Gente de fibra -
Waldir José Frigeri
Waldir José Frigeri
é um homem simples, que nasceu em Promissão em 1937. Aos 3 anos de idade veio
de mudança com a família para o Bairro Barreirão em Lavínia, onde morou até
1945, no sítio dos avós.
Por conta do
trabalho na lavoura, sua família morou no Bairro Vila Nova, no Bairro km 50, em
Mirandópolis, no sítio dos Wada em Guaraçaí, até que em 49 vieram para
Mirandópolis.
Por essa razão,
Waldir estudou nas escolinhas rurais e concluiu o Curso Primário no Grupo
Escolar de Mirandópolis.
Quando menino, foi
engraxate na Engraxataria do Décio Quírico. Como fora educado no hábito de
freqüentar a Igreja Católica, certa noite foi às celebrações de Maria, que
ocorria no mês de maio de todo ano. Nessa noite, algo estava reservado para
ele, que determinaria o seu destino.
Dona Rosa de Lucchi,
irmã de dona Antiniska de Lucchi Mustafa, que estava na Igreja, dirigiu-se ao
grupo de meninos e perguntou se havia alguém interessado em trabalhar num
Escritório. Mais que depressa, o Waldir levantou o braço e ali mesmo foi contratado.
Isso foi em 1951, e o Waldir tinha apenas 13 anos de idade.
O menino foi
contratado para trabalhar na Comercial Antonio Perez e Cia., cuja matriz era em
São Paulo. Antonio Perez era irmão da mãe de Rosa e Antiniska de Lucchi.
A Empresa comprava
café e amendoim, que beneficiava, descascando os grãos e revendendo para o
mercado consumidor em São Paulo, ou despachando para o estrangeiro, através do
Porto de Santos.
Naquela época, o
Gerente da Comercial Perez em Mirandópolis era o senhor Dionino de Lucchi,
irmão de dona Rosa.
O jovem tinha que
fazer faxina do escritório, dos banheiros, ir ao Correio, e efetuava outras
pequenas prestações de serviço.
O escritório estava
instalado nas proximidades dos barracões da Empresa Perez, na Rafael Pereira,
onde hoje mora o Waldir e sua esposa Reny.
A Máquina Perez
iniciou suas atividades entre 1937/38, logo ali onde hoje está instalado o
Supermercado do Nilton, na Rafael Pereira. À época, o local era uma chácara dos
de Lucchi, cercada de mata. Em frente, onde está a residência dos Kanzawa, era
a Serraria de Belmiro Jesus, que era o proprietário das terras, onde atualmente
é o Bairro Sampaio. Logo ali, beirando a linha de trem, havia um conjunto de
casas residenciais dos empregados da Serraria. Eram todas de tábuas sobrepostas
horizontalmente, e o bairro tinha o aspecto de cidade do faroeste americano.
Ainda hoje, subsistem algumas casas daqueles tempos, numa rua apertada e meio
escondida. E logo à frente da Máquina
dos Perez começava o loteamento do senhor Manoel Alves de Ataíde.
Tudo em volta era
rústico, ruas de terra, sem nenhum conforto, sem serviço de abastecimento de
água e de esgoto e nem eletricidade. A cidade estava ainda cercada de mata
virgem.
Quando chegava a
época da safra, caminhões e carroças chegavam trazendo sacas de café e de
amendoim, e todos trabalhavam dia e noite, beneficiando os grãos. Havia cerca
de trinta funcionários e umas cinqüenta moças contratadas para selecionar o
café beneficiado, eliminando as pedras e os grãos defeituosos.
Os caminhões
carregados de café vinham das fazendas de Guaraçaí, Lavínia, Valparaíso e de
Mirandópolis. Formavam-se filas para descarregar a produção. Os pequenos
produtores traziam-na em carroças, que predominavam como meio de transporte
naqueles tempos.
