domingo, 10 de novembro de 2019


             O aniversário da Dimar

      Conheci a Dimar na Escola Ebe Aurora lá pelos anos oitenta. E trabalhamos muito para ajudar as crianças do Bairro, que era o mais pobre da cidade. Havia crianças demais, filhos de trabalhadores rurais, que pelejavam bastante para sustentar suas famílias... Vida dura de combate diário, para conseguir uma casa e alimentar a prole.
O Diretor era o saudoso Professor Aristides Florindo, que procurava proporcionar condições boas de trabalho, na medida do possível. O Estado não enxergava a Educação como prioridade, os recursos eram mínimos e tudo tinha que ser economizado. A Merenda era pobre, uma paçoca, um leite em pó cheio de bichinhos, que o Diretor mandou enterrar na horta atrás da Escola, mesmo a Primeira Dama dizendo para usá-lo após peneirar o leite! Eu me sinto mal quando me lembro disso, até agora... Seu Aristides pensava na saúde das crianças.
Em 1976 foram instaladas as séries finais do Primeiro Grau em todas as Escolas do Estado. Sem estrutura, sem verbas, a clientela dobrou com a chegada dos alunos de 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries. Só foram aumentadas salas de aula, mas as demais dependências continuaram sem alteração. Banheiros, cozinha, pátio, tudo era limitado. Mas sobrevivemos. A parte boa foi a chegada dos Professores especializados em Português, Matemática, História, Geografia, Ciências Físicas e Biológicas, Inglês, Educação Física... Professores de qualidade excepcional passaram a ser parte do corpo docente que primava pela qualidade, e a convivência foi de respeito e colaboração. Gabriel Carbello, Mary Áurea, Nelsia Fava, Santo Crevelaro Neto, Augusto Monma, Nelson Noda, Hamilton Rodrigues... Mais tarde, Dirce Tonello, Vilma Moura, Chiquito, Odete Fava...
A Dimar sempre se queixou da omissão do Governo em relação ao trabalho dos Professores. Sim, porque o trabalho era árduo e os salários minguados demais. Salas lotadas de molecada, que sempre passavam de trinta alunos, que não tinham material suficiente para estudar. A Caixa Escolar não dava conta de atender a todos e, os Professores tiravam de seu bolso para servi-los. Volta e meia, era preciso fazer campanhas para arrecadar recursos...
Nessa época, nós todos tínhamos nossos filhos para cuidar, uma família e a vida não era fácil. Sem celulares, salário minguado, sem auxiliares para cuidar dos pequenos em casa, a maioria sem carro... E assim, participamos das Greves por Melhores Salários, que só nos desgastaram até o fundo da alma, porque os aumentos eram apenas esmolas. E até hoje nada mudou! Hoje os Diretores dos Presídios, são tratados com residências especiais do Estado, comida farta e de qualidade, conforto que a maioria dos Professores não tem. Os professores estão relegados a segundo plano e ninguém se lembra que toda a sociedade precisa deles.
E nessa via sacra, a Dimar sobreviveu cuidando dos filhos e do esposo, sem nunca pensar em si mesma. E muito magoada pela indiferença dos Governantes, que nunca, nunca valorizaram o nosso trabalho. Mais tarde aposentada, perdeu a Dani, única filha que era a razão primeira do seu combate de todos os dias. E nunca mais se recuperou. E com a idade, vieram os achaques próprios de quem muito se esforçou e nunca se poupou. Hoje, com o corpo em frangalhos luta para sobreviver. Participou um tempo do Grupo Ciranda, que proporciona um pouco de alegria a pessoas muito solitárias...  Porém, as condições físicas...
Mas ontem, os filhos resolveram prestar uma homenagem a essa mulher valente, que nunca comemorou seu aniversário! Nunca! Oitenta anos! O Fábio seu filho convidou colegas de trabalho do tempo da Escola Ebe Aurora, familiares e amigos.
Foi uma festa comovente, e percebi que ela se emocionou muito. De repente, se sentir rodeada de tanto carinho de familiares e amigos deve ter sido um bálsamo, para sua alma ferida. Fiquei feliz de estar lá. E conseguimos reunir sete Professoras da Escola Ebe, momento único!
Nem tudo é decepção e tristeza.
Os governantes passam. Mas as famílias permanecem.
E as famílias têm o poder de curar tudo.
Que Deus abençoe a Dimar e sua família, com um tempo de boa paz e alegria.
Saúde, saúde, saúde Professora Dimar Martin Menegazzi!
Nós te amamos!
Mrandópolis, 10 de novembro de 2019.
kimie oku in



5 comentários:

  1. Nossa quanta saudade da escola Ebe Aurora, passei minha infância. Me de todos os professores, de cada funcionário com muito carinho. Um dia vc se sentou do meu lado e me pediu um pedaço do meu lanche ( uma fatia de pão com manteiga) dividi com vc com a maior felicidade, nesse dia me senti importante e tão radiante, no dia seguinte te levei um pão que minha mãe fez com o maior carinho. Hoje moro em Marília, sou casada, tenho dois filhos Yan (19) e Rafael (15), sou professora sim com muito orgulho,amo o que faço. Quando eu for pra Mirandópolis gostaria muito de visitar a escola Ebe Aurora, saudades da infância que vivi aí. Um grande abraço.

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    1. Renata, me escreva mais sobre você. sua mã e era a merendeira?

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  2. Oi minha mãe não era a merendeira, o nome dela é Felicia do meu pai José joaJ( conhecido na cidade por Mela apelido dele. Ele trabalhou qdo jovem na Minari, na casa Moreira e na Alcomira, minha mae era dona de casa. Tenho um tio muito conhecido em Mirandópolis o Julinho.

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