sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Entrevistar pessoas...

Gosto de entrevistar pessoas.
Pessoas simples do povo que pelejaram todos os dias de sua vida e nunca receberam uma homenagem sequer. Mas, não quero transformá-las em heróis ou modelos de cidadãos. Quero apenas contar suas histórias, tudo que fizeram, que vivenciaram, que aproveitaram, que construíram.
Com esse intuito andei sondando alguns amigos e conhecidos... Uns se sentiram honrados e envergonhados e, alegando que suas vidas não eram excepcionais se recusaram a contá-las... Fiquei decepcionada, porque são belas histórias de labuta, de conquistas e realizações no anonimato. Outros não me deram importância, e simplesmente se negaram... Talvez pensassem que eu teria lucros com a publicação de suas histórias de vida?
Um amigo me disse que aceitaria ser entrevistado quando se transformasse numa pessoa de destaque, de renome. Quando lhe respondi que só entrevistava gente simples do povo, ele concordou, e saiu a linda história de Gerson Possenti, que é uma celebridade aqui.
Outros ainda, se dispõem mas não têm tempo, e vou toureando-os volta e meia para conseguir... Dr. Roberto Yuassa e Dr. Afonso... Ainda vou conseguir, tenho fé!
Já contei dezenas e dezenas de histórias. Desde o vendedor de churrasquinho da esquina, ao último charreteiro, ao último boiadeiro, ao famoso Professor Walter Víctor Sperandio, à senhora Dirce Cury Costa, esposa do célebre Dr. Edgar Raimundo da Costa, um dos grandes construtores de nossa cidade, ao farmacêutico mais antigo, ao barbeiro mais conhecido... Todos, todos cidadãos que com sua arte, seu trabalho e dedicação ajudaram no progresso dessa Mirandópolis.
Gosto demais das histórias de gente do povo. Como começaram suas vidas no campo (a maioria morou na roça e labutou nos cafezais), a  escola que frequentaram,  a descoberta de suas aptidões e a dedicação ao trabalho até se aposentarem. E todas as histórias que contei são muito belas e, servem de exemplo de labor, de persistência e dedicação.
Interessante é que tempos atrás, só eram contadas as histórias de pessoas famosas, que se destacavam em algum campo de atividades. E a televisão brasileira tem o péssimo hábito de apenas contar as biografias de gente que venceu no Cinema, no Futebol, em Show business, na Música... Não se lembram de Professores, que conseguiram realizar coisas grandiosas com jovens que estavam perdidos na vida; com Operários que deram duro, duro na vida e conseguiram estudar meia dúzia de filhos em ótimas Faculdades; de Médicos que nunca faltaram aos plantões e deram sua vida em prol dos enfermos... Pela análise da tevê brasileira, as vidas dessas pessoas não são interessantes. Pensam que não dão IBOPE.
Como gosto de conversar com qualquer pessoa, sempre acabo descobrindo heroísmo na batalha diária de pequenos e anônimos trabalhadores. Que dão duro todos os dias, mesmo com dores nas pernas, nas costas, e apesar do sol inclemente, da chuva fria que gela até os ossos dos catadores de recicláveis... Então, todos são heróis, porque andaram em linha reta para cumprir bem a sua missão, para prover a família com alimentos e outras necessidades, além de deixar o bom exemplo como verdadeira herança. E existem as mulheres provedoras de casa, que ajudaram sempre o chefe no orçamento familiar, entrando com a renda da confecção de bolos, de roupas costuradas para alheios, de faxina em casas de família, de eventuais serviços de garçonetes em festas. Todas também heroínas, porque ajudaram a segurar o casamento e proporcionaram uma vida organizada e confortável para a família. Graças também a elas, os filhos puderam estudar e escolher uma profissão...
Mesmo que viva duzentos anos e conte uma história verdadeira por dia, acredito que nunca vou parar de me surpreender. Há histórias lindíssimas de mulheres, que vieram a esse mundo apenas para cumprir a missão de criar cinco ou seis filhos sozinha... E histórias de filhos tão gratos pelos sacrifícios dos pais para os encaminhar na vida, que se transformaram em modelos de cidadãos da comunidade...
Muitas vezes, nem sabemos das pelejas dos vizinhos do lado, para  encaminhar os filhos, dar-lhes o suporte necessário para iniciarem no mercado de trabalho. Sabe Deus, como suas cabeças estão recheadas de preocupações financeiras, nesses tempos de crise braba. Cada um tem uma história linda que vale a pena ser contada. Todos sem exceção travam os dentes e caminham sempre pra frente, com fé mirando seus objetivos. Força do Ser humano, que não quer desistir nunca.
A nossa sociedade tem o hábito de apenas valorizar gente que venceu e se destacou da massa. Mas, a massa é que faz o mundo girar, que faz o Estado funcionar direitinho, que provê a sociedade com alimentos, remédios, aparelhos, máquinas e livros. Se a massa parar, mil cientistas ou gênios não conseguirão fazer a roda da vida girar, mesmo que seja por um dia apenas. Então, devemos tirar o chapéu para os Josés, as Marias, os Joões e as Aparecidas que garantem que a cidade desperte cedo, que abasteça os lares com alimentos, com remédios, calçados e roupas. E os anônimos Professores que cuidam da Educação para os pais ficarem com a consciência leve. E o médicos incansáveis que cuidam das dores do corpo e da alma...
É verdade que em contraponto, existem os folgados da vida, que se acomodam, que nada fazem além de explorar o outro e comer para viver. E não são poucos. São os mortos vivos da sociedade, que nem sabem a que vieram a este mundo. Exploram os avós, os pais, os filhos, os vizinhos, os cidadãos que passam... E pedem um dinheirinho para passagem para não sei aonde, para comprar o gás para a comida do filhinho que nem sabe onde anda, para comprar um remédio para uma doença que nem tem... E a gente tromba com eles volta e meia, e tem uns bravos, que saem xingando se alguém lhes oferece um pão... E umas espertalhonas que vendem cartelas de bingo para arrecadar dinheiro para si mesmas...
Eu estou cansada de ser ludibriada por gente mal intencionada, que vem com a maior cara de pau choramingar e pedir ajuda... Fico envergonhada de recusar e essas pessoas olham com olho branco... Não trabalham, incomodam quem trabalha, acham que são uns pobres coitados, mas nada fazem para conseguir uma renda própria sem explorar o próximo.
Tenho muita pena dessas pessoas que vivem pela metade, à margem da vida, explorando o próximo e gastando seus dias, seus anos, sua vida na inutilidade. A vida é para ser vivida uma vez só. Nunca soube de alguém que tenha tido oportunidade de retornar e viver de novo. Seria uma experiência e tanto, mas já estamos no ano 2015 e em nenhuma sociedade moderna ocorreu tal fato. A não ser que nós todos estejamos aqui agora, repetindo a vida de outros que não sabemos quem...
De qualquer forma é muito bom viver. E ninguém quer morrer.
Então, por que não viver bem e procurar ser feliz?
E aí, você tem uma bela história pra contar?
Quer ser entrevistado?

Mirandópolis, setembro de 2015.
kimie oku in




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