quarta-feira, 16 de agosto de 2017

         Chuva!
     Deus é perfeito em sua obra!
     Quando a gente fica desesperada por água, por chuva, eis que ela vem em pleno mês de agosto.
Mês de agosto que a gente costuma chamar de mês de cachorro louco, mês de desgosto, por causa da secura do ar, da poeira e do sol quente...
No calendário do Santo que comanda o Universo, tudo tem o seu tempo certo. Tempo de sol quente para amadurecer os frutos, tempo de seca para descansar o solo, tempo de frio para controlar o crescimento das árvores para não crescerem até o infinito... E tempo das benditas chuvas para irrigar o solo para não deixá-lo morrer... Nós suas criaturas, nunca paramos para pensar na perfeita sincronia da obra de Deus. Achamos natural que a Primavera venha florir os jardins, que o Verão quentíssimo venha sazonar os frutos, que o Outono seja um intervalo para a natureza recuperar o fôlego. E que o Inverno venha para renovar tudo... Tudo numa sequência sem falhas, numa lógica perfeita.
O que todos estão estranhando hoje são as chuvas de agosto, que neste ano vieram sem que ninguém contasse com elas. Porque as chuvas só eram esperadas para setembro/outubro... Mas elas vieram!  Até parece que o Senhor dos campos do Universo mudou sua agenda de repente. Aí entra a Suma Sapiência de Deus: era preciso irrigar a terra ressequida um pouquinho antes, para que não se perdessem as obras dos homens... Abaxizeiros, pastos secos, gado sedento, hortas desmilinguidas, árvores sem folhas estavam implorando água. E os bravos cultivadores disso tudo olhavam os céus à procura de nuvens, orando diariamente para que Deus se lembrasse de suas plantas...
E Deus não resistiu.
E mandou chuva em boa medida para todos se salvarem, para que a esperança renascesse nos corações. Bendita chuva! Em apenas um dia, a chuva purificou o ar, lavando a atmosfera e nos concedendo oxigênio puro com fartura!
E as gripes desaparecerão, as tosses se calarão, os pulmões se encherão de ar fresco e puro renovando o sangue de todos...
E as mudas que irriguei durante sessenta dias com sacrifício e não cresciam, de repente com a chuvarada parece que despertaram de seu sono letárgico, e estão exibindo folhas novas, verdes, verdes. Milagre da chuva, da natureza, que o homem não consegue nunca realizar. As pastagens estão ficando coloridas em todos os tons de verde, e os bezerros felizes correm de um lado para outro. Felicidade!
As árvores depois dessa ducha maravilhosa mostram folhas brilhantes, que estavam sufocadas nas camadas de poeira e fuligem. E balançam docemente suas ramas como se bendizessem a vida.
Sempre que vem uma chuva tão ansiada como essa, é inevitável lembrar de um senhorzinho que conheci quando dava aulas em escolinhas rurais. Como não chovia há sete longos meses, o homem sofria demais sustentando 13 famílias de colonos que o ajudariam a plantar algodão... Sete meses arando a terra ressequida pra lá, pra cá... E pausas para perscrutar o céu em busca de nuvens... E nada de chuva. E a terra solta fazendo redemoinhos que chegavam até os céus. E o homem fiando as compras para alimentar todo aquele povo. E a chuva que não vinha. As sementes prontas. As máquinas engraxadas. A vontade desperta para semear o algodão. A terra pronta para receber a água que deveria vir dos céus... Mas ela não vinha. E todo mundo triste, desanimado. Aí, o homem pegava uma garrafa de cachaça e dava um gole para todos os homens. Então, eles se animavam e diziam: Amanhã ela vem!
Dia 19 de outubro, onze horas da noite.
Acordei com um faiscar de relâmpagos que me assustaram. E um ribombar de trovões, que se emendavam uns nos outros, sem parar até os confins da Terra. Assustada com o barulho, pulei da cama, e fiquei ouvindo o barulho que parecia derrubar a pobre casa dos meus anfitriões. E então, ouvi o choro... tinha gente chorando na casa. Devagarinho, fui espiar. Era a família toda ajoelhada no chão de terra da pobre salinha, rezando e chorando. O homem dizia: Chora, mulher, chorem crianças! Deus se lembrou de nós! Ele não nos abandonou! A chuva veio! Vamos rezar! Vamos agradecer! Amanhã vamos plantar!
E ali ficaram por um bom tempo, enquanto os clarões dos relâmpagos registravam a cena, como se estivessem fotografando. Nunca mais esqueci isso. Foi a cena mais bela de gratidão a Deus que presenciei.
Quando a chuva amainou, o homem calçou umas botas, vestiu uma capa, pegou uma lanterna e foi ver suas terras. E disse para a mulher assustada: Vou ver a terra beber água, mulher!
E ele só voltou ao amanhecer.
E nesse dia, ninguém foi à escola.
Fiquei intrigada...
Aí, eu vi. Todos os alunos estavam na roça, atrás de seus pais que batiam umas máquinas manuais de semear. As máquinas punham as sementes de algodão nas covas, e os meninos iam atrás tapando os buracos com os pés. Parecia uma grande festa. Todo mundo falando ao mesmo tempo, rindo e brincando.
Depois, quando as férias chegaram, vim embora.
Soube mais tarde que a colheita foi muito boa.
Dá pra esquecer uma coisa dessas?

Mirandópolis, agosto de 2017.
kimie oku in


5 comentários:

  1. Respostas
    1. Foi maravilhoso conhecer esse homem. E sou grata a Deus pela visão inesquecível que Ele me proporcionou.

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  2. Bênção de DEUS a quem NELE acredita.

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    1. Eu tinha apenas dezoito anos e mudei completamente depois que vi essa cena... A fé de Tomo san solidificou meu caráter, Ulisses.

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  3. Diz o Renato Teixeira em sua canção Tocando em frente: É preciso a chuva para florir...

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