sábado, 16 de setembro de 2017

 A carência mobiliza
         
          Pela própria natureza, nós humanos somos ambiciosos.
         Ambiciosos no sentido de querer mais, de experimentar mais, de ter mais, de ser mais, de alcançar mais... Parece que isso não é muito bom... Mas, se não houvesse ambição, não haveria progresso, não haveria novas descobertas, não haveria evolução.
Como lema da Universidade de Hokkaido, Japão, há a famosa inscrição: “Boys, be ambitious!” que o Professor americano de Química, Botânica e Zoologia, William S. Clark deixou como legado para os jovens discípulos japoneses, que estudaram no Colégio Agrícola de Hokkaido, hoje Universidade. E isso foi em meados de 1876...
O Professor disse para seus alunos que fossem ambiciosos na procura do conhecimento, das descobertas que o mundo da Botânica e da Zoologia podem oferecer. E afirmou que não fossem ambiciosos por money, por bens materiais...
O Japão da Era Meiji era um país isolado, fechado para o mundo e seus governantes se achavam auto suficientes... Mas, um dia descobriram que em relação ao Ocidente estavam muito atrasados. E aí, começaram a importar os conhecimentos de outras partes do mundo para recuperar esse atraso. E foi aí que convidaram o Professor para dar aulas de Botânica e Zoologia em Hokkaido, onde impressionou com seus conhecimentos sobre Culturas Agrícolas e sobre Piscicultura.
Tal foi a importância de sua passagem por Hokkaido, que toda a Ilha do Norte do Japão erigiu dezenas de estátuas do Professor Clark, para que jamais fosse esquecido. E a famosa frase foi inscrita no frontispício da Universidade. E o seu slogan foi adotado por muita gente, que até produziram um animée “Boys, be ambitious/”  ou Jovens, sejam ambiciosos!
Naquela época há mais de duzentos anos, a humanidade era mais comedida, e não dava passos sem medir os riscos. Tudo era mais devagar, com extremo cuidado e o respeito era o ponto fundamental das relações humanas. Era o tempo em que se acreditava num fio de bigode, numa palavra dada, num aperto de mão para firmar grandes negócios. O homem dava o devido valor à sua honra, ao seu crédito.
Mas, duzentos e tantos anos se passaram e as mudanças ocorreram numa velocidade impressionante. E hoje, o avesso do homem foi desnudado sem pudor nenhum. Negociatas, trapaças, emboscadas passaram a ocorrer no dia a dia, como nova ordem dos tempos atuais. E muita gente percebeu que, havia uma camada da sociedade que gostava de levar vantagem em tudo. Tanto é que até uma marca de cigarros lançou descaradamente esse slogan “Gosto de levar vantagem em tudo!” E o atleta que protagonizou isso só foi perceber muitos anos depois, que isso não era correto. Mas, a Lei do Gerson pegou. E todo mundo queria levar vantagem. Furando filas, tomando lugares alheios, abocanhando mais que a quota permitida, se apossando de bens alheios...
E chegamos aos dias atuais, com uma geração de políticos cevados nessa Lei da vantagem. Quanto maior vantagem, mais esperto é você!  E deu no que deu. Com centenas de homens de colarinho branco corrompendo, tirando vantagens, sabotando, comprando regalias, se vendendo e sempre usando as verbas das Instituições Estatais. Quebrando a Petrobrás, o BNDS... Roubando a própria Pátria, no maior descaramento.
E vendo todas essas notícias cada dia mais escabrosas, eu me lembrei de um poeta japonês, que fez um pequenino poema.  Nele, ele diz que para sermos felizes, é preciso sempre faltar alguma coisa. Essa carência é que nos move para agir, pelejar, trabalhar, economizar a fim de conseguir o que nos falta. A carência é motivação para a luta, para a peleja diária. Se nada nos falta, pra quê trabalhar? Pra quê enfrentar o batente? Se nada nos falta, podemos deitar na cama e esperar a morte, porque não haverá nenhuma razão para sair combatendo.
Todos os seres vivos atuam no sentido de prover o lhes falta. Os animais procuram pastagens verdes, os gatos vão atrás de suas presas, as formigas procuram plantas para encher o formigueiro... E nós vamos atrás de roupas e conhecimentos além da comida.
E para se viver bem, basta ter o necessário: umas mudas de roupa para se trocar, uma comida que nos satisfaça, uma casa para nos abrigar... Entretanto, há uma classe de gente que possui demais, que vive insatisfeita porque não tem mais o que desejar. Sem nenhuma motivação para trabalhar. E quer mais e mais. E vivem procurando novas emoções, para preencher o vazio da vida. Porque homem sem trabalho, sem motivação é um perdido na vida.
Quando veicularam nos noticiários que o ex Governador Cabral recebia trezentos mil reais de propinas por mês, fiquei atordoada. Dez mil reais por dia? Meu Deus, onde usar tanto dinheiro? Onde guardá-lo? O que não se pode comprar com tanta grana?
Sinceramente, eu não saberia o que fazer com uma fortuna dessas todo mês... E esse outro político Geddel que guardava uma fortuna de milhões em um apartamento... Tanto o Cabral como o Geddel não possuíram esse dinheiro. O dinheiro os possuiu e os escravizou. Pobres e infelizes, jogaram toda a honra, a dignidade e o respeito que um homem deve possuir, para se tornarem escravos da vil moeda.
E vamos parar de pensar nesses corruptos que todos os dias nos envergonham. Pensemos: cidadãos felizes são os trabalhadores, que levantam de madrugada para dar conta de seu recado e possuem o mínimo necessário. Todos os dias têm motivação para enfrentar filas, dar conta de sua jornada, contar com o pagamento no fim do mês... E acima de tudo, têm sonhos para sonhar!
E reforcemos o foco do famoso slogan do Professor Clark:
“Jovens, sejam ambiciosos! “
Ambicionem saber mais, conhecer mais, entender mais o mundo e a humanidade para serem felizes. Porque ninguém leva vantagem em tudo impunemente.
Um dia, a casa cai!
Não caiu para Geddel Vieira Lima?
Mirandópolis, setembro de 2017.
kimie oku in


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