficar grudada no tanque.  Mesmo porque, ninguém passa todos os dias da semana lavando e passando. Cozinhando, pode até ser...
Viver por viver não tem sentido!
É preciso programar cada mês, cada semana, cada dia. E inventar alternativas para não ficar deprimido.
Quem passa a vida só lavando, passando e cozinhando... E nas horas vagas só fica vendo tevê e suas baboseiras, certamente ficará depressivo.  Pode perder até o juízo... É preciso buscar outras opções. Um bordado, um crochê, uma hidroginástica, uma dança, um chá com as amigas...
Aqui em Mirandópolis há muitas alternativas: Grupos de oração, grupos que visitam doentes. Terço dos homens, Cavalgada, as Luluzinhas, Grupo de Professores aposentados, grupo Conviver... a Ciranda. Todos voltados para praticar o bem para os outros e para o próprio grupo. E ainda, há as doceiras que fazem os doces para os Leilões de Gado da Apae e do Hospital de Câncer. Doces deliciosos feitos com capricho como só a boa vontade é capaz de produzir. E recentemente, surgiu um novo grupo de senhoras que arrecadam fraldas para os internos do Asilo. Louvável iniciativa.
Mas, se você não gosta de grupos, é possível ocupar-se com outras atividades. Caminhar no Bosque da Saúde, Visitar o Asilo, oferecer os préstimos para a Apae, para a Casa da Criança, tricotar, fazer toucas e bonés para o Hospital de Barretos ou Jaú, acompanhar doentes vizinhos em suas sessões de tratamento... Conheço o Zé Maria bancário aposentado Professor também, que vai ao Asilo cortar os cabelos e as barbas dos internos, toda semana, e isso há anos seguidos... E outros profissionais voluntários que, oferecem seus préstimos de Dentista, de Pintores de telas aos alunos da Apae uma vez por semana.
Todo mundo tem uma habilidade. E aposentar essa habilidade é muito triste. Então, por que não oferecê-la voluntariamente a quem precisa dela? Mesmo aposentado, você poderá ser útil à sociedade. E há tanta gente que não sabe fazer o que de mais especial você faz... Doar-se é o máximo do serviço voluntário!
Quando se aposenta, a Professora já não é uma simples aposentada, sem referência. Ela carrega um caminhão de experiências, de vivências que aprendeu nas salas de aula, em contato direto com crianças de todos os níveis sociais. E nunca deixará de ser aquela pessoa que ensina. E que aprende a cada dia. Professor é professor sempre, até o fim da vida.
Em Mirandópolis, há em contrapeso, professoras que se aposentaram e nunca pararam de servir à comunidade. Sua aposentadoria não é feita de horas vazias, sem sentido. Elas nunca ficaram fechadas nos seus casulos, como se tivessem terminado sua missão na vida. Elas deixaram seu mundo de conforto, de horas vagas, de aposentadas para arregaçar as mangas e partir para a luta.
Minha amiga Encarnação é uma delas. Aposentada, poderia estar chorando a perda precoce do esposo Edmir, que foi um exemplo de cidadão. Porém, ela partiu para driblar a solidão. Como? Continuando a obra do esposo no Centro Bezerra de Menezes, proferindo palestras para iluminar os caminhos das pessoas... E orientando e confeccionando roupas de bebê para as mães carentes. Bela e útil atividade, que deve lhe proporcionar muita satisfação, além de servir ao próximo.
Outro amigo é o Jorge. Aposentado na Educação, continua atuando na vida pública como Advogado. E teve a oportunidade de servir a Apae por um tempo. Diz ele que foi a experiência mais gratificante que teve. Lá, aprende-se a enxergar a outra face da vida... Face dura, difícil de compreender... E de aceitar.
Outro é o Zé Augusto. Aposentado como Professor, está usando seu tempo para se dedicar às obras sociais da cidade. Leilão de Gado. Serviço voluntário. Aposentou-se mas continua vivo. E muito vivo servindo a comunidade.
E no grupo de doceiras dos Leilões tem uma porção de professoras aposentadas, que se dedicam de corpo e alma em selecionar, descascar, cortar, ferventar os frutos para fazer doces maravilhosos e adoçar a boca do povo. Dentre elas, cito a Regina Rosado, a Zezé Junqueira, sua irmã Carmen Lúcia, Vilma Mardegan e Maria José Ermini.  Havia mais, mas com a idade... E ainda há um grupo de senhoras que se reúnem semanalmente numa igreja, para confeccionar panos de pratos, para serem doados aos Bazares dos Leilões. Gente simples, que no anonimato de suas vidas fazem trabalhos lindos...
