Conheci a Dimar na Escola Ebe Aurora lá pelos anos oitenta. E trabalhamos muito para ajudar as crianças do Bairro, que era o mais pobre da cidade. Havia crianças demais, filhos de trabalhadores rurais, que pelejavam bastante para sustentar suas famílias... Vida dura de combate diário, para conseguir uma casa e alimentar a prole.
O Diretor
era o saudoso Professor Aristides Florindo, que procurava proporcionar
condições boas de trabalho, na medida do possível. O Estado não enxergava a
Educação como prioridade, os recursos eram mínimos e tudo tinha que ser
economizado. A Merenda era pobre, uma paçoca, um leite em pó cheio de bichinhos,
que o Diretor mandou enterrar na horta atrás da Escola, mesmo a Primeira Dama
dizendo para usá-lo após peneirar o leite! Eu me sinto mal quando me lembro disso,
até agora... Seu Aristides pensava na saúde das crianças.
Em
1976 foram instaladas as séries finais do Primeiro Grau em todas as Escolas do
Estado. Sem estrutura, sem verbas, a clientela dobrou com a chegada dos alunos
de 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries. Só foram aumentadas salas de aula, mas as demais
dependências continuaram sem alteração. Banheiros, cozinha, pátio, tudo era
limitado. Mas sobrevivemos. A parte boa foi a chegada dos Professores
especializados em Português, Matemática, História, Geografia, Ciências Físicas
e Biológicas, Inglês, Educação Física... Professores de qualidade excepcional passaram
a ser parte do corpo docente que primava pela qualidade, e a convivência foi de
respeito e colaboração. Gabriel Carbello, Mary Áurea, Nelsia Fava, Santo
Crevelaro Neto, Augusto Monma, Nelson Noda, Hamilton Rodrigues... Mais tarde,
Dirce Tonello, Vilma Moura, Chiquito, Odete Fava...
A
Dimar sempre se queixou da omissão do Governo em relação ao trabalho dos Professores.
Sim, porque o trabalho era árduo e os salários minguados demais. Salas lotadas
de molecada, que sempre passavam de trinta alunos, que não tinham material
suficiente para estudar. A Caixa Escolar não dava conta de atender a todos e,
os Professores tiravam de seu bolso para servi-los. Volta e meia, era preciso
fazer campanhas para arrecadar recursos...
Nessa
época, nós todos tínhamos nossos filhos para cuidar, uma família e a vida não
era fácil. Sem celulares, salário minguado, sem auxiliares para cuidar dos
pequenos em casa, a maioria sem carro... E assim, participamos das Greves por
Melhores Salários, que só nos desgastaram até o fundo da alma, porque os aumentos
eram apenas esmolas. E até hoje nada mudou! Hoje os Diretores dos Presídios,
são tratados com residências especiais do Estado, comida farta e de qualidade, conforto
que a maioria dos Professores não tem. Os professores estão relegados a segundo
plano e ninguém se lembra que toda a sociedade precisa deles.
E
nessa via sacra, a Dimar sobreviveu cuidando dos filhos e do esposo, sem nunca
pensar em si mesma. E muito magoada pela indiferença dos Governantes, que
nunca, nunca valorizaram o nosso trabalho. Mais tarde aposentada, perdeu a Dani,
única filha que era a razão primeira do seu combate de todos os dias. E nunca
mais se recuperou. E com a idade, vieram os achaques próprios de quem muito se
esforçou e nunca se poupou. Hoje, com o corpo em frangalhos luta para
sobreviver. Participou um tempo do Grupo Ciranda, que proporciona um pouco de
alegria a pessoas muito solitárias... Porém, as condições físicas...
Mas
ontem, os filhos resolveram prestar uma homenagem a essa mulher valente, que
nunca comemorou seu aniversário! Nunca! Oitenta anos! O Fábio seu filho convidou
colegas de trabalho do tempo da Escola Ebe Aurora, familiares e amigos.
Foi
uma festa comovente, e percebi que ela se emocionou muito. De repente, se
sentir rodeada de tanto carinho de familiares e amigos deve ter sido um bálsamo,
para sua alma ferida. Fiquei feliz de estar lá. E conseguimos reunir sete
Professoras da Escola Ebe, momento único!
Nem
tudo é decepção e tristeza.
Os
governantes passam. Mas as famílias permanecem.
E
as famílias têm o poder de curar tudo.
Que
Deus abençoe a Dimar e sua família, com um tempo de boa paz e alegria.
Saúde,
saúde, saúde Professora Dimar Martin Menegazzi!
Nós
te amamos!
Mrandópolis,
10 de novembro de 2019.
kimie oku in
Nossa quanta saudade da escola Ebe Aurora, passei minha infância. Me de todos os professores, de cada funcionário com muito carinho. Um dia vc se sentou do meu lado e me pediu um pedaço do meu lanche ( uma fatia de pão com manteiga) dividi com vc com a maior felicidade, nesse dia me senti importante e tão radiante, no dia seguinte te levei um pão que minha mãe fez com o maior carinho. Hoje moro em Marília, sou casada, tenho dois filhos Yan (19) e Rafael (15), sou professora sim com muito orgulho,amo o que faço. Quando eu for pra Mirandópolis gostaria muito de visitar a escola Ebe Aurora, saudades da infância que vivi aí. Um grande abraço.
ResponderExcluirRenata, me escreva mais sobre você. sua mã e era a merendeira?
ExcluirOi minha mãe não era a merendeira, o nome dela é Felicia do meu pai José joaJ( conhecido na cidade por Mela apelido dele. Ele trabalhou qdo jovem na Minari, na casa Moreira e na Alcomira, minha mae era dona de casa. Tenho um tio muito conhecido em Mirandópolis o Julinho.
ResponderExcluirEscreva o seu nome completo de solteira e de casada.
ExcluirRenata Cristina dos Santos
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