terça-feira, 18 de fevereiro de 2014


                  Como lidar com onças e outras feras


         Há poucos dias, apareceu uma onça em nosso sítio, e andou atacando os bezerros, Feriu dois e matou um.
         Como foi uma coisa inusitada, pedimos orientação para a Polícia Ambiental, mas parece que nada há a fazer. Mesmo sendo capturada, ela será solta em alguma matinha, provavelmente nas cercanias do Rio Feio ou Aguapeí, onde ainda remanesce a mata ciliar. E o Rio Feio não fica longe da nossa propriedade.
         Felizmente, os cachorros do peão a puseram para correr, e ela não voltou mais. Entretanto, ela tem sido vista na estrada que conduz à Usina de álcool, com certeza procurando uma caça para se alimentar.
         Já há algum tempo que, outros animais não domesticados têm visitado o sítio. Bandos de macacos, araras, tucanos, têm dado o seu ar de graça lá. Mas, como são animais inofensivos, só apreciamos sua visita aos pés de ingás, abacates e outras frutas silvestres que possuímos... Eles estão famintos e quando acham comida, aparecem em bandos de dez a quinze animais... Outra que veio ao nosso açude é uma sucuri. Teiús também moram do outro lado da estrada, onde conservamos um pequeno bosque, em respeito à fauna e à flora. E esses teiús descem para o nosso quintal, à procura de ovos e pintinhos...
         Entretanto, a visita da onça assustou a todos. Ela é carnívora e ataca a criação, pois ela precisa comer. E aí, a gente fica sem saber como agir numa situação dessas. Deixá-la comer o rebanho? Botá-la prá correr? Caçá-la?  Mas, e depois?  Se for caçada, que fazer com ela? Sabemos que não podemos matá-la, pois devemos preservar o pouco da fauna que restou...
         Eu me lembro que, quando meus pais adquiriram umas terras nas proximidades de Tabajara, em Lavínia, foi feita uma grande queimada para derrubar a mata virgem que existia. A finalidade era plantar o café, para obter o sustento da família. Lembro que vi veados vermelhos correndo no meio do arrozal verde, para fugir da queimada. Era uma imagem linda, que guardei na memória e, só mais tarde entendi o drama que eles estavam vivendo. Havíamos queimado o seu habitat natural.
          Eu me lembro ainda que, os proprietários tinham que manter intato  um pedaço da floresta, e como todos respeitaram a ordem, no fundo do nosso sítio havia uma faixa de floresta virgem, onde moravam muitos bichos. Era um trecho longo embora estreito, onde moravam macacos que vinham roubar as espigas do nosso milharal. Cenas que lembro com saudades e que, as novas gerações não tiveram oportunidade de presenciar...
         Temos consciência que tomamos o habitat natural dos bichos, e devastamos suas matas que os protegiam, e acabamos com centenas de variedades de outros animais indefesos... Tudo para o homem poder sobreviver também. E as roças ocuparam os espaços onde havia mata virgem, que era também o habitat natural do homem... Mas, o homem sapiens achou por bem inventar a civilização, as cidades, as roças de cultivo, as estradas e se esqueceu de parceiros outros, que dividiam a mata com ele... Os bichos não foram considerados, e foram expulsos mais e mais para outros confins, cada vez mais vazios de matas.
         Já assisti a muitos filmes que, mostraram cenas de fazendeiros caçando os bichos, que vêm atacar rebanhos de carneiros na Austrália. Esse país possui o maior rebanho ovino do mundo, e a criação é feita em pastagens imensas a se perderem de vista. Conclusão: não há mais espaço para os animais selvagens, e eles disputam com o homem a carne dos carneiros. E os fazendeiros vivem em constante atrito com a Polícia Ambiental, que é rígida em qualquer parte do mundo.
         Quando era muito jovem ainda, li o livro “A Revolução dos Bichos” do escritor inglês George Orwell. Como era adolescente quando o li, só concluí que o autor havia imaginado um mundo diferente, comandado por animais e não por humanos. Hoje sei que, o livro era uma sátira à União Soviética Comunista de Stalin, que padronizou tudo desde a roupa, a comida, o trabalho e até o modo de pensar dos soviéticos. Era um desrespeito total à individualidade. Na história contada por Orwell, os animais se rebelam contra os humanos e tentam criar uma sociedade utópica, mas o Porco Chefe seduzido pelo poder, acaba fundando uma sociedade tão corrupta como a dos humanos...
         Mas, a ideia da revolta dos bichos ficou na minha cabeça, desde então. Nós fazemos qualquer coisa para prejudicá-los e beneficiar o mundo dos humanos: usinas que detonam o ambiente natural dos bichos que vivem nos rios correntes, estradas que cortam florestas e põem em risco permanente seus habitantes, fazendas de gado e roças que devastam florestas inteiras, eliminando o habitat natural de tantos bichos e até dos nossos irmãos silvícolas. Por que a civilização tem que destruir tudo? Não haveria uma forma de convivência pacífica com todos os seres vivos, sem que seja necessário exterminá-los?
         Acho que está na hora de pensar nesse assunto, pois daqui prá frente, onças, lobos e cobras começarão a vir para locais onde aglomeram pessoas (cidade) em busca de comida, porque matas não há mais e rios estão morrendo. E os bichos querem viver como nós.
         Já imaginou se os bichos começarem a adentrar em nossas casas, à procura de comida?  Até agora nem os pássaros invadem nossos domicílios, e respeitam nossos limites, salvo algum pardal que perdeu o rumo. Já imaginou a cena do filme “Os pássaros” ocorrer de fato em nossas residências? E se forem águias? E se forem cobras? E onças????
         Inimaginável, né?
         Parece que esse tempo não está tão longe, não!
        
         Mirandópolis, fevereiro de 2014.
         kimie oku in http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
        


         

Um comentário:

  1. E tudo está se dizimando, as matas, as arvóres da cidade que os proprietários acham que são estorvos para sua vida, aí o descontrole de nossa natureza, falta de chuvas e secas intermináveis. Até onde vamos chegar. O homem também é uma raça em extinção, nossos filho, netos e bisnetos que vão ver tudo isso. A destruição do nosso planeta. Só Deus para reverter a tudo. Oremos.

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