Tudo passa... até a
gente...
Passei uns dias sorumbática por
conta do jornal da cidade que deixou de circular... Mas, já estou curada e
pronta para novas inspirações. Pois não adianta chorar o leite derramado. Quem
perde é a sociedade que vai ficar mais ignara...
A morte do jornal me despertou para
outras mortes, que as pessoas não se dão conta.
Com o advento da civilização
comandada pelo homem faber, o mundo sofreu transformações radicais. A partir do
primeiro objeto que ele construiu, que se supõe uma vasilha de barro, o homem
passou a buscar perfeição. E diante do objeto criado foi acrescentando adereços
e suportes que chegaram a transformar uma simples bacia de barro rústico em
ânforas maravilhosas.
Para isso ocorrer transcorreram
séculos e séculos. E as primeiras peças criadas foram deixadas de lado por
serem grosseiras e sem graça. E o mesmo aconteceu com o vestuário, com os
calçados, com as habitações, com as armas, com as embarcações...
E aí vem a questão: Você já reparou
que muitas coisas que usava antigamente tornaram-se obsoletas, e deixaram de
existir? Pense comigo, o conta gotas que era um tubinho de vidro com uma cabeça
de borracha que ao ser apertada sugava o remédio do vidro. Você possui ainda
algum conta gotas em casa?
A rolha de garrafas de vinho, que
exigia o uso do saca rolhas para se ter acesso à bebida. Hoje, nem os vinhos do
Porto não usam mais as rolhas para vedar as garrafas e o saca rolhas perdeu a
utilidade... Assim como os abridores de alimentos enlatados...
As garrafas de vidro de cerveja,
refrigerantes e aguardentes, que davam um trabalho imenso para transportar,
foram substituídas pelas embalagens plásticas e de alumínio...
As lamparinas que eram umas latas
com querosene que queimava no pavio, e os lampiões tão iluminadores foram
substituídos definitivamente pelas lâmpadas elétricas...
As alpargatas de lona tão utilizadas
pelos colhedores de café sumiram também. E os tênis brancos pé de anjo... E os
zíperes, os colchetes de pressão, os ganchinhos usados para fechar peças de
vestuário... Até as máquinas de costura hoje são peças raras.
Os moinhos de carne, de café, as
torradeiras manuais foram todos substituídos e hoje muita gente nem se lembra
deles. Mas foram muito úteis no seu tempo.
Os discos de vinil em long play, que
custavam uma fortuna foram deixados de lado com o advento dos compact disc...
Mesmo os aparelhos de som, as famosas sonatas, que possuíam som estéreo, tudo
virou sucata... As canecas de lata de óleo... as vassouras de piaçaba...
Os fornos de barro, os fogões a
lenha... Nem nas fazendas se vêm mais...
As seringas de vidro, que vinham
numa caixinha de metal para serem fervidas e esterilizadas com as diversas
agulhas, hoje são peças de museu. Cada picada hoje exige um seringa de
plástico, descartável... E as doenças se multiplicaram mil vezes!
Antigamente, nas escolas se usava
cadernos de caligrafia, que era o terror da molecada. Todos tinham que escrever de acordo com um
padrão pré-estabelecido... Era difícil, mais ainda para as crianças que
trabalhavam na roça e tinham mãos pesadas e calejadas. Toda semana havia uma
aula de caligrafia, que mesmo sendo difícil nem chega perto dos ideogramas
japoneses... Os mata borrões... que
chupavam a tinta derramada em excesso... Os vidros de tinta em que se molhava a
pena fina para escrever. Quando inventaram as canetas com bojo cheio de tinta
foi uma revolução... Canetas Parker... Tudo
isso antes das canetas hidrográficas... E falando em escola, todos os alunos
tinham marmitas de alumínio, onde levavam o arroz com um ovo frito para a hora
da merenda... Essas marmitas sumiram definitivamente.
E as réguas de madeira para fazer a
margem dos cadernos de desenho? Quando vi pela primeira vez uma régua de vidro
transparente, tive imensa gana de surrupiá-la... Cheguei a pegar nas mãos,
acariciando e tive uma vontade imensa de colocá-la na minha bolsa... Aí, me
lembrei de meu pai, que era duro e rigoroso nessas coisas. Não admitia roubos
nem por brincadeira. Sabia que teria que explicar tudo a ele... E, com muita
pena, deixei a bela régua no aparador da casa de uns vizinhos. Nunca confessei
isso aos meus pais, mas a educação recebida me freou de um ato ilegal. Para
sempre. Obrigada, meu pai!
As carroças, as charretes, os carros
de bois... Fazem parte de um cenário longínquo e saudoso que ficou em algum
cantinho da memória... E até as bicicletas estão desaparecendo...
E mais recentemente, descartamos os
vídeo cassetes com as fitas que eram rebobinadas. (Nossa! Quanta coisa boa
assisti através deles!). E os aparelhos de rádio, e as câmeras fotográficas e
as filmadoras... Quanta coisa foi deixada de lado com o avanço dos celulares,
que hoje falam, mandam imagens e mensagens escritas e de viva voz, fotografam e
até filmam, com som e tudo!
No ritmo em que o mundo vai
caminhando, as mudanças que virão com certeza abolirão em breve os livros, os
jornais, as escolas e até os rádios e canais de televisão...
É inimaginável como será o mundo, a
civilização daqui a cem anos. Com certeza, será um lugar limpo, sem animais,
sem borboletas, sem pássaros, sem flores, sem mel, sem risos, sem alegria... A
tecnologia será a dona de tudo. Prédios imensos, maravilhosos,
confortabilíssimos... mas sem ninguém. Desolador...
No ritmo em que vamos indo, o homem
também acabará passando. Por isso, no momento viver é preciso.
Com saudades de tanta coisa boa que
vivenciamos.
Mirandópolis, agosto de 2017.
kimie oku in
Todas as suas crônicas não muito boas, essa é ótima...supimpa...rsss...supimpa não se usa mais..Bebo da sua fonte.
ResponderExcluirMas nós usamos. Supimpa pra nós, Marinho!
ExcluirTudo passa nesta vida. Só Deus é Eterno.... amém. Abraços amiga kimie.
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