Amar só o belo
A cultura da
humanidade desenvolveu o gosto só pelo que é belo, perfeito, agradável.
O culto ao belo e
perfeito se tornou uma obsessão, e é um costume universal, independente de
raças, religiões, costumes e épocas.
Essa veneração do que
é perfeito não se restringiu às coisas materiais. Estendeu-se também aos seres
humanos, a ponto de se criarem concursos para os mais belos espécimes da raça
humana, que abrange tanto as mulheres, como os homens, as crianças...
Só que a humanidade
não é perfeita. Mesmo as criaturas feitas por Deus, às vezes apresentam algumas
diferenças, que tanto atrapalham suas vidas. Pessoas sem acuidade visual, sem a
fala, sem a audição, e outras sem partes do corpo como braços, pernas, mãos,
dedos, ou que os possuem em duplicata...
E como fomos acostumados a admirar só o que é
perfeito, procuramos evitar olhar essas criaturas, que são gente como a gente.
A própria cultura e tradição nos ensinaram a discriminar os diferentes. Já
crescemos discriminando tudo e todos. Conheço gente que assistiu a um filme
maravilhoso, e não gostou porque o ator principal era um velho, ou a atriz era
muito feia... Ao sermos alfabetizados, a letra tinha que ser perfeita! Existia até um caderno de caligrafia, que
obrigava o aluno a obedecer às proporções. E não importavam as diferenças
individuais, as dificuldades de coordenação, (ou descoordenação) todos deveriam
traçar letras bonitas e perfeitas.
Por que temos de
dividir o mundo em bonitos e feios? Se fosse para ser tudo perfeito, Deus teria
feito uma linha de montagem, de onde sairiam todas as pessoas como Barbies
perfeitas. Os pais seriam a fábrica e a linha de montagem seria o útero... Seríamos
perfeitos, bonitos e totalmente iguais... Você se olharia no outro e veria a
própria imagem. Desolador...
Mas, Deus nos fez
diferentes, nos fez preto, branco, azul, amarelo, vermelho, assim como as
flores que há na natureza. E é justamente nessa diferença que, está toda a
beleza da raça humana.
Imaginem que tristeza
seria se as flores fossem todas de uma única cor. Ou que, todas as árvores
tivessem o mesmo formato, a mesma altura e as mesmas ramagens. Ou, os pássaros
fossem todos de uma única espécie, assim como os peixes, as borboletas, os
mamíferos... Não haveria diversidade. Tudo seria igual. Infinitamente igual e
repetitivo... Até enjoar... Seria um mundo formatado, onde o diferente seria
uma aberração e não haveria espaço para ele.
Por isso, Deus fez tudo
diversificado, para que todos aprendessem a respeitar os outros, mesmo que não
perfeitos. Então, por que o homem
escolheu o belo em detrimento do que não é? Por que todas as pessoas almejam
ser belas e perfeitas?
Ao passar os olhos
pelo face book, percebi que há muita gente com complexo de Narciso. Elas postam
fotos próprias quase todos os dias, para mostrar aos demais usuários. Faz-me
lembrar de Narciso, que idolatrava a própria imagem que via no espelho das
águas... E morreu de desgosto, por não poder abraçar a própria imagem, que se
desfazia ao menor contato seu...
Rede social que,
poderia ser usada para diálogos e interações inteligentes foi transformada em
vitrine...
E eu conheço tanta
gente imperfeita fisicamente, com inteligência superior e muito mais conteúdo
que essas dondocas. A imagem pode ser perfeita, mas se for vazia não consegue a
atenção por mais que alguns segundos.
Nós temos que aprender
a enxergar além das aparências. A essência, a alma, o cérebro, a inteligência é
que deveria diferenciar os humanos, já que somos seres pensantes. O problema é
que a maioria não quer pensar, ou não quer usar a massa cinzenta...
Mesmo nas artes, há
quadros considerados perfeitos sob o
ponto de vista da estética, como os retratos a óleo de Renoir, os narcisos
d’água de Monet. Por outro lado, há obras magníficas, supervalorizadas em todas
as Galerias do mundo, que não seguem esses padrões de beleza, como as obras de
Van Gogh, a Guernica de Picasso e O Grito de Edvard Munch. Então, entre a
sociedade mais culta há quem aprecie o diferente, o feio, o terrível. Essas
telas expõem o lado feio, duro, triste, e terrivelmente real da humanidade.
Daí, eu me lembrei de
algo que acho belíssimo, que é também terrível ao mesmo tempo. É o fogo. O fogo
com suas labaredas, que parecem línguas vivas, vermelhas que vão avançando sem
controle... Acho fascinante! E terrível também, porque com a sua voracidade
tudo consome, e reduz a cinzas.
Também aprecio o que é belo, magnífico, que impressiona. Mas, sei também perceber que nem tudo que é belo é perfeito. Mesmo dentre nós, quem se acha perfeito? Uns gostariam de ser mais altos, outros menos gordos, outros mais morenos, aqueles gostariam de....
Também aprecio o que é belo, magnífico, que impressiona. Mas, sei também perceber que nem tudo que é belo é perfeito. Mesmo dentre nós, quem se acha perfeito? Uns gostariam de ser mais altos, outros menos gordos, outros mais morenos, aqueles gostariam de....
Mas, tudo isso é
bobagem. Não fomos produzidos em linhas de montagem, e cada qual tem as suas
deficiências particulares dotadas por Deus. Pequenas e grandes deficiências, que
diferenciam uns dos outros, e torna a humanidade tão diversificada, tão variada
e tão interessante.
Então, que tal
observar tudo e, descobrir em cada ser humano suas verdadeiras qualidades, além
das aparências?
E esquecer um pouco
essa obsessão pelo belo?
Mirandópolis, janeiro
de 2014. kimie oku
in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
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