Naquela época, havia
também as Máquinas de beneficiar do Wada, do Lourencinho e mais tarde a
Cooperativa que comprou a Máquina do Sr. Wada. Era a época de ouro do café, que
sustentava a economia do país. Como não havia eletricidade, para beneficiar os
grãos as máquinas eram movidas a vapor. Então, queimava-se muita lenha, que
havia com fartura ainda.
A Máquina dos Perez
teve o privilégio de ser atendida diretamente pela Ferrovia, para carregar as
sacas de café e amendoim que despachava. É que diante dos barracões, havia um
desvio de linha dos trens o viradouro, para as manobras das locomotivas. Esse
desvio de trilhos vinha da linha, passava ao lado da Serraria de Belmiro Jesus,
atravessava a atual Rafael Pereira e terminava na Nove de Julho, com uma
barreira.
Justamente ali onde
passava o desvio foram construídos os barracões dos Perez, o que facilitou o
trabalho de carregar e descarregar as sacarias. A Serraria também aproveitou o
desvio e construiu trilhos diante de seus depósitos de madeira, para facilitar
o embarque da madeira. No auge da colheita, sempre havia um ou mais vagões
estacionados no desvio, sendo abastecidos com as sacas de café que seguiriam
para São Paulo e Santos.
Waldir entrou para a
Empresa e aprendeu tudo lá. Dona Rosa foi para ele uma segunda mãe,
ensinando-lhe principalmente respeito e educação. Fez carreira na firma,
começando do primeiro degrau e terminando como Gerente, quando se aposentou.
Dos companheiros de
trabalho, lembra com saudades de Sebastião Scorissa, que entrou na Empresa em
1946. Foi um verdadeiro irmão, companheiro e amigo; também conviveu com
Hermenegildo Canhada, que era ajudante de Sebastião Scorissa; de Éder Bottura,
que só ficou 2 anos lá, mas a quem tem uma gratidão até hoje. É que o Sr.
Bottura o pegou ainda jovem, fumando bituca de cigarro e lhe passou “um sabão”.
Waldir ficou tão envergonhado que nunca mais fumou.

Em 1960, casou-se
com a jovem Reny Justino, que era telefonista há mais ou menos 5 anos na
Companhia Telefônica de Rio Preto, cujo Centro de Atendimento estava instalado
diante da Praça Manoel Alves de Ataíde, onde hoje existe a loja Aluxe. A Chefe
ou Encarregada, quando a Reny foi admitida era a Sra. Maria Aparecida, esposa
do seu Leonel Mathias, substituída pela Sra. Dirce Godinho e mais tarde, pela
própria Reny, que deixou a Empresa ao se casar, deixando em seu cargo a Sra.
Maria Moreira. Reny se lembra que as ligações interurbanas eram difíceis de
completar e demorava muito para se estabelecer contatos.
Mas, mesmo assim, eram
muito procuradas, porque as pessoas não possuíam carros e viagens para fora
eram mais demoradas e caras. Ligações para São Paulo às vezes demoravam de três
a quatro dias para serem completadas. A Telefonia estava engatinhando e
Mirandópolis foi uma das cidades pioneiras para ter esse serviço.
Reny não conseguiu
estudar além do Curso Primário, porque o trabalho era prioritário para ajudar a
mãe a cuidar dos irmãos.
Lembra com saudades
desses tempos duros, em que se alisavam as roupas com ferro de brasa. Era muito
pobre e trabalhava para ajudar no orçamento da família. Ao voltar para casa,
passava a roupa para receber o namorado; e muitas vezes, o carvão do ferro
sujava a roupa, e ela chorava. Certo dia, a mãe lhe disse que havia um presente
para ela. Sobre a sua cama havia um ferro elétrico! Lembra até hoje, da emoção
de ganhar o primeiro ferro elétrico. Nunca mais queimaria suas roupas! Hoje se
alguém der um presente desses, nenhuma jovem ficaria feliz como ela ficou.
