sexta-feira, 4 de maio de 2018


               Alegria num velório????
        
         Ultimamente tenho ido a tantos velórios que me pergunto sempre: Serei a próxima?
        Sei que é a lei natural da vida. O que nasce um dia, um dia morre. O que começou, um dia acaba. Começo, meio e fim. E o c’est fini é sempre misterioso e assustador, porque é desconhecido. Mesmo as pessoas mais inteligentes e ligadas às  coisas espirituais não deixam de sentir um frio na alma, diante da morte. Da morte de alguém, de um ente querido ou mesmo diante da perspectiva de sua própria...
        Aos setenta e seis anos de idade, percebo que já fui a tantos funerais e já era para ter intimidade com a morte, e aceitá-la como uma amiga, que um dia virá me recolher... Mas, ainda sinto um arrepio diante da possibilidade de cair morta de repente. E isso seria uma bênção. Cair morta de repente...
        Uma senhorinha querida e muito simples orava todos os dias para a Senhora Aparecida lhe conceder uma boa morte. Todos os dias ela me falava que já havia feito seu pedido para a Santa... Uma manhã, ela começou a sentir que não estava bem, e levaram-na ao Hospital. O mal estar começou às nove horas e ela faleceu às onze. Aos oitenta e três anos de idade... Dona Luísa...  A Senhora Aparecida poderosa lhe atendeu o pedido e fiquei muito impressionada. E hoje sou eu que peço a mesma coisa para a Santa. Se bem que nem sei se tenho tamanho merecimento.
        Mas, voltando aos velórios, constatei que em meio à dor da perda, do sentimento de abandono que toma conta de nós diante de um esquife com uma pessoa querida, também acontece uma coisa real e interessante. Em meio aos abraços de tantos amigos e familiares de repente, se descobre uma feição querida que há décadas não se via...  E mesmo nessa hora, a explosão de alegria de rever a pessoa querida acontece. É um grande consolo que veio de longe para oferecer o ombro amigo, para chorar... O coração fica confuso porque quer se alegrar diante da pessoa tão querida, mas a dor está presente e não vai embora assim facilmente.
        Experimentei esses sentimentos e fiquei pensando se é justo alegrar-se num velório?  Se a alegria que toma conta da gente magoaria a pessoa que estaria velando? Se alegrar-se num velório de pessoas queridas é uma coisa muito estranha?
        São fatos que acontecem todos os dias, mas o coração fica meio perdido na dor. E a alegria sempre fica contida, meio bloqueada... Mas é muito bom rever pessoas queridas, mesmo nessa hora de muita tristeza.
        Porque a vida é repleta de tristeza e alegria, de lágrimas e sorrisos. E não há como separar uns dos outros.
        Mirandópolis, maio de 2018.
        kimie oku in


       

       
       

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