quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Gente de fibra - Minako Nomizo







Gente de Fibra-Minako Nomizo

        Mangostin, acerola, kiwi, macadâmia e lichia são nomes de frutas exóticas, que se popularizaram em Mirandópolis nas últimas décadas.
Há muitos fruticultores na região satisfeitos com essas culturas, porque estão obtendo boa renda com a venda das frutas. Até então, eram totalmente desconhecidas do povo local. Quem as trouxe e introduziu na cultura de frutíferas foi um senhor simples e batalhador, que infelizmente já partiu para outro plano.
Falo do senhor Tsutomu Nomizo, o falecido esposo de Dona Minako, que é a gente de fibra de hoje.
Dona Minako da família Kurashima nasceu na Primeira Aliança em 1937. Filha de lavradores, ela passou boa parte de sua infância e mocidade morando em sítios das Alianças. Estudou o Curso Primário na Aliança, onde participou ativamente de todos os eventos da Colônia Japonesa, que era muito forte na época. Para continuar os estudos, a menina-moça Minako morou na Pensão do senhor Tsuchia, nas proximidades do Hospital Estadual. Na Pensão moravam cerca de quarenta jovens filhos de sitiantes, que estudavam na cidade. Dona Minako cursou a Escola de Comércio do senhor Pedro Paulo Guiselini, até o terceiro ano, equivalente ao ginasial.

Conheceu o seu Tsutomu Nomizo na Aliança, onde ele morava também, e em 1962 casaram-se. Dessa união nasceram quatro filhos, hoje todos adultos e independentes: o primogênito formado em Farmácia e Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP de Ribeirão) é Professor e se dedica também à pesquisa no campo da Imunologia; a única filha é formada em Biomédicas e reside em outra cidade; e os dois filhos Américo e Rui que estudaram até o Colegial, cuidam da empresa da família, que é a Transportadora Nomizo.
Dona Minako e seu Nomizo inicialmente moraram no sítio nas Alianças. Cultivavam algodão e amendoim. E era uma vida dura de sacrifícios, porque além dos sogros, havia dois cunhados e os filhos que foram nascendo. Seu Nomizo que participava de todas as festividades da Aliança, tinha muitos amigos também lavradores. Como era muito observador foi percebendo que, a lavoura de café, algodão, amendoim e milho já estava com os dias contados. Outras regiões do Brasil estavam obtendo melhores resultados com essas culturas.
Então, junto com a esposa dona Minako vieram para Mirandópolis, e iniciaram o comércio de verduras com uma pequena Mercearia, que inicialmente foi instalada na Nove de julho, onde hoje está a Loja do Marega. Mais tarde, necessitando de mais espaço, transferiram-se para a Rua João Domingues de Souza, onde hoje é a Oficina do Eduardo Batista, filho do saudoso seu Edmir. E por fim, adquiriram um prédio na Rua Anchieta, onde ficaram um bom tempo, e continuaram vendendo frutas e verduras.
 Seu Nomizo tinha uma visão muito abrangente e, percebeu que os agricultores seus patrícios e fornecedores desperdiçavam muitas verduras e legumes em suas hortas. Os japoneses queriam aproveitar todo o espaço para plantar e colher legumes e verduras, com fartura. Mas plantavam demais, e o desperdício era muito grande.
Daí, ele teve a ideia da mercearia, que foi um sucesso. Esse sucesso, com certeza, foi graças à simpatia de dona Minako, que recebia os clientes com um largo sorriso, e os orientava no preparo de novos legumes, que eram desconhecidos de muita gente.
Mas, seu Nomizo estava destinado a outros projetos maiores. Como era um homem esperto, percebeu que havia um ótimo filão nas roças de agricultores seus amigos, para transformar em renda para si e para eles mesmos. Com um caminhão pequeno saiu comprando legumes e verduras nas roças, e os revendia nas quitandas das cidades próximas.
Com o passar dos anos e muito trabalho carregando e descarregando caminhão, as encomendas se avolumaram e ele começou a transportar legumes para a CEASA (Centrais de Abastecimento de hortifrutigranjeiros), em São Paulo. Para aproveitar a viagem de volta, começou a aceitar encomendas de transporte de rações para peixes e granjas da região.
E na CEASA, a grande descoberta! Frutas totalmente  diferentes estavam sendo vendidas com preços astronômicos. Pesquisa daqui, pesquisa dali, seu Nomizo começou a trazer frutas para as pessoas experimentarem.

 Assim foi com a acerola, que ninguém conhecia e que era muito louvada no Globo Rural, o único noticiário sério sobre a agricultura da época. Depois, foi a vez das mangas Aden, Tomiachi, Palmer, Lolita, Rubi, que eram um sucesso nas grandes feiras. Mais tarde viriam a macadâmia, a lichia, o kiwi e o mangostin e algumas variedades de abacates.

Pouco a pouco, os amigos japoneses das Alianças foram cativados pelas ideias do seu Nomizo e começaram a plantar as roças de mangas, de abacates, de acerolas, de lichias e de macadâmia. E seu Nomizo importava mudas de diferentes plantas de Belém do Pará. Hoje passadas várias décadas, há na região, especialmente nas Alianças, fruticultores que se dedicam apenas à cultura de dessas frutas. E sempre têm boa renda com essas frutas exóticas, que passaram a ser comuns na região. Os lavradores que plantavam arroz, feijão e outros cereais foram salvos pela cultura de frutíferas, dando origem até a uma Associação de Hortifrutigranjeiros de Mirandópolis, que agrega produtores de cidades vizinhas também.

