quinta-feira, 10 de agosto de 2017

  Tudo passa... até a gente...
Passei uns dias sorumbática por conta do jornal da cidade que deixou de circular... Mas, já estou curada e pronta para novas inspirações. Pois não adianta chorar o leite derramado. Quem perde é a sociedade que vai ficar mais ignara...
A morte do jornal me despertou para outras mortes, que as pessoas não se dão conta.
Com o advento da civilização comandada pelo homem faber, o mundo sofreu transformações radicais. A partir do primeiro objeto que ele construiu, que se supõe uma vasilha de barro, o homem passou a buscar perfeição. E diante do objeto criado foi acrescentando adereços e suportes que chegaram a transformar uma simples bacia de barro rústico em ânforas maravilhosas.
Para isso ocorrer transcorreram séculos e séculos. E as primeiras peças criadas foram deixadas de lado por serem grosseiras e sem graça. E o mesmo aconteceu com o vestuário, com os calçados, com as habitações, com as armas, com as embarcações...
E aí vem a questão: Você já reparou que muitas coisas que usava antigamente tornaram-se obsoletas, e deixaram de existir? Pense comigo, o conta gotas que era um tubinho de vidro com uma cabeça de borracha que ao ser apertada sugava o remédio do vidro. Você possui ainda algum conta gotas em casa?
A rolha de garrafas de vinho, que exigia o uso do saca rolhas para se ter acesso à bebida. Hoje, nem os vinhos do Porto não usam mais as rolhas para vedar as garrafas e o saca rolhas perdeu a utilidade... Assim como os abridores de alimentos enlatados...
As garrafas de vidro de cerveja, refrigerantes e aguardentes, que davam um trabalho imenso para transportar, foram substituídas pelas embalagens plásticas e de alumínio...
As lamparinas que eram umas latas com querosene que queimava no pavio, e os lampiões tão iluminadores foram substituídos definitivamente pelas lâmpadas elétricas...
As alpargatas de lona tão utilizadas pelos colhedores de café sumiram também. E os tênis brancos pé de anjo... E os zíperes, os colchetes de pressão, os ganchinhos usados para fechar peças de vestuário... Até as máquinas de costura hoje são peças raras.
Os moinhos de carne, de café, as torradeiras manuais foram todos substituídos e hoje muita gente nem se lembra deles. Mas foram muito úteis no seu tempo.
Os discos de vinil em long play, que custavam uma fortuna foram deixados de lado com o advento dos compact disc... Mesmo os aparelhos de som, as famosas sonatas, que possuíam som estéreo, tudo virou sucata... As canecas de lata de óleo... as vassouras de piaçaba...
Os fornos de barro, os fogões a lenha... Nem nas fazendas se vêm mais...
As seringas de vidro, que vinham numa caixinha de metal para serem fervidas e esterilizadas com as diversas agulhas, hoje são peças de museu. Cada picada hoje exige um seringa de plástico, descartável... E as doenças se multiplicaram mil vezes!
Antigamente, nas escolas se usava cadernos de caligrafia, que era o terror da molecada.  Todos tinham que escrever de acordo com um padrão pré-estabelecido... Era difícil, mais ainda para as crianças que trabalhavam na roça e tinham mãos pesadas e calejadas. Toda semana havia uma aula de caligrafia, que mesmo sendo difícil nem chega perto dos ideogramas japoneses...  Os mata borrões... que chupavam a tinta derramada em excesso... Os vidros de tinta em que se molhava a pena fina para escrever. Quando inventaram as canetas com bojo cheio de tinta foi uma revolução... Canetas Parker...  Tudo isso antes das canetas hidrográficas... E falando em escola, todos os alunos tinham marmitas de alumínio, onde levavam o arroz com um ovo frito para a hora da merenda... Essas marmitas sumiram definitivamente.
E as réguas de madeira para fazer a margem dos cadernos de desenho? Quando vi pela primeira vez uma régua de vidro transparente, tive imensa gana de surrupiá-la... Cheguei a pegar nas mãos, acariciando e tive uma vontade imensa de colocá-la na minha bolsa... Aí, me lembrei de meu pai, que era duro e rigoroso nessas coisas. Não admitia roubos nem por brincadeira. Sabia que teria que explicar tudo a ele... E, com muita pena, deixei a bela régua no aparador da casa de uns vizinhos. Nunca confessei isso aos meus pais, mas a educação recebida me freou de um ato ilegal. Para sempre. Obrigada, meu pai!
As carroças, as charretes, os carros de bois... Fazem parte de um cenário longínquo e saudoso que ficou em algum cantinho da memória... E até as bicicletas estão desaparecendo...
E mais recentemente, descartamos os vídeo cassetes com as fitas que eram rebobinadas. (Nossa! Quanta coisa boa assisti através deles!). E os aparelhos de rádio, e as câmeras fotográficas e as filmadoras... Quanta coisa foi deixada de lado com o avanço dos celulares, que hoje falam, mandam imagens e mensagens escritas e de viva voz, fotografam e até filmam, com som e tudo!

No ritmo em que o mundo vai caminhando, as mudanças que virão com certeza abolirão em breve os livros, os jornais, as escolas e até os rádios e canais de televisão...
É inimaginável como será o mundo, a civilização daqui a cem anos. Com certeza, será um lugar limpo, sem animais, sem borboletas, sem pássaros, sem flores, sem mel, sem risos, sem alegria... A tecnologia será a dona de tudo. Prédios imensos, maravilhosos, confortabilíssimos... mas sem ninguém. Desolador...

No ritmo em que vamos indo, o homem também acabará passando. Por isso, no momento viver é preciso.
Com saudades de tanta coisa boa que vivenciamos.
Mirandópolis, agosto de 2017.
kimie oku in



3 comentários:

  1. Todas as suas crônicas não muito boas, essa é ótima...supimpa...rsss...supimpa não se usa mais..Bebo da sua fonte.

    ResponderExcluir
  2. Tudo passa nesta vida. Só Deus é Eterno.... amém. Abraços amiga kimie.

    ResponderExcluir