sábado, 5 de junho de 2021

 

                    Eu e a água


    Taí, uma relação que me acompanha desde que nasci.

   Quando temos uma relação constante, nunca reparamos nas vantagens que usufruímos.

     Um dia desses percebi que, me é impossível ficar sem água, mesmo por um dia. Desde a hora que abro os olhos e vou ao banheiro, uso água. E nunca reparo que ela está lá à minha disposição, faça sol ou faça chuva, ou esteja claro, ou esteja escuro... Está lá na torneira, no vaso sanitário, no chuveiro...

Não foi sempre assim. Quando criança e até a adolescência, tinha que tirar a água do poço lá no sítio. Como era isso? Tinha um buraco, onde minava água fresca e saborosa. Felizmente o poço não era muito fundo. Uns cinco metros de profundidade. Sobre o poço, havia uma armação de cimento e por cima uma trava de madeira ligada a um sarilho que a gente rodava para descer um balde amarrado a uma corda. O balde chegava ao fundo, se enchia de água e então, o sarilho pesado era rodado para trazer o precioso líquido para cima. Lembro ainda que havia um tampo de madeira para tampar a boca. Para evitar que caísse sujeira. O poço era sagrado.

Nem tenho ideia de quantas centenas de vezes rodei esse sarilho. Era água para a cozinha de casa, para os potes e filtros, para a lavagem de roupa, para os banhos. Para os porcos, para as galinhas, para o gado... E o poço nunca negou! Mesmo em épocas de longa estiagem, aquele poço foi generoso, sempre nos forneceu água boa e saudável. Como nem havia geladeira na época, era um prazer imenso tirar um balde de água do poço nas tardes quentes, para matar a sede. E como custava muito esforço para “puxar água do poço”, sempre a usávamos com parcimônia, sem desperdiçá-la. Todas as casas da vizinhança tinham seus poços.

Eu me lembro, quando voltávamos da Escola, passávamos na casa de uns vizinhos e bebíamos água tirada do poço na hora... Estávamos cansados da caminhada de quatro quilômetros, suados e sedentos. E a água era uma bênção.

Mais tarde, já adulta tive contato com a água encanada. Nossa! Que maravilha! Que facilidade! Era só torcer a trava da torneira e a água jorrava sem parar. Nada de poço, nada de baldes em cordas, nada de sarilho... Quem será que teve a ideia de encanar a água?  Por outro lado, a facilidade levou ao desperdício. As gerações novas não sabem o que é um poço, o que é ter que puxar água do poço para cozinhar, lavar, tomar banho... Então, usam e abusam da água, como se fosse um bem inesgotável. Um dia, ela pode chegar ao fim. E a vida também.

Também minha relação com a água tem sido tão ignorada por mim mesma. Até hoje. Hoje percebi que minha dívida com a água é impagável. Tenho setenta e nove anos de idade, e ao longo desse tempo todo, bebi milhares de litros de água, tomei milhares e milhares de banho, lavei roupa também milhares de vezes, e toda a sujeira que produzi, a água levou embora. Além disso, minhas plantas foram regadas todo esse tempo. Como posso retribuir essa graça, essa bênção?

Nunca poderei! Porque estou viva pela água. Sem ela, eu já era. Mas, procuro não desperdiçá-la. Uso a água do enxágue de roupa da máquina para lavar o chão, o quintal e as varandas.  Uma amiga me perguntou porque não lavo a calçada, quando lhe disse que deixava por conta de São Pedro, ela me perguntou se a minha conta de água era assim tão alta!!!!

E por falar em água, cadê a chuva?

Mirandópolis, junho de 2021

kimie oku in

http://cronicasdekimie.blogspot.com

 

 

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