E tudo começou com o seu Tsutomu Nomizo.
Em 1993, seu Nomizo quis se aventurar pelo Brasil. Entregou a Transportadora para os filhos Américo e Rui e junto com a dona Minako se transferiu para Petrolina, em Pernambuco, divisa com o Estado da Bahia.
Lá, irrigou dois hectares de terras e plantou acerola e coco da Bahia, que foram um sucesso. O clima quente do local favoreceu a cultura. Durante cinco anos pelejaram com a mão na massa, e dona Minako diz que valeu a pena, porque o seu Nomizo realizou o sonho de plantar e produzir ele mesmo, as frutas que apreciava. Conheceram muita gente boa, brasileiros que também vivem batalhando e lidando com a terra. Cinco anos ficaram por lá, mas atendendo às insistências dos filhos, preocupados com os pais tão distantes, voltaram para Mirandópolis. Dona Minako se lembra com saudades de lá, e do vento que soprava forte sempre.
Mas, seu Nomizo era também um homem preocupado com a parte espiritual, e sempre reverenciava seu Deus, o Kamissamá e os antepassados nos altares da família. E um dia, sua fé foi posta à prova.
Há décadas atrás, um irmão seu foi acometido de uma doença que o deixou impossibilitado de trabalhar, pois ficara entrevado. Seu Nomizo se condoeu da situação do doente, e procurou com persistência, alguém que pudesse curá-lo. Procurou assistência médica e foi desenganado, porque o moço não andaria mais. Mas, ele queria de qualquer forma ajudar o irmão querido, e não desistiu.
Seguindo os conselhos e sugestões de amigos, ele procurou o monge Nishioka, ou Nishioka Sensei, que dirigia um templo  budista em Suzano, a quem pediu ajuda.
E o Professor Nishioka conseguiu com orações, auxiliadas de sessões de fisioterapia recuperar a saúde do enfermo. E o enfermo sarou e voltou à vida normal.
O seu Nomizo ficou tão agradecido que, resolveu doar uma parte de terras de sua chácara ali na Via de Acesso à cidade, para construir uma capela da seita Henjoin, de religião budista.
Após doar a terra com escritura nos termos da lei, com a colaboração da matriz de Suzano e fiéis seguidores da região, conseguiram construir um belo templo no estilo japonês. Isso ocorreu há mais ou menos vinte e cinco anos atrás. Nesse templo é reverenciado o Deus máximo, ou Kamissamá do Xintoísmo e o Buda, filósofo indiano que pregou o amor e a tolerância entre os homens. Também os amigos da CEASA de São Paulo colaboraram bastante na construção desse templo.
A matriz dessa igreja está localizada em Suzano, na região da Grande São Paulo, e periodicamente vem um monge da seita fazer as celebrações especiais para os fiéis.
Os seguidores desse templo se reúnem uma vez por mês, para orar e confraternizar-se com um lanche após as orações.
A filosofia principal é ter fé em Deus ou Kamissamá e gratidão por tudo que ele nos concedeu, especialmente pela graça da vida. E como os japoneses costumam reverenciar os antepassados, nos meses de março e setembro é realizada a Cerimônia Hui-Yuan pelos mortos, para que suas almas estejam em paz e continuem velando pelos vivos. Para que cada ser cumpra sua missão aqui na Terra da melhor forma possível, até o dia do retorno ao Criador ou Kamissamá.


E dona Minako, que acredita na benevolência de Kamissamá vai cumprindo sua missão, orando pelos filhos, pelas noras, pelo genro e pelos netos.
E é uma senhora muito alegre, com um sorriso cativante, que conquista a todos sempre.
De tudo que o seu Nomizo sonhou e construiu nada se perdeu. Os filhos continuam a sua obra, carregando as frutas que o pai incentivou os produtores da região a cultivar, e redistribuindo-as para várias partes do país. Com isso, Mirandópolis sofreu menos com a crise das lavouras, porque a fruticultura salvou os lavradores.
Foi uma ideia genial, e agora mais do que nunca, com a população em geral procurando alimentar-se melhor, consumindo mais legumes e frutas.
Seu Nomizo estava bem além de seu tempo porque enxergou lá no passado a importância das frutas na alimentação, porque gostava muito de saboreá-las.
Realmente, Mirandópolis teve o privilégio de ser agraciado com um homem genial como o seu Nomizo que, sem fazer alardes conseguiu ajudar no progresso do Município.
E graças à sabedoria e religiosidade de dona Minako, a obra de seu Nomizo continua a todo vapor, beneficiando a cidade, a região e principalmente aos agricultores locais.
Dona Minako, uma senhora simples e sempre de bem com a vida, que partilhou das conquistas de seu Nomizo, ao longo de mais de quatro décadas de vida em comum, é sem dúvida Gente de Fibra!



Mirandópolis, janeiro de 2013.
kimie oku in “cronicasdekimie.blogspot.com”

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