sexta-feira, 13 de novembro de 2015

     Perdoar é preciso

Uma das coisas mais difíceis nesta vida é perdoar.
Já fui jovem como todo mundo, e fui muito impulsiva, e revidei a todos os ataques que julguei não merecer... Mas, nunca me senti confortável com essas atitudes. O rancor continuava em mim a ferver, toda vez que me deparava com o agressor. Era indomável.
Sofri durante décadas com mágoas guardadas, que me corroíam por dentro. E não conseguia me libertar. E o pior é que fui acumulando mágoas novas sobre as antigas, e o peso delas era demais. Fui ficando azeda, amarga, mal humorada. Sufocava.
Um dia resolvi parar com isso. Percebi que eu mesma estava me matando com um sentimento, que só eu conhecia, e que não interferia na vida de meus ofensores. Eles levavam suas vidas numa boa, completamente ignorantes das raivas que moravam no meu coração. Então, resolvi esquecer as ofensas e as mágoas que eles me causaram. De que jeito? Procurei ignorar essas pessoas, mandando-as todas para uma caixinha de esquecimento. Passei a conviver com elas socialmente, apenas saudando-as. (Sem alegria, é claro! Ainda não cheguei ao patamar de oferecer a outra face, não sou santa, sou dolorosamente humana). Não preciso ser amiga dessas pessoas, pois existem outros amigos bem melhores, e que não me causam dissabores.
E isso me ajudou muito, porque o rancor se dissipou e o coração ficou leve. Hoje cruzo nas ruas com essas pessoas, e rezo para que elas não me magoem mais... E rezo para não me tornar uma delas...
O ódio e o rancor são causas das maiores desgraças neste mundo de Deus. Até as grandes guerras começam com pequenos desentendimentos, que vão crescendo e envolvendo grupos, associações, Estados e Nações. Até as Religiões que dizem conduzir a Deus estão contaminadas com ódios profundos... Como prova, eis as guerras que devastam o mundo atualmente. O mundo contra a Jihad Islâmica e vice versa. E a esteira de inocentes ceifados pelos ódios de ambas as partes... É o lado animal do homem prevalecendo sobre o lado espiritual. E Deus não aprova isso. Até a Igreja já praticou barbáries e barbáries. Basta lembrar os anos obscuros da Inquisição. As pessoas eram queimadas vivas, apenas com uma leve suspeita de feitiçaria. E ninguém tinha defesa diante dos “doutores” da Lei da Santa Igreja. E a gente sabe que há milhares de inocentes enterrados nas masmorras dos milenares mosteiros... A Igreja de Deus condenava e matava inocentes, só para manter o poder sobre a humanidade. A gente chama de Igreja de Deus, mas era Igreja de Homens. Homens sem alma, que se arrogavam direitos que Deus jamais lhes outorgara.
Mas, todo rancor e mágoa tem uma origem. E geralmente a origem é apenas uma palavra mal colocada, mal interpretada, mal absorvida. Se o diálogo acontecesse nesse instante para esclarecer as dúvidas, não haveria consequências... Mas, o diálogo se torna impossível pela radicalização de uma das partes ou de ambas... E aí inicia-se a inimizade. Para sempre.
Aprendi ao longo de minha vida que, não adianta perder tempo em discutir quando o interlocutor se fecha no orgulho ferido, e se acha o dono da verdade. Nessas circunstâncias, bater boca é malhar em ferro frio e perder tempo. Geralmente, a pessoa apela gritando, gritando e ofendendo, o que só tende a magoar mais. Quando isso acontece eu me retiro, sem retrucar, para me preservar.
Já vivi uma situação tão vexatória, mas tão vexatória de uma pessoa me ofendendo aos berros, ao longo de uma viagem, diante de dezenas de companheiros. Nem sei como consegui me manter calada. Tive é verdade, vontade de socar-lhe a boca para se calar, mas rezei para não partir para a ignorância, porque a baixaria seria devastadora... Desventurada mulher, que gritou como louca, para tentar provar que os seus direitos eram superiores aos direitos dos outros. E que eu não tinha direito nenhum. E ela fazia o Curso de Direito! Parece piada, mas ocorreu de fato! Hoje tenho muita pena, por ela ter revelado esse lado feio de sua personalidade. Diante de tantas testemunhas...
