Como lidar com
onças e outras feras
Há poucos dias, apareceu uma onça em
nosso sítio, e andou atacando os bezerros, Feriu dois e matou um.
Como foi uma coisa inusitada, pedimos
orientação para a Polícia Ambiental, mas parece que nada há a fazer. Mesmo
sendo capturada, ela será solta em alguma matinha, provavelmente nas cercanias
do Rio Feio ou Aguapeí, onde ainda remanesce a mata ciliar. E o Rio Feio não
fica longe da nossa propriedade.
Felizmente, os cachorros do peão a
puseram para correr, e ela não voltou mais. Entretanto, ela tem sido vista na
estrada que conduz à Usina de álcool, com certeza procurando uma caça para se
alimentar.
Já há algum tempo que, outros animais
não domesticados têm visitado o sítio. Bandos de macacos, araras, tucanos, têm
dado o seu ar de graça lá. Mas, como são animais inofensivos, só apreciamos sua
visita aos pés de ingás, abacates e outras frutas silvestres que possuímos...
Eles estão famintos e quando acham comida, aparecem em bandos de dez a quinze
animais... Outra que veio ao nosso açude é uma sucuri. Teiús também moram do
outro lado da estrada, onde conservamos um pequeno bosque, em respeito à fauna
e à flora. E esses teiús descem para o nosso quintal, à procura de ovos e
pintinhos...
Entretanto, a visita da onça assustou a
todos. Ela é carnívora e ataca a criação, pois ela precisa comer. E aí, a gente
fica sem saber como agir numa situação dessas. Deixá-la comer o rebanho?
Botá-la prá correr? Caçá-la? Mas, e
depois? Se for caçada, que fazer com
ela? Sabemos que não podemos matá-la, pois devemos preservar o pouco da fauna
que restou...
Eu me lembro que, quando meus pais
adquiriram umas terras nas proximidades de Tabajara, em Lavínia, foi feita uma
grande queimada para derrubar a mata virgem que existia. A finalidade era
plantar o café, para obter o sustento da família. Lembro que vi veados
vermelhos correndo no meio do arrozal verde, para fugir da queimada. Era uma
imagem linda, que guardei na memória e, só mais tarde entendi o drama que eles
estavam vivendo. Havíamos queimado o seu habitat natural.
Eu me lembro ainda que, os proprietários
tinham que manter intato um pedaço da
floresta, e como todos respeitaram a ordem, no fundo do nosso sítio havia uma
faixa de floresta virgem, onde moravam muitos bichos. Era um trecho longo
embora estreito, onde moravam macacos que vinham roubar as espigas do nosso
milharal. Cenas que lembro com saudades e que, as novas gerações não tiveram
oportunidade de presenciar...
Temos consciência que tomamos o habitat
natural dos bichos, e devastamos suas matas que os protegiam, e acabamos com
centenas de variedades de outros animais indefesos... Tudo para o homem poder
sobreviver também. E as roças ocuparam os espaços onde havia mata virgem, que
era também o habitat natural do homem... Mas, o homem sapiens achou por bem
inventar a civilização, as cidades, as roças de cultivo, as estradas e se
esqueceu de parceiros outros, que dividiam a mata com ele... Os bichos não
foram considerados, e foram expulsos mais e mais para outros confins, cada vez
mais vazios de matas.
Já assisti a muitos filmes que,
mostraram cenas de fazendeiros caçando os bichos, que vêm atacar rebanhos de
carneiros na Austrália. Esse país possui o maior rebanho ovino do mundo, e a
criação é feita em pastagens imensas a se perderem de vista. Conclusão: não há mais
espaço para os animais selvagens, e eles disputam com o homem a carne dos
carneiros. E os fazendeiros vivem em constante atrito com a Polícia Ambiental,
que é rígida em qualquer parte do mundo.
Quando era muito jovem ainda, li o
livro “A Revolução dos Bichos” do escritor inglês George Orwell. Como era
adolescente quando o li, só concluí que o autor havia imaginado um mundo
diferente, comandado por animais e não por humanos. Hoje sei que, o livro era
uma sátira à União Soviética Comunista de Stalin, que padronizou tudo desde a
roupa, a comida, o trabalho e até o modo de pensar dos soviéticos. Era um
desrespeito total à individualidade. Na história contada por Orwell, os animais
se rebelam contra os humanos e tentam criar uma sociedade utópica, mas o Porco
Chefe seduzido pelo poder, acaba fundando uma sociedade tão corrupta como a dos
humanos...
Mas, a ideia da revolta dos bichos
ficou na minha cabeça, desde então. Nós fazemos qualquer coisa para
prejudicá-los e beneficiar o mundo dos humanos: usinas que detonam o ambiente
natural dos bichos que vivem nos rios correntes, estradas que cortam florestas
e põem em risco permanente seus habitantes, fazendas de gado e roças que
devastam florestas inteiras, eliminando o habitat natural de tantos bichos e
até dos nossos irmãos silvícolas. Por que a civilização tem que destruir tudo?
Não haveria uma forma de convivência pacífica com todos os seres vivos, sem que
seja necessário exterminá-los?
Acho que está na hora de pensar nesse
assunto, pois daqui prá frente, onças, lobos e cobras começarão a vir para
locais onde aglomeram pessoas (cidade) em busca de comida, porque matas não há
mais e rios estão morrendo. E os bichos querem viver como nós.
Já imaginou se os bichos começarem a
adentrar em nossas casas, à procura de comida?
Até agora nem os pássaros invadem nossos domicílios, e respeitam nossos
limites, salvo algum pardal que perdeu o rumo. Já imaginou a cena do filme “Os
pássaros” ocorrer de fato em nossas residências? E se forem águias? E se forem
cobras? E onças????
Inimaginável, né?
Parece que esse tempo não está tão
longe, não!
Mirandópolis, fevereiro de 2014.
kimie oku in
http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
E tudo está se dizimando, as matas, as arvóres da cidade que os proprietários acham que são estorvos para sua vida, aí o descontrole de nossa natureza, falta de chuvas e secas intermináveis. Até onde vamos chegar. O homem também é uma raça em extinção, nossos filho, netos e bisnetos que vão ver tudo isso. A destruição do nosso planeta. Só Deus para reverter a tudo. Oremos.
ResponderExcluir