Elegia
para uma pomba
Eu
vejo coisas que não gostaria de ver. Porque ver significa sofrer.
Há
uns dois meses mandei podar as árvores de minha casa, uma sibipiruna na calçada
e uma acácia imperial do jardim. Elas ficaram quase peladas de folhas...
E
um casal de pombos resolveu fazer um ninho na acácia. Enquanto a pombinha
ficava botando os ovos, o parceiro carregava galhinhos secos para reforçar o
ninho. E quando chegou a terrível frente fria da semana passada, a pombinha
estava lá firme e forte chocando os ovos... O vento chegava a assobiar, mas ela
ficou lá no relento, desprotegida totalmente. A noite foi tão fria que eu toda
embrulhada em cobertas e mais cobertas não conseguia me aquecer. Pensando na
pombinha. Rezei pro São Francisco de Assis, protetor dos animais para protegê-la... E postei a foto da
valente bichinha no face book. E o amigo
Dinho Resler comentou que os gatos não lhe dariam folga... E eu contestei. Não
havia gatos rondando.
E
de lá pra cá, todos os dias ia vê-la lá no alto, aquecendo os ovos. Eu jogava
migalhas de pão no chão para que seu parceiro as levasse pra ela. De repente,
não mais vi o parceiro. E ficou uma grande dúvida. Morrera de frio? Fora
consumido por algum gato? Desistira da parceira?
Felizmente,
as noites e os dias ficaram mais quentes e o sol voltou a brilhar e a aquecer a
terra e a pombinha.
E
eu pesquisei no Google quantos dias ela teria que ficar de plantão para os
filhotes eclodirem... 18, 19, 21 dias... Pobrezinha! Muito tempo! Fazendo um
regime forçado, sem voar por recantos conhecidos, sem bailar no ar com os
companheiros... sem cruzar os ares, sem poder comer comidinhas preferidas...
Percebi que o exercício de maternidade para uma pomba é um sacrifício sem
tamanho, que os filhotes não vêm pois eles ainda estão no interior dos ovos...
E comecei a respeitar a bichinha e torcer para que tudo corresse bem.
E
foi. Até esta madrugada.
Como
de costume, fui espiar a pombinha. Ela não estava no ninho. Pensei que ela
havia saído um pouquinho para se alimentar. Porque mesmo pomba não é de
ferro...
Qual
não foi minha desolação ao encontrar uma porção de penas no chão! Penas longas
de asas, penas com penugens do peito... Fiquei atordoada! Tanto sacrifício para
no final ser traçada por algum bicho!
Quando
a minha ajudante chegou, contei o ocorrido. Aí ela me disse que após o almoço vira
um gato descendo da árvore... Então fora ele!
Aí
me lembrei do Dinho que me alertara sobre os gatos... Infelizmente, ele tinha
razão. Os gatos ficam espreitando... E a pombinha provavelmente estava dormindo
quando o felino a abocanhou. E com certeza, também consumiu os ovos... Senti
uma pena imensa da bichinha. Mas, nem pude ficar com raiva do gato! Afinal, ele
também deveria estar com fome. E é um felino e carnívoro... E os passarinhos
estão na sua cadeia alimentar. É a lei da natureza.
Entretanto,
ficou um pesar imenso pela pombinha que teve sua vida interrompida
repentinamente, após amargar noites e noites ao relento em defesa de sua
ninhada.
Requiem
para a pombinha!
Mirandópolis,
julho de 2017.
kimie oku in
FIQUEI COM PENA DA AVE, E MESMO CONCORDANDO QUE ELA FAZ PARTE DA CADEIA ALIMENTAR DOS FELINOS SE EU TIVESSE VISTO A CENA TERIA AFUGENTADO O GATO.
ResponderExcluirEu também, Milton!
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