quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014



                                        Amar só o belo

     A cultura da humanidade desenvolveu o gosto só pelo que é belo, perfeito, agradável.
     O culto ao belo e perfeito se tornou uma obsessão, e é um costume universal, independente de raças, religiões, costumes e épocas.
     Essa veneração do que é perfeito não se restringiu às coisas materiais. Estendeu-se também aos seres humanos, a ponto de se criarem concursos para os mais belos espécimes da raça humana, que abrange tanto as mulheres, como os homens, as crianças...
     Só que a humanidade não é perfeita. Mesmo as criaturas feitas por Deus, às vezes apresentam algumas diferenças, que tanto atrapalham suas vidas. Pessoas sem acuidade visual, sem a fala, sem a audição, e outras sem partes do corpo como braços, pernas, mãos, dedos, ou que os possuem em duplicata...
    E como fomos acostumados a admirar só o que é perfeito, procuramos evitar olhar essas criaturas, que são gente como a gente. A própria cultura e tradição nos ensinaram a discriminar os diferentes. Já crescemos discriminando tudo e todos. Conheço gente que assistiu a um filme maravilhoso, e não gostou porque o ator principal era um velho, ou a atriz era muito feia... Ao sermos alfabetizados, a letra tinha que ser perfeita!  Existia até um caderno de caligrafia, que obrigava o aluno a obedecer às proporções. E não importavam as diferenças individuais, as dificuldades de coordenação, (ou descoordenação) todos deveriam traçar letras bonitas e perfeitas.
    Por que temos de dividir o mundo em bonitos e feios? Se fosse para ser tudo perfeito, Deus teria feito uma linha de montagem, de onde sairiam todas as pessoas como Barbies perfeitas. Os pais seriam a fábrica e a linha de montagem seria o útero... Seríamos perfeitos, bonitos e totalmente iguais... Você se olharia no outro e veria a própria imagem. Desolador...
   Mas, Deus nos fez diferentes, nos fez preto, branco, azul, amarelo, vermelho, assim como as flores que há na natureza. E é justamente nessa diferença que, está toda a beleza da raça humana.
    Imaginem que tristeza seria se as flores fossem todas de uma única cor. Ou que, todas as árvores tivessem o mesmo formato, a mesma altura e as mesmas ramagens. Ou, os pássaros fossem todos de uma única espécie, assim como os peixes, as borboletas, os mamíferos... Não haveria diversidade. Tudo seria igual. Infinitamente igual e repetitivo... Até enjoar... Seria um mundo formatado, onde o diferente seria uma aberração e não haveria espaço para ele.
  Por isso, Deus fez tudo diversificado, para que todos aprendessem a respeitar os outros, mesmo que não perfeitos. Então, por que o homem escolheu o belo em detrimento do que não é? Por que todas as pessoas almejam ser belas e perfeitas?
   Ao passar os olhos pelo face book, percebi que há muita gente com complexo de Narciso. Elas postam fotos próprias quase todos os dias, para mostrar aos demais usuários. Faz-me lembrar de Narciso, que idolatrava a própria imagem que via no espelho das águas... E morreu de desgosto, por não poder abraçar a própria imagem, que se desfazia ao menor contato seu...
    Rede social que, poderia ser usada para diálogos e interações inteligentes foi transformada em vitrine...
  E eu conheço tanta gente imperfeita fisicamente, com inteligência superior e muito mais conteúdo que essas dondocas. A imagem pode ser perfeita, mas se for vazia não consegue a atenção por mais que alguns segundos.
   Nós temos que aprender a enxergar além das aparências. A essência, a alma, o cérebro, a inteligência é que deveria diferenciar os humanos, já que somos seres pensantes. O problema é que a maioria não quer pensar, ou não quer usar a massa cinzenta...
  Mesmo nas artes, há quadros considerados perfeitos  sob o ponto de vista da estética, como os retratos a óleo de Renoir, os narcisos d’água de Monet. Por outro lado, há obras magníficas, supervalorizadas em todas as Galerias do mundo, que não seguem esses padrões de beleza, como as obras de Van Gogh, a Guernica de Picasso e O Grito de Edvard Munch. Então, entre a sociedade mais culta há quem aprecie o diferente, o feio, o terrível. Essas telas expõem o lado feio, duro, triste, e terrivelmente real da humanidade.
   Daí, eu me lembrei de algo que acho belíssimo, que é também terrível ao mesmo tempo. É o fogo. O fogo com suas labaredas, que parecem línguas vivas, vermelhas que vão avançando sem controle... Acho fascinante! E terrível também, porque com a sua voracidade tudo consome, e reduz a cinzas.
   Também aprecio o que é belo, magnífico, que impressiona. Mas, sei também perceber que nem tudo que é belo é perfeito. Mesmo dentre nós, quem se acha perfeito? Uns gostariam de ser mais altos, outros menos gordos, outros mais morenos, aqueles gostariam de....
   Mas, tudo isso é bobagem. Não fomos produzidos em linhas de montagem, e cada qual tem as suas deficiências particulares dotadas por Deus. Pequenas e grandes deficiências, que diferenciam uns dos outros, e torna a humanidade tão diversificada, tão variada e tão interessante.
    Então, que tal observar tudo e, descobrir em cada ser humano suas verdadeiras qualidades, além das aparências?
     E esquecer um pouco essa obsessão pelo belo?

 Mirandópolis, janeiro de 2014.  kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
    

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