sexta-feira, 21 de outubro de 2016

                               Fazer o bem
               
Ontem ao sair do Conservatório Art Musical de Gustavo Ordine, uma senhora de 83 anos me pediu para levá-la até perto do Mercado do Nilton, para buscar o leite que recebe do Governo.
Mal e mal ela conseguia andar, por problemas nas pernas fracas e doloridas. Pois bem, ela desceu do carro e agradeceu dizendo que eu poderia seguir meu caminho... Mas, ao vê-la capengando daquele jeito, esperei e a conduzi até sua casa. E no trajeto, conversando sobre a sua família, descobri que conheço uma das filhas... Mas, ela nem me ouvia direito, foi me abençoando o tempo todo.
Achei que ganhara o dia!
Logo depois, levei um tombo na calçada, só porque me distraí olhando as flores de um jacarandá mimoso.
E o tombo foi feio, caí de quatro, pensei que ia desmaiar de dor. Ralei um joelho e torci um tornozelo, que mal dava para firmar o pé no chão. Mesmo assim, fui até o carro e consegui chegar em casa sã e salva. Passei a tarde toda com dor e mal e mal conseguia andar...  Os meus amigos do face me consolaram como puderam, e foi bom ver as mensagens de carinho.
E hoje fiquei matutando. Depois que conduzi a senhora, levei um tombo. Seria um castigo? Mas, ela me agradeceu mil vezes e me abençoou. E sei que foi de coração. Então, não foi punição! Ela na sua humildade, me abençoou pra que nada de mal acontecesse comigo. E por que o tombo? Pensei então que, poderia ter quebrado o tornozelo porque caí com o pé virado para dentro. E me apoiei no tornozelo, mas este não se quebrou, só torceu feio e ficou muito inchado como uma bola... E doeu demais. Então, cheguei à conclusão que as preces daquela senhora evitaram o pior. Me protegeram de um mal maior.
Sem as orações, o pior poderia ter acontecido.
E hoje estou andando quase normalmente.
Obrigada, dona Zilda! Obrigada, Deus!
E com essas reflexões, me lembrei de um texto japonês que li em algum lugar. O texto dizia que, muita gente faz o bem na esperança de ser compensado algum dia...
Fazer o bem para ter retorno tira o mérito da ação.
A gente deve fazer o que é preciso pelo próximo, para facilitar a sua vida e minimizar seu sofrimento. Daí, não se deve esperar que Deus nos compense por isso. A ordem natural é estender a mão a quem precisa de um amparo. Isso faz parte da natureza humana.
Esperar que Deus nos compense por ações feitas é o mesmo que ser Mercador...  “Deus, eu faço isso, mas o Senhor me dará aquilo?”
Inconcebível, né? Como é possível ficar negociando com Deus?
E Deus tudo vê, até o mais profundos sentimentos de nossa alma.
         Então, não adianta pensar em retornos e trocas. A gente faz por vontade própria, e deve se esquecer disso. Deixar na conta das boas ações, que todo ser humano deve praticar enquanto for abençoado com vida.
Numa novela coreana, aprendi que as boas ações recebidas devem ser sempre lembradas, assim como do benfeitor. Mas, o que a gente faz de bom para alguém deve ser esquecido no ato, para não perder o mérito de tê-lo feito.
Costuma-se dizer que “Aqui se faz, aqui se paga!” Não existe maldição maior que isso. E geralmente acontece. Sei de famílias inteiras que foram destruídas, por causa de maldades praticadas anteriormente pela própria matriarca...  Mães e pais que criticaram filhos gays alheios, acabaram tendo um membro com essa tendência na própria família... Infelizmente, às vezes acontece essa lei do retorno, do feedback implacável... E só assim para aprender que, ninguém está livre de nada nesse mundo....
Mas, voltando às boas ações que praticamos, vamos aprender uma coisa: Todos nós fomos abençoados com o dom precioso da vida. E quem a concedeu foi Deus. E a vida é muito difícil de ser vivida. Alguns de nós tem coragem e fortaleza para enfrentar todos os embates. Outros são mais fracos e, entregam os pontos diante das tragédias que ocorrem. Então, cabe aos mais fortes emprestar a esses mais fracos essa fortaleza, essa coragem para que todos cumpramos a nossa missão aqui na terra. Porque um dia, ela irá terminar. Até a natureza nos ensina isso. Plantas sensíveis e frágeis que se apoiam em outras mais robustas e vivem em harmonia. Animais que se auto- ajudam nas dificuldades de cada dia...
E por que nós humanos, não podemos fazer o mesmo?
Então fazer o bem sem olhar a quem é o máximo do ensinamento.
Um dia, tudo irá terminar... E deixaremos esse mundo com pesar. Apesar de ser difícil demais viver, todos querem mais um tiquinho de vida. Porque viver é o máximo da ventura, da experiência...
E só temos uma chance de marcar a nossa passagem por este planeta. Que tal marcar com uma boa ação, que se perpetue para sempre?  Para mim, depois de Jesus Cristo, só Madre Teresa de Calcutá conseguiu marcar sua passagem... Temos muito que aprender com ela... Sua assistência aos desamparados, aos abandonados, sua dedicação aos aidéticos terminais, seu amor profundo à humanidade  fez com que a Igreja a reconhecesse Santa.
Há uma passagem em que, Madre Teresa cuidava de um pobre todo cheio de feridas purulentas, na calçada de uma rua em Calcutá na Índia.  Um cidadão que passava, viu a cena e lhe disse: “Não faria isso por dinheiro nenhum desse mundo!” e ela respondeu: “Nem eu!” Porque o que a movia não era o dinheiro, era só amor, amor...
Não é preciso ser uma Madre Teresa... Basta ter compaixão do próximo e, tornar mais humana a nossa relação diária com as pessoas que cruzamos nas ruas. Não importa se a conhecemos, se é branca, preta, velha, capenga, feliz, confusa... Ajudá-la a atravessar a rua, a descer a rampa, a recolher o que ela deixou cair, dar passagem na calçada, abrir-lhe as portas, dar-lhe uma carona...      
 Como isso é gratificante!
São pequenos atos que poderão salvar o nosso dia, e minimizar o sofrimento alheio. E tenho certeza que toda a cidade se tornará mais gentil, mais humana.
Fazer o bem sem olhar a quem.

Mirandópolis, outubro de 2016.
kimie oku in


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