Também não posso deixar de citar a Prefeita eleita nas últimas eleições, a professora aposentada Regina Mustafa.  Pelo que tenho observado, ela nunca parou de trabalhar em prol da comunidade. Durante anos e anos comandou o Leilão de Gado Direito de Viver, para o Hospital de Câncer de Barretos. Também esteve todos esses anos pelejando pela Apae, como Diretora da Instituição. Puxando os Leilões também. E pela Amai, participando dos eventos promocionais. Os mirandopolenses reconheceram seu valor e a elegeram Prefeita para o próximo mandato. Merecidamente.
Outra amiga admirável é a Alice.
Tendo perdido o esposo, que lhe deixou uma empresa em precárias condições, somou as forças com os filhos e partiu para a luta. Não deve ter sido nada fácil, mas era preciso dar um sentido à vida dos filhos. E vem pelejando com o Jornal Diário de Fato, que publica minhas crônicas... Hoje em dia, na Era da Informática sobreviver com publicações em papel não é nada fácil. Mesmo assim, estão empenhados, muito empenhados em divulgar as notícias e os eventos da cidade e da região. Além disso, ela participa de eventos em benefício da comunidade, através de um Clube de serviços local.
Às vezes, você não conhece as qualidades das pessoas no dia a dia. Mas, quando as adversidades surgem ou uma crise ameaça uma Instituição, de repente alguém com força de liderança surge do nada e toma o comando. Tenho visto isso acontecer ao longo dos anos. 
E ninguém melhor que um professor aposentado ou uma professora aposentada para assumir esse papel. É que durante toda a sua carreira, em contato diário com os alunos e ocasionalmente com os pais, aprendeu muito sobre a natureza humana. Aprendeu que as pessoas são diferentes, e cada indivíduo tem reações diversas diante das dificuldades da vida. E o líder nato é exatamente alguém que já aprendeu muito nas estradas da vida, pois ele é capaz de se colocar no lugar do outro e sentir empatia. Professor aposentado enclausurado é um grande desperdício.
E assim, posso registrar com orgulho de uma simples professora que, nem todos os professores daqui estão vivendo enclausurados em suas frustrações. Mesmo aposentados estão servindo a sociedade, para que esta funcione regularmente. E o melhor e mais belo é que quase sempre é serviço de doação, de voluntariado, sem remuneração.
Esses professores citados acima estão fazendo a diferença em nossa comunidade, garantindo que muitos doentes tenham o tratamento adequado em Barretos; que os internos do Asilo tenham um atendimento mais digno; que a Apae continue cuidando de nossos jovens que precisam de cuidados de especialistas; que a Casa da Criança continue servindo às mães trabalhadoras. A motivação para essas pessoas é apenas o amor ao próximo.
 É verdade que não só os professores, como também outros profissionais de diversas áreas formam o heroico e imenso grupo de voluntários, que têm o mérito de levar avante essa bandeira. Estou apenas destacando os professores para saudá-los pelo Dia do Professor. Mas a todos os demais, o meu maior respeito.
Viver por viver não tem sentido. Se você olhar ao redor, perceberá que há tanta gente pelejando pra viver, que precisa de um empurrão, de uma pequena ajuda. Então, por que não deixar a sua vidinha vazia de burguês frustrado, e tornar melhor a vida do próximo? Você pode, tem condições e poderá viver melhor, proporcionando um pouco de alegria e conforto a alguém.
Quero prestar uma homenagem especial a Alice Barravieira Gonçales, que saiu do anonimato de professora aposentada e, tornou-se uma mulher empresária, vencedora no campo da comunicação. Acredito que o Elói deva estar feliz e orgulhoso pela continuidade de sua paixão: o Jornalismo.
Na campanha eleitoral gritaram tanto que Mirandópolis iria melhorar se votássemos em tal candidato... Mensagem totalmente vazia para pegar os tolos. Só melhorará com ações de gente que ame a nossa cidade, que cuide de nossas crianças, que se empenhe em cuidar dos doentes e dos idosos.
 Então, presto minhas saudações a todos os professores da cidade, homenageando os professores aqui citados.
Que outros professores saiam de seus casulos e vivam intensamente servindo ao próximo, para tornar mais humana a nossa sociedade. Que surjam outros Zé Augusto, Jorge Chain, Zé Maria de Carvalho, Encarnação Guerra Batista, Regina Rosado, Zezé Junqueira, Carmen Lúcia, Vilma Mardegan, Maria José Ermini, Regina Mustafa e Alice Barravieira.
Viver por viver não tem sentido.
Dê um sentido à sua vida, participando de serviços de doação.
É útil e faz bem à alma.

Mirandópolis, outubro de 2016.
kimie oku in




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