domingo, 22 de junho de 2014




                        Frisson de Copa
  A partir de hoje vamos viver um outro clima, independente das previsões atmosféricas.
   É o clima da Copa do Mundo, que vai durar um mês.
Estamos todos torcendo que não haja tragédias, acidentes nos estádios, problemas com turistas que vieram, e estão chegando de todas as partes do mundo.
  É um frisson, uma agitação, uma inquietação como uma música em ritmo acelerado, que não deixa o cidadão aquietar-se. Mesmo as pessoas mais sossegadas acabam sendo envolvidas por esse clima.
  Os jovens falam mais alto, os de meia idade só falam em futebol, os idosos olham preocupados. A tevê está ligada em todos os ambientes, e é uma falação sem fim, mostrando as seleções que estão chegando. Os repórteres se matam para conseguir furos e dar as notícias em primeira mão.
   Estranho é que tudo gira em torno de uma bola...
  Lógico que também amo meu país e torço por ele, mas não perco a serenidade por causa de uma bola. Continuo sendo a crítica que observa, e analisa tudo que ocorre.
   Então, me preocupa essa agitação toda, porque o país precisa continuar funcionando normalmente. Cada um deve cumprir as tarefas a que está destinado, e deve fazer com o mesmo cuidado de sempre. Já li em algum lugar que, quando um país se deixa levar por comoções muito fortes, os produtos industrializados dessa fase saem todos com defeitos... Peças mal encaixadas, parafusos mal apertados que fazem a asa do avião cair, carros que exigem recall depois de vendidos, são as provas de serviços mal elaborados dessa fase. Porque ninguém é de ferro e quando a emoção toma conta, o indivíduo perde a concentração. E sem concentração o resultado é uma porcaria de serviço. Até donas de casa, atacadas pela febre dos jogos acabam queimando panelas e bolos...
   Mas, é preciso serenidade para realizar todas as tarefas. Só que os meios de comunicação não dão folga, eles fazem chamadas constantes; o telespectador se esquece de tudo e fica abobado, vendo e ouvindo fatos que já foram repetidos até à exaustão. E os jornais e revistas colocam em manchetes, tudo que os torcedores da Seleção canarinho querem ver. Além de, ambulantes que oferecem chapéus, fitas, bandeiras, camisetas e bolões da sorte, que só levam uns trocados de todo mundo... E os carros de som? Agora mais alto que o normal para vencer a concorrência, chega a mil decibéis anunciando produtos encalhados, usando músicas chamativas sobre a Seleção.
   Não é fácil viver nesse clima.
  Nos hospitais, há doentes que precisam de cuidados, nas residências é preciso preparar as refeições, nas fazendas é preciso cuidar das criações, nas escolas alunos precisam estudar, nas fábricas as metas devem ser atingidas, os transportes coletivos devem circular, os políticos e legisladores do país devem cumprir suas agendas, para não extrapolar prazos.
  E tudo isso piora, quando os loucos e desvairados torcedores começam a soltar rojões, para comemorar os gols. Ato mais idiota não existe. Fazer barulho porque o cidadão está feliz? Quem ganha com isso? Só o vendedor desses artefatos do diabo, que causam tremendos sustos nas pessoas, enfartando doentes, despertando bebês e fazendo cachorros urinarem pela casa toda.
  Essa agitação não acontece só na hora do jogo. Acontece o tempo todo, enquanto houver um repórter despejando no ouvido do torcedor fanático, as últimas notícias da Copa. E o torcedor fica hipnotizado e vive num mundo diferente, onde predominam uma bola, umas cores verde/amarelas e, vive dando opiniões sobre as melhores táticas, como se fosse o próprio técnico da Seleção.   Tudo isso deve ser encarado como uma diversão apenas. Não pode ser prioridade para o cidadão comum, que tem que enfrentar o batente todo dia e tem responsabilidades diante da sociedade e da família.
  Mas, alegria é alegria e ninguém pode segurar.
  Então, vamos rezar prá que nada de ruim aconteça e, que todos assumam suas responsabilidades.
  E viva o país que idolatra o futebol!
    
     Mirandópolis, junho de 2014.
     kimie oku - http://cronicasdekimie.blogspot.com.br/
    


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