As famílias são o reduto onde mais ocorrem esses desencontros, que levam a mágoas profundas, que causam separações definitivas. Isso acontece porque as gerações de pais, de filhos e netos estão em diferentes estágios de vida, onde os mais velhos já aprenderam a relevar, os novos estão a revidar às críticas e os mais novos só sabem reivindicar. Diálogo impossível. Se todos cedessem um pouco, o diálogo seria possível. E o entendimento também. E é nas famílias que se acumulam raivas guardadas ao longo dos tempos. Muitas vezes, evitamos discutir porque o outro não aceita críticas, e vamos carregando um saco de frustrações, tristezas e ressentimentos. Seria tão bom esclarecer os fatos numa conversa franca, sem gritos e sem apelações... Na maioria das vezes, isso é impossível. Os gritos me deixam atordoada.
E no local de trabalho ocorrem todos os dias, confusões geradas por fuxicos e má interpretação de atitudes de outros. E isso é muito triste. Tive um colega de trabalho que, quando escutava alguém tecendo comentários maldosos só dizia: “Olha, o macaco senta-se sobre o próprio rabo e puxa o rabo alheio...” Isso bastava. Todos se calavam e riam e a sessão de fuxico morria aí. Atitude admirável que jamais esquecerei.
Por que o homem interpreta tudo errado?
Primeiro porque quer preservar o seu ego. Ego vaidoso, que acha ser o Detentor da verdade única. E não pensa que toda moeda tem duas faces. Que é preciso olhar a outra face, para entender e conhecer a verdade na íntegra. Mas o orgulho o impede de se posicionar assim.
Segundo, que ele só interpreta como lhe convém. Uma palavra não bem definida pode ser usada como arma contra quem falou, porque é a oportunidade para o fuxiquento plantar suas maldades. E aí ao propagar essas maldades vai tecendo uma teia de mentiras, que depõem contra a pessoa que fez o comentário. E isso se propaga em proporção aritmética num instante. E muitas vezes acabam destruindo pessoas honestas, sobre quem sempre irá pairar uma dúvida... Muito triste.
E em terceiro lugar, porque tem gente que gosta de ser  repórter. Gosta de divulgar novidades, não se importando se são verdadeiras ou não. Até nos serviços de telecomunicação já ocorreram fatos assim. O iniciante na área de comunicação propaga notícias como furos, para se destacar, sem passá-las pelo filtro da verdade. E acabam dando vexames. E acabam perdendo o emprego...
E em quarto lugar, porque as pessoas gostam de derrubar outras que se destacam. Tem um ditado tão popular que diz: “Não é preciso apagar a minha estrela para a sua brilhar!” Quem faz isso é uma pessoa mesquinha, pequena, incapaz de lutar e vencer. Então vai no encalço de companheiros vencedores se mordendo de inveja. E procura derrubá-los. Desventurados perdedores!
Hoje em dia há tantos provérbios que orientam as pessoas para se conterem, para pensarem melhor antes de se manifestarem, mas quem liga para provérbios?
De qualquer forma, vou deixar aqui um provérbio que resume tudo que tentei passar: “Não digas tudo que sabes, não faças tudo que podes, não creias em tudo que ouves, não gastes tudo que tens. Porque quem diz tudo que sabe, quem faz tudo que pode, quem crê em tudo que ouve, quem gasta tudo que tem, muitas vezes diz o que não convém, faz o que não deve, julga o que não vê e gasta o que não pode.”
E vamos seguir o Papa Francisco na sua pregação de fé na humanidade, esquecendo as ofensas e mágoas dos que nos feriram, e praticando a gentileza do perdão todos os dias.

Mirandópolis, outubro de 2015.
kimie oku in

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