quinta-feira, 24 de janeiro de 2013






Antônio Perez

A difícil arte de escolher como preencher seu tempo.

        Lembrei-me agora mesmo, com muitas saudades do meu avô.
       Espanhol, desembarcou no porto de Santos por volta de 1929, época que como todo mundo sabe houve a “Grande Depressão” que atingiu o mundo inteiro.
       Seu primeiro emprego foi trabalhar nos fornos de carvão, segundo ele, a coisa mais próxima do inferno que conheceu.
       Sua meta era vencer e a fórmula era trabalhar arduamente. Depois da jornada de um emprego ele sempre procurava algo melhor remunerado e conseguiu assim galgar postos inimagináveis para alguém analfabeto.
      Além de trabalhar conseguiu aprender a ler um pouco e escrever mal, segundo ele.
       Posso estar enganado mas, depois de carvoeiro ele foi carregador de sacos de um batateiro na feira, onde soube como verduras e cereais chegavam aos consumidores, vindas dos atacadistas da Rua Santa Rosa em São Paulo.
       Curioso, foi para São Paulo e começou a comprar pequenas quantidades de feijão, que vendia por quilo nas feiras.
       Procurando aproveitar bem o tempo que separava uma feira da outra, foi conhecer de onde vinha o feijão que ira para a Rua Santa Rosa, tendo conhecido as máquinas de beneficiar feijão café e arroz. Em pouco tempo, tornou-se comprador de cereais no interior, mercadoria que enviava para os distribuidores da Rua Santa Rosa. Tudo isso sem dinheiro, munido apenas do crédito que lhe era fornecido mercê dos contratos de “fio de bigode” granjeados pelas recomendações obtidas por todos os lugares onde passou.
       Sempre aproveitando bem o seu tempo e o seu crédito, ele comprou primeiro uma máquina de beneficiar café, depois uma pequena fazenda que produzia o café a ser beneficiado.
       Ele me contou muitas vezes que todos os sitiantes da região colhiam o café e levavam imediatamente para a sua máquina, mesmo que ele não tivesse dinheiro para pagá-los. Assim, ele beneficiava o café, vendia e depois pagava os fornecedores.
       Cheguei a conhecer cada uma das muitas máquinas de café que ele comprou ou montou e as dezenas de fazendas que ele comprou, reformou e tornou-as grandes propriedades produtoras.
       Alguns anos depois meu avô deu ao único enteado e aos seus sobrinhos que trabalhavam com ele, todas essas máquinas e fazendas e, ficou exclusivamente no ramo da pecuária com o que se chama cria, recria e engorda, chegando a ter muitas outras fazendas, uma das quais me lembro de nome Fazenda Santana ou Santa Ana, que tinha cerca de 7.000 alqueires, cujas terras atingiam três municípios, se não me engano, Pacaembu, Junqueirópolis e Nova Independência.
        Infelizmente um acidente deixou meu avô impossibilitado de trabalhar e de ter mais um tempo. Depois de longa enfermidade ele morreu deixando muitos bens e muitas,
muitas saudades, em muita gente.
        Foram muitas as lições que Antonio Perez deu a todos os que o cercavam. Eu ainda era jovem demais para entender, aplicar e tirar benefícios delas. Mas nunca as esqueci, e de vez em quando me pego lembrando desse grande homem e como eu gostaria de ter seguido muito mais os seus exemplos.
       Pense um pouco como você está usando o seu tempo.
    
   Sugiro que você perca uns poucos minutos e reserve um tempo para fazer algo de bom e ainda mais proveitoso do que  você anda fazendo.
       Pode ter certeza de que no futuro irreversível, você vai reconhecer que ter empregado bem o seu tempo foi o que de melhor você fez na sua vida.
       Cada segundo é único e nunca mais se repetirá.


Nota: O autor do texto Mário Guzman é filho da senhora Ruth Andrade Pacheco e Antônio Guzman Mariscal. Este foi enteado do senhor Antônio Perez, que não teve filhos.
Antônio Perez foi proprietário da Máquina de beneficiar café, a “Comercial Antônio Perez e Cia” que dos anos quarenta até os noventa beneficiou muito café, impulsionando a economia de Mirandópolis e região.
Achei oportuno publicar essas memórias, que se referem a um homem que, foi muito importante para o progresso de Mirandópolis. Será arquivado no Acervo da História de Mirandópolis
Mais informações sobre a Comercial Perez constam em Gente de Fibra – “Waldir José Frigeri” in “cronicasdekimie.blogspot.com”
Mirandópolis, janeiro de 2013.
kimie oku



 

2 comentários:

  1. Sr. Antonio Perez foi tio da minha mãe. Realmente todos nós crescemos alimentando por ele uma admiração enorme pelo fato dele ter feito tantas aquisições materiais com seu próprio esforço e ter dado a mão a toda a sua familia.Após a morte seus bens foram todos distribuidos à esposa, enteado e sobrinhos. Para nós ele foi sempre um exemplo a ser seguido.

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  2. Regina Mustafa, o senhor Antônio Perez se apresenta para nós como uma pessoa lendária, porque não o conhecemos, apesar de sua importância na História de Mirandópolis. Com o seu depoimento acima sobre seu parentesco, ele se tornou mais próximo, que teve contato com os familiares, que fazem parte de nossa cidade. Daí, dá para estabelecermos as ligações do passado com o presente. Muito obrigada.

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