quarta-feira, 11 de junho de 2014



                      Noites de Inverno
     O Inverno chegou mais cedo.
      Como moramos num país tropical, o calor predomina na maior parte do ano. Então, quando chega essa época do ano é um alívio. Se bem que o Outono é bem mais agradável, com temperaturas mais amenas.
    Se no Verão, todo mundo gosta de praticar esportes, ir à praia, caminhar ao ar livre; no Inverno, as pessoas preferem ficar dormindo, recolhidas num cantinho quente da casa. Parecemos ursos hibernando e aguardando a volta do Sol, com seus raios luminosos alegrando tudo.
     Quando sopram os ventos do sul, e o ar fica gelado, tudo fica mais devagar, até para caminhar fica mais difícil – as juntas parecem travar-se. Mesmo assim, todos se empenham em cumprir suas tarefas, porque viver é preciso.
    Quem mais sofre são as crianças pequenas e os idosos, porque sentem muito frio e, as gripes ficam rondando com os espirros, tosses e febres. É a época dos xaropes, dos antitérmicos, e dos analgésicos...
    Os trabalhadores sofrem bastante nessa época, porque levantar-se de madrugada é penoso demais.
     Mesmo com todos esses problemas, ainda devemos agradecer a Deus, porque em nossa região não ocorrem temperaturas abaixo de zero, como sói acontecer no Sul do país. E nem conhecemos neve.
    E além disso, o Inverno é muito rápido. Quando imaginamos que chegou, logo já nos deixa e os dias ensolarados voltam a predominar. Mesmo em pleno Inverno, às vezes acontecem períodos de Veranico, com temperaturas acima de trinta graus.
  Como o nosso Inverno é muito curto, gosto de aproveitar fazendo coisas que só podemos em dias frios: tomar chás quentes, achocolatados, cappuccinos, vinhos, sopas e caldos variados que caem bem em noites muito frias. Quando era criança, gostava de ficar perto do fogão de lenha, bebericando um chá e comendo pipocas. Hoje infelizmente nem fogão de lenha temos mais. Lareira menos ainda, porque a nossa região é quente.
     Mas, o que mais gosto de fazer nessas tardes e noites frias é tricotar; fazendo gorrinhos de lã, cachecóis e coletes para crianças. Todos os anos, tricoto uma porção de peças para distribuir. Distribuo para as crianças da família, para os filhos dos agregados e envio para o Hospital do Câncer, em Barretos. Às vezes, amigas me oferecem novelos esquecidos de lã no fundo do baú. E eu os transformo em peças quentinhas, que irão agasalhar algumas crianças.
     Sinto uma alegria imensa em trançar um ponto atrás de outro, com a lã macia e quentinha que aquece minhas mãos. Enquanto vou criando a peça, fico imaginando a criança que a vestirá e se sentirá confortável. Sempre digo para as mães a quem ofereço essas peças que, devo ter passado muito frio na infância, pois não aguento ver crianças tremendo nos dias gelados... Éramos em doze irmãos, e nunca havia roupas e sapatos suficientes...
    Lembro também da história de uma senhora japonesa que, no período pós guerra, quando tudo faltava no Japão, ganhou de alguma alma generosa do estrangeiro, um casaco. Ela o usou durante dois anos e, passou depois para sua irmã menor. E se sentiu tão grata, por ter sido aquecida no terrível Inverno do Japão, por esse casaco ganho de alguém que nunca vira, que fez um juramento: um dia faria mil cachecóis para doar. Quando ela foi entrevistada, já havia feito quinhentos e os doara a asilos. E iria chegar aos mil prometidos.
    Acho tão fácil fazer campanhas de agasalho. Basta ter boa vontade e sentir empatia pelo próximo, que sofre com o frio. Se não é capaz de tricotar ou crochetar pode comprar cobertas e doá-las. Todo mundo pode ser solidário com quem sofre. Até pensei em fazer uma sopa quentinha, e distribui-la para crianças e idosos, mas desisti da ideia, por falta de estrutura.
        Bem, mas agora chega de papo furado.
        O tricô me espera.

         Mirandópolis, junho de 2014.
         kimie oku  in


         

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