Alegria num
velório????
Ultimamente tenho ido
a tantos velórios que me pergunto sempre: Serei a próxima?
Sei que é a lei
natural da vida. O que nasce um dia, um dia morre. O que começou, um dia acaba.
Começo, meio e fim. E o c’est fini é sempre misterioso e assustador, porque é
desconhecido. Mesmo as pessoas mais inteligentes e ligadas às coisas espirituais não deixam de sentir um
frio na alma, diante da morte. Da morte de alguém, de um ente querido ou mesmo
diante da perspectiva de sua própria...
Aos setenta e seis
anos de idade, percebo que já fui a tantos funerais e já era para ter
intimidade com a morte, e aceitá-la como uma amiga, que um dia virá me
recolher... Mas, ainda sinto um arrepio diante da possibilidade de cair morta
de repente. E isso seria uma bênção. Cair morta de repente...
Uma senhorinha querida
e muito simples orava todos os dias para a Senhora Aparecida lhe conceder uma
boa morte. Todos os dias ela me falava que já havia feito seu pedido para a Santa...
Uma manhã, ela começou a sentir que não estava bem, e levaram-na ao Hospital. O
mal estar começou às nove horas e ela faleceu às onze. Aos oitenta e três anos
de idade... Dona Luísa... A Senhora
Aparecida poderosa lhe atendeu o pedido e fiquei muito impressionada. E hoje sou
eu que peço a mesma coisa para a Santa. Se bem que nem sei se tenho tamanho
merecimento.
Mas, voltando aos
velórios, constatei que em meio à dor da perda, do sentimento de abandono que
toma conta de nós diante de um esquife com uma pessoa querida, também acontece
uma coisa real e interessante. Em meio aos abraços de tantos amigos e familiares
de repente, se descobre uma feição querida que há décadas não se via... E mesmo nessa hora, a explosão de alegria de
rever a pessoa querida acontece. É um grande consolo que veio de longe para
oferecer o ombro amigo, para chorar... O coração fica confuso porque quer se
alegrar diante da pessoa tão querida, mas a dor está presente e não vai embora
assim facilmente.
Experimentei esses
sentimentos e fiquei pensando se é justo alegrar-se num velório? Se a alegria que toma conta da gente magoaria
a pessoa que estaria velando? Se alegrar-se num velório de pessoas queridas é
uma coisa muito estranha?
São fatos que
acontecem todos os dias, mas o coração fica meio perdido na dor. E a alegria
sempre fica contida, meio bloqueada... Mas é muito bom rever pessoas queridas, mesmo
nessa hora de muita tristeza.
Porque a vida é
repleta de tristeza e alegria, de lágrimas e sorrisos. E não há como separar
uns dos outros.
Mirandópolis, maio de
2018.
kimie oku in
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