O Waldir retomou os
estudos com trinta e cinco anos de idade, e através do Curso de Madureza que
permitia recuperar o estudo regular do ginásio, conseguiu fazer o Curso de
Contabilidade com muito sacrifício, na Escola 14 de agosto, de Pedro Paulo Guiselini.
Os dois se lembram
que, à época de casados novos, a vida era tão dura que, para terminar a casa
que construíram, todos os dias iam recolher os ladrilhos que eram jogados na
rua, pelos pedreiros que estavam reformando o CAM (Clube Atlético de
Mirandópolis). Os ladrilhos “catados” foram usados para fazer o piso da cozinha
da primeira casinha, que ficava na Rua Bahia, onde hoje moram o Professor José
Otávio Zanin e sua esposa.
O casamento os
abençoou com três filhos: duas moças e um rapaz. A vida foi difícil para ambos,
porque desejavam dar os estudos necessários para eles. E com muito sacrifício
conseguiram formar os três: a primogênita em Ciências Contábeis, o rapaz em
Direito e a caçula é Professora.
E o propósito do
casal não terminava aí, queriam dar uma casa e um carro para cada filho. E
conseguiram. Dizem que não foi fácil. A Reny sempre cuidando da família sem a
ajuda de ninguém, porque era necessário economizar. Mas, estão felizes por
terem realizado seus sonhos. Os anos foram passando, os dois pelejando sem
esmorecer, sempre muito bem apoiados pela dona Rosa, a quem veneram até hoje.
Quando Waldir entrou
na Empresa, o senhor Dionino de Lucchi era o Gerente. Depois foi o senhor
Alcides Rabello, depois dona Rosa e por fim foi o Waldir, que se dedicou à
Comercial Perez trinta e nove anos de sua vida, sem tirar férias. Era tão
dedicado que nunca pensou em parar para descansar, e nunca cobrou horas
extraordinárias pelos serviços prestados. Foi Gerente a partir de 1966 e só
parou em 1990 quando se aposentou.
Por tantos anos de serviço e dedicação à firma, Waldir foi
recompensado. Ao se aposentar, ganhou do
senhor Francisco Godinho sobrinho dos Perez sobrinho dos Perez, a casa onde moravam os De Lucchi. É a mesma casa onde mora até hoje. É verdade que a casa foi reformada,e a esquina onde hoje há uma loja foi adquirida pelo Waldir e família.
A história de Waldir
e da Reny se confunde com a história da Máquina Perez. Esta marcou uma época do
ciclo do café no Brasil e na região, onde os lavradores só se dedicaram à sua
cultura.
E as histórias de
Waldir e da Reny também se confundem, porque ambos ficaram sem o chefe de
família quando eram crianças, e suas mães se casaram de novo tendo, pois os
dois, outros irmãos do segundo casamento. Ambos foram muito bem cuidados pelos
padrastos, que zelaram deles como verdadeiros e legítimos pais. E são muito
gratos por isso.
Além do mais, o
Waldir fala com orgulho das três mulheres que construíram sua vida e sua
felicidade. São: a sua genitora dona Ana Maria, a mãe orientadora que Deus
colocou no seu caminho, dona Rosa de Lucchi e a companheira, amiga e amada
esposa dona Reny, com quem divide as horas numa paz de Deus, sem nenhuma
ambição.
Waldir José Frigeri,
homem simples que dedicou uma vida inteira com coragem, dedicação e trabalho a
uma firma e construiu sua vida é GENTE
DE FIBRA!
legenda das fotos:
1- Waldir José e Reny
2 - Cafeeiro
3- Prédio da Comercial Antonio Perez e Cia.
4 - Caminhão de
café de Murutinga do Sul, com o Waldir, o seu Sebastião Scorissa, Idélio, Jacob
e seu cunhado
5 - Trem da
N.O.B.
6 - Serraria de
Belmiro Jesus
7 - Casa onde
funcionava o Escritório da Máquina Perez, hoje remodelada e residência do
Waldir.
Mirandópolis,
setembro de 2012.
kimie oku in
cronicasdekimie.blogspot.com