Gente de Fibra-Minako Nomizo
Mangostin, acerola, kiwi, macadâmia e lichia são
nomes de frutas exóticas, que se popularizaram em Mirandópolis nas últimas
décadas.
Há muitos fruticultores na região satisfeitos com
essas culturas, porque estão obtendo boa renda com a venda das frutas. Até então,
eram totalmente desconhecidas do povo local. Quem as trouxe e introduziu na
cultura de frutíferas foi um senhor simples e batalhador, que infelizmente já
partiu para outro plano.
Falo do senhor Tsutomu Nomizo, o falecido esposo de
Dona Minako, que é a gente de fibra de hoje.
Dona Minako da família Kurashima nasceu na Primeira
Aliança em 1937. Filha de lavradores, ela passou boa parte de sua infância e
mocidade morando em sítios das Alianças. Estudou o Curso Primário na Aliança,
onde participou ativamente de todos os eventos da Colônia Japonesa, que era
muito forte na época. Para continuar os estudos, a menina-moça Minako morou na
Pensão do senhor Tsuchia, nas proximidades do Hospital Estadual. Na Pensão
moravam cerca de quarenta jovens filhos de sitiantes, que estudavam na cidade.
Dona Minako cursou a Escola de Comércio do senhor Pedro Paulo Guiselini, até o
terceiro ano, equivalente ao ginasial.
Conheceu o seu Tsutomu Nomizo na Aliança, onde ele
morava também, e em 1962 casaram-se. Dessa união nasceram quatro filhos, hoje
todos adultos e independentes: o primogênito formado em Farmácia e Bioquímica
pela Universidade de São Paulo (USP de Ribeirão) é Professor e se dedica também
à pesquisa no campo da Imunologia; a única filha é formada em Biomédicas e
reside em outra cidade; e os dois filhos Américo e Rui que estudaram até o
Colegial, cuidam da empresa da família, que é a Transportadora Nomizo.
Dona Minako e seu
Nomizo inicialmente moraram no sítio nas Alianças. Cultivavam algodão e
amendoim. E era uma vida dura de sacrifícios, porque além dos sogros, havia
dois cunhados e os filhos que foram nascendo. Seu Nomizo que participava de
todas as festividades da Aliança, tinha muitos amigos também lavradores. Como
era muito observador foi percebendo que, a lavoura de café, algodão, amendoim e
milho já estava com os dias contados. Outras regiões do Brasil estavam obtendo
melhores resultados com essas culturas.
Então, junto com a esposa dona Minako vieram para
Mirandópolis, e iniciaram o comércio de verduras com uma pequena Mercearia, que
inicialmente foi instalada na Nove de julho, onde hoje está a Loja do Marega.
Mais tarde, necessitando de mais espaço, transferiram-se para a Rua João
Domingues de Souza, onde hoje é a Oficina do Eduardo Batista, filho do saudoso
seu Edmir. E por fim, adquiriram um prédio na Rua Anchieta, onde ficaram um bom
tempo, e continuaram vendendo frutas e verduras.
Seu Nomizo tinha uma visão muito abrangente e,
percebeu que os agricultores seus patrícios e fornecedores desperdiçavam muitas
verduras e legumes em suas hortas. Os japoneses queriam aproveitar todo o
espaço para plantar e colher legumes e verduras, com fartura. Mas plantavam
demais, e o desperdício era muito grande.
Daí, ele teve a ideia da mercearia, que foi um
sucesso. Esse sucesso, com certeza, foi graças à simpatia de dona Minako, que
recebia os clientes com um largo sorriso, e os orientava no preparo de novos
legumes, que eram desconhecidos de muita gente.
Mas, seu Nomizo estava destinado a outros projetos
maiores. Como era um homem esperto, percebeu que havia um ótimo filão nas roças
de agricultores seus amigos, para transformar em renda para si e para eles
mesmos. Com um caminhão pequeno saiu comprando legumes e verduras nas roças, e
os revendia nas quitandas das cidades próximas.
Com o passar dos anos e
muito trabalho carregando e descarregando caminhão, as encomendas se avolumaram
e ele começou a transportar legumes para a CEASA (Centrais de Abastecimento de
hortifrutigranjeiros), em São Paulo. Para aproveitar a viagem de volta, começou
a aceitar encomendas de transporte de rações para peixes e granjas da região.
E na CEASA, a grande descoberta! Frutas totalmente diferentes estavam sendo vendidas com preços
astronômicos. Pesquisa daqui, pesquisa dali, seu Nomizo começou a trazer frutas
para as pessoas experimentarem.
Assim foi com a acerola, que ninguém conhecia
e que era muito louvada no Globo Rural, o único noticiário sério sobre a
agricultura da época. Depois, foi a vez das mangas Aden, Tomiachi, Palmer,
Lolita, Rubi, que eram um sucesso nas grandes feiras. Mais tarde viriam a
macadâmia, a lichia, o kiwi e o mangostin e algumas variedades de abacates.

Pouco a pouco, os amigos japoneses das Alianças
foram cativados pelas ideias do seu Nomizo e começaram a plantar as roças de
mangas, de abacates, de acerolas, de lichias e de macadâmia. E seu Nomizo
importava mudas de diferentes plantas de Belém do Pará. Hoje passadas várias
décadas, há na região, especialmente nas Alianças, fruticultores que se dedicam
apenas à cultura de dessas frutas. E sempre têm boa renda com essas frutas
exóticas, que passaram a ser comuns na região. Os lavradores que plantavam
arroz, feijão e outros cereais foram salvos pela cultura de frutíferas, dando
origem até a uma Associação de Hortifrutigranjeiros de Mirandópolis, que agrega
produtores de cidades vizinhas também.
E tudo começou com o seu Tsutomu Nomizo.
Em 1993, seu Nomizo
quis se aventurar pelo Brasil. Entregou a Transportadora para os filhos Américo
e Rui e junto com a dona Minako se transferiu para Petrolina, em Pernambuco,
divisa com o Estado da Bahia.
Lá, irrigou dois hectares de terras e plantou
acerola e coco da Bahia, que foram um sucesso. O clima quente do local
favoreceu a cultura. Durante cinco anos pelejaram com a mão na massa, e dona
Minako diz que valeu a pena, porque o seu Nomizo realizou o sonho de plantar e
produzir ele mesmo, as frutas que apreciava. Conheceram muita gente boa,
brasileiros que também vivem batalhando e lidando com a terra. Cinco anos
ficaram por lá, mas atendendo às insistências dos filhos, preocupados com os
pais tão distantes, voltaram para Mirandópolis. Dona Minako se lembra com
saudades de lá, e do vento que soprava forte sempre.
Mas, seu Nomizo era também um homem preocupado com
a parte espiritual, e sempre reverenciava seu Deus, o Kamissamá e os
antepassados nos altares da família. E um dia, sua fé foi posta à prova.
Há décadas atrás, um irmão seu foi acometido de uma
doença que o deixou impossibilitado de trabalhar, pois ficara entrevado. Seu
Nomizo se condoeu da situação do doente, e procurou com persistência, alguém
que pudesse curá-lo. Procurou assistência médica e foi desenganado, porque o
moço não andaria mais. Mas, ele queria de qualquer forma ajudar o irmão
querido, e não desistiu.
Seguindo os conselhos e sugestões de amigos, ele
procurou o monge Nishioka, ou Nishioka Sensei, que dirigia um templo budista em Suzano, a quem pediu ajuda.
E o Professor Nishioka conseguiu com orações,
auxiliadas de sessões de fisioterapia recuperar a saúde do enfermo. E o enfermo
sarou e voltou à vida normal.
O seu Nomizo ficou tão agradecido que, resolveu
doar uma parte de terras de sua chácara ali na Via de Acesso à cidade, para
construir uma capela da seita Henjoin, de religião budista.
Após doar a terra com
escritura nos termos da lei, com a colaboração da matriz de Suzano e fiéis
seguidores da região, conseguiram construir um belo templo no estilo japonês.
Isso ocorreu há mais ou menos vinte e cinco anos atrás. Nesse templo é
reverenciado o Deus máximo, ou Kamissamá do Xintoísmo e o Buda, filósofo
indiano que pregou o amor e a tolerância entre os homens. Também os amigos da
CEASA de São Paulo colaboraram bastante na construção desse templo.
A matriz dessa igreja está localizada em Suzano, na
região da Grande São Paulo, e periodicamente vem um monge da seita fazer as
celebrações especiais para os fiéis.
Os seguidores desse templo se reúnem uma vez por
mês, para orar e confraternizar-se com um lanche após as orações.
A filosofia principal é ter fé em Deus ou Kamissamá
e gratidão por tudo que ele nos concedeu, especialmente pela graça da vida. E
como os japoneses costumam reverenciar os antepassados, nos meses de março e
setembro é realizada a Cerimônia Hui-Yuan pelos mortos, para que suas almas
estejam em paz e continuem velando pelos vivos. Para que cada ser cumpra sua
missão aqui na Terra da melhor forma possível, até o dia do retorno ao Criador
ou Kamissamá.
E dona Minako, que acredita na benevolência de
Kamissamá vai cumprindo sua missão, orando pelos filhos, pelas noras, pelo
genro e pelos netos.
E é uma senhora muito alegre, com um sorriso
cativante, que conquista a todos sempre.
De tudo que o seu Nomizo sonhou e construiu nada se
perdeu. Os filhos continuam a sua obra, carregando as frutas que o pai
incentivou os produtores da região a cultivar, e redistribuindo-as para várias
partes do país. Com isso, Mirandópolis sofreu menos com a crise das lavouras,
porque a fruticultura salvou os lavradores.
Foi uma ideia genial, e agora mais do que nunca,
com a população em geral procurando alimentar-se melhor, consumindo mais
legumes e frutas.
Seu Nomizo estava bem além de seu tempo porque
enxergou lá no passado a importância das frutas na alimentação, porque gostava
muito de saboreá-las.
Realmente, Mirandópolis teve o privilégio de ser
agraciado com um homem genial como o seu Nomizo que, sem fazer alardes
conseguiu ajudar no progresso do Município.
E graças à sabedoria e religiosidade de dona
Minako, a obra de seu Nomizo continua a todo vapor, beneficiando a cidade, a
região e principalmente aos agricultores locais.
Dona Minako, uma senhora simples e sempre de bem
com a vida, que partilhou das conquistas de seu Nomizo, ao longo de mais de
quatro décadas de vida em comum, é sem dúvida Gente de Fibra!
Mirandópolis, janeiro de 2013.
kimie oku in
“cronicasdekimie.blogspot.com”