Velhice...
De uns tempos para cá tenho sentindo o peso
dos anos. Se bem que nunca me importei muito com a idade, nem com o tempo que
passou. Estou cheia de achaques.
Ninguém gosta de revelar o lado fraco de si
mesmo, mas eu não tenho vergonha de confessar que envelheci.
Envelheci de fato! Fato real e irreversível.
Ao longo dos anos, venho observando amigos andando com
dificuldades, apoiando-se em bengalas, em carrinhos de supermercado, em
bicicletas... em cadeiras de rodas... Ou nos parceiros. E sempre pensava: “Um dia,
vou ficar assim!”
E esse tempo está próximo...
Ainda caminho relativamente bem, mesmo ziguezagueando nas
calçadas... Ainda não preciso de apoios... Mas, percebo que o equilíbrio que me
mantinha alinhada está acabando. Às vezes, sinto uma dorzinha no joelho, mas
isso não impede a caminhada...
Sou uma pessoa mais ou menos agitada. Não consigo ficar parada por
muito tempo. Tenho que andar, esticar os braços, a coluna, as pernas.
Imobilidade não é comigo. Então, faço caminhadas regularmente, enquanto rezo
para todo mundo. Faço alongamentos todos os dias, para controlar o encolhimento
do corpo. Porque se eu paro, enferrujo e travo. Isso é lei!
Mas, o tempo é cruel. Ele não perdoa. E vai secando a nossa pele,
encurtando a visão e o ouvido, derrubando nossos fios de cabelos, e endurecendo
as juntas...
Tudo vai caminhando para o fim.
Que é inexorável, mesmo que você seja o mais poderoso ser deste
mundo. Todos morrem, isso é inevitável. Tanta gente famosa, tanta gente linda,
tanta gente poderosa, tanta gente brilhante... Todos morreram! Morreu Charles
Chaplin, morreu Hitler, morreu Madre Teresa de Calcutá, morreu Ayrton Senna,
morreu o Imperador Hiroito, morreu Einstein, morreu Shakeaspeare e morreram
nossos pais...
Eu me lembro que um dia, o Doutor Roberto Yuassa me disse no
Mercado: “Ninguém é indispensável, a não ser as pessoas queridas”. Nunca mais esqueci, porque é profundo e
encerra todos os nossos sentimentos. Ah! Dr. Roberto!
Quando a gente chega num limiar destes, é preciso despertar! Despertar
para uma realidade dolorosa: o tempo está se esgotando. Meu caminho está se
fechando! Um dia, não haverá mais chão! Só um grande buraco.
Temos que aproveitar esse tempinho que ainda resta, usufruindo os
últimos raios de sol num dia de primavera. Olhar ao redor, e procurar melhorar
a vida dos que nos cercam com mais carinho, mais atenção, mais solidariedade.
De que vale guardar o din din, se você não vai precisar dele noutro mundo? De
que vale se apegar às coisas terrenas, que os Faraós do Egito levaram para suas
tumbas? Foram saqueados, roubados, vilipendiados. E seus corpos secaram, mesmo com
tantos óleos injetados para não se decomporem...
E na dura realidade dos tempos atuais, ninguém sabe quem estará
vivo amanhã.
Então, vamos minimizar a dor alheia, como se fosse nossa.
Vamos usar a gentileza no contato diário com os que nos servem.
Vamos conversar com os familiares esquecidos, distantes. Talvez estejam
também com medo do amanhã.
Vamos construir momentos de lazer, mesmo breves para alegrar a
alma. Momentos de prazer nesses tempos de confinamento. Pra não ter
arrependimentos.
Quem sabe, amanhã não estejamos mais aqui...
Mirandópolis, junho de 2021.
kimie oku in
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