quinta-feira, 13 de julho de 2017

        Festividades
    
    Quando chega o mês de junho, a cidade fica em polvorosa. É festa aqui, é festa ali, outra acolá que não acaba mais.
     É o mês de aniversário da cidade de fato, mas é comemoração demais pro meu gosto.
     Nesse mês tem festa junina, bom odori, futebol, vôlei, desfile, festa do peão, quermesses e outras coisas mais... É um festejar sem fim.
     Eu não sei quem inventou que o aniversário da cidade tem que ser festejado o mês inteiro... Acho um exagero. Que me perdoem as autoridades e comissões organizadoras.
     Ora, sabemos que a Municipalidade está praticamente quebrada e precisa conter os gastos. O povo que trabalha também faz o que pode para garantir o sustento da prole...
     Mas, o que vi até agora sinaliza que as pessoas têm muita grana, muito combustível pra queimar... Carros circularam de forma desenfreada pelas ruas durante os eventos, irritando os moradores com seu som a mil decibéis. Insuportável! É um desfile de carros, de gente feliz, sem nenhuma preocupação, a não ser seguir a onda.
     Sempre que vejo essas manifestações lembro da Expô Agropecuária de Araçatuba. Os adeptos desse evento não perdem um show, se preparam antecipadamente comprando roupas caras condizentes com o clima e com o rodeio...  Chapéus, botas, cintos, bolsas e roupas de vaqueiro... Tudo a caráter, pra não fazer feio... E lá vão ouvir os cantores que vêm sugar o grosso do dinheiro da cidade. Enquanto eles cantam e dão o seu show de milhões, os jovens dançam e cantam felizes por estarem nessa roda...
      É uma festança que não acaba mais. A moçada feliz gasta o que tem e o que não tem, sem pensar nas consequências... É cerveja todas as noites, um lanche aqui, outro ali, um churrasco, um doce... Mês de curtição, de alegria só. Ninguém está preocupado com nada. Com nada.
     Mas, um dia a festa acaba, como vai acabar aqui... E tudo volta à rotina. Então, é preciso trabalhar, porque o saldo do Banco está vermelho... E de repente, chegam as cobranças... As prestações atrasadas... E cadê dinheiro? E como honrar compromissos? E o credor fica irritado porque viu o cliente se divertindo à beça nas festanças, como se fosse o rico do pedaço... Gastando a rodo... Rindo feliz... Mas o credor também tem compromissos... Daí sua irritação.
     No Money, No prestação, No compromisso... A grana foi embora no mês de festas. Agora é preciso renegociar as dívidas, concordar com os juros altos e não fazer cara feia. Afinal, você assinou a fatura. E honra é honra. E Serasa não perdoa ninguém...
     E aí o cidadão fica irritado no serviço, porque sabe que gastou o que não tinha, e o pagamento do mês não vai cobrir as despesas. E fica azedo com a família, com os amigos... Sair? Nem pensar! Churrasco de sempre? Ah! Não vai dar, tenho outro compromisso... Desculpas, desculpas...
     E assim, por meses a fio entra num jejum forçado de festas, de rodas de amigos... Até conseguir nivelar a conta no azul... Para isso pagou juros altíssimos que corroeram suas finanças... E o deixaram mais ou menos quebrado.
     Enquanto isso, as duplas que vieram fazer o show estão felizes, montados em grana gorda e de olho em outros festejos... Minaram as finanças de mais uma cidade e estão mirando o calendário de aniversários de outras cidades... Felizes porque faturaram alto e estão ficando famosos...
     Mas, na cidade, os comerciantes estão de bolsos vazios, mal humorados porque muitos clientes não podem pagar as faturas vencidas... E eles têm que pagar aos fornecedores... E a conta ficará no vermelho... E esse comércio que não anda! E essa crise que não vai embora! E esse governo que só rouba! A cidade está exaurida... E nenhuma perspectiva boa à vista.
     E os meses que seguem são um tempo apertado, todos andando na corda bamba por falta de um troço chamado dinheiro. Que sumiu do pedaço...
     E isso leva meses e meses para recuperar.
     E o Natal vem chegando. E com ele o 13º.
     E contando com ele, o consumismo volta.
     Fazer o quê? Dinheiro é pra gastar!
     E assim, a carruagem vai andando.
     Capengando às vezes, descarrilhando outras, travando as rodas... Parando muitas e muitas vezes, procurando atalhos... E desembestando outras vezes ladeira abaixo...
     E novamente vem o novo ano.
     E com ele todos os vícios do ano anterior.
     E tudo ocorre igualzinho ao ano que passou.
    Novamente as festas. Novamente os gastos. Novamente a conta negativa. Novamente a ameaça da Serasa...
     E assim, a vida vai.
     Todo mundo pobre, porque não sabe se conter.
     Brasileiro é feliz por viver em corda bamba.
     Nunca vai se acostumar a viver frugalmente.
     Mirandópolis, junho de 2017.
     kimie